Opinião

A coragem de encarar o elefante

Madalena Cordeiro Dias Almeida, Customer Service Manager na Corticeira Amorim

Ao longo da vida, aprendi que fechar os olhos ao evidente é uma armadilha perigosa. Há quem prefira a conveniência do silêncio, o conforto morno da indiferença. Não julgo. Mas, perdoem-me a franqueza, nunca soube pactuar com esse comodismo disfarçado de prudência.

A verdade tem o estranho hábito de se impor — cedo ou tarde — e, quando chega, cobra juros pesados àqueles que fingiram não a ver.
No universo profissional, o famigerado “elefante na sala” não é apenas uma metáfora elegante. É uma realidade que se arrasta pelos corredores das empresas, espreita em reuniões e instala-se, silencioso, nos e-mails trocados ao fim do dia. Quem nunca presenciou um projeto com destino anunciado ao fracasso que, ainda assim, prossegue porque ninguém ousa levantar a mão? Ou aquelas reuniões infindáveis em que se debate tudo, menos o essencial? E o que dizer das métricas ajustadas com a habilidade de quem transforma números em contos de fadas? Tudo para alimentar a ilusão de que se avança, quando, na verdade, se patina no mesmo lugar.

Confesso que me inquieta ver lideranças incapazes a serem protegidas sob o pretexto da estabilidade organizacional. A estabilidade, não pode ser sinónimo de imobilismo. Quando as equipas acatam ordens absurdas em nome da paz aparente, sacrificamos a inovação no altar do conformismo. E isso, acreditem, custa caro: desmotiva talentos, perde oportunidades e, mais grave, mina a alma das organizações.

Há, ainda, o otimismo tóxico — essa praga moderna que exige sorrisos ininterruptos e transforma críticas construtivas em afrontas pessoais. Aplaude-se o medíocre, silencia-se o questionador. Tudo em nome de uma harmonia postiça que, no fundo, não engana ninguém. Porque, convenhamos, de que serve um ambiente de trabalho repleto de “positividade” se, por baixo da superfície, se acumulam ressentimentos e frustrações não ditas?

Encarar o elefante exige coragem. Implica desconforto, diálogos difíceis, olhares reprovadores. Mas também traz consigo a integridade de quem prefere a honestidade ao fingimento. Sim, é mais fácil ser parte da plateia que assiste, passiva, ao teatro do “está tudo bem”. Mas, e quando a cortina cai? Quando a realidade se impõe — como sempre acontece — não será melhor estar entre os que nunca deixaram de ver?

Escolho, por princípio e convicção, ser aquela que pergunta, que desafia, que inquieta. Porque o respeito, por nós e pelos outros, constrói-se também com verdades ditas a tempo. E, no final do dia, dormir em paz com a própria consciência vale mais do que qualquer silêncio confortável.


Madalena Cordeiro Dias Almeida é apaixonada por palavras e pelas histórias que elas contam. Com experiência na área de Customer Service, valoriza a comunicação clara, empática e eficaz. Orgulhosamente mãe de quatro filhos, concilia a maternidade com a escrita e a partilha de experiências nos projetos @mum.for4 e @saudavelmentelouca, onde aborda, com honestidade e humor, a loucura dos dias em família e reflexões sobre os desafios e encantos da vida.

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