Opinião
O impacto da cultura empresarial na saúde mental

Num momento em que tanto se fala sobre a importância da saúde mental dos colaboradores nas empresas, torna-se fundamental perceber que fatores mais influenciam o seu bem-estar.
Na minha função de Head of People na consultora tecnológica em que trabalho, acredito que uma cultura empresarial que reconheça os diferentes tipos de pressões a que os colaboradores estão sujeitos pode ajudar a mitigar os riscos para a saúde mental e aumentar a satisfação e produtividade das nossas pessoas. Adicionalmente, existem várias ações que, enquanto equipa de gestão, devemos introduzir na cultura empresarial e que terão também um impacto muito positivo.
Um dos primeiros fatores determinantes nas empresas é o incentivo à comunicação aberta, ao respeito mútuo e à resolução construtiva de conflitos. Desta forma, as pessoas vão sentir-se seguras para serem elas próprias, facilitando o pedido de ajuda e apoio, quando necessário, sem receio de estigmatização. Realço o lema de “não levar nada a peito”, ou seja, receber feedback de forma aberta, encarando-o como algo relativo ao comportamento e não à pessoa, e sendo um convite de melhoria do comportamento. Também procuramos uma cultura de feedback recorrente, por exemplo, através da implementação de modelos de acompanhamento, com reuniões individuais (os chamados one-on-one) entre managers e colaboradores. Desta forma, é possível ouvi-los na primeira pessoa e conhecer as suas inquietações, com vista a solucioná-las, gerando maiores níveis de compromisso e de satisfação.
Outro dos fatores que acredito ser determinante é a promoção de um equilíbrio saudável entre a vida profissional e pessoal. Horários de trabalho flexíveis e autonomia na gestão das responsabilidades, pessoais e profissionais, são medidas que beneficiam os colaboradores e a empresa. A implantação de trabalho remoto e de trabalho assíncrono, também. A experiência mostra-me que estes modelos são determinantes no conjunto de benefícios oferecidos por uma empresa.
É difícil ter uma cultura empresarial saudável sem uma liderança empática e inclusiva, promotora de um ambiente de trabalho seguro e solidário. Os líderes podem ser um exemplo poderoso, dando prioridade à sua saúde mental e bem-estar, assumindo comportamentos saudáveis e promovendo uma cultura organizacional positiva. Pelo contrário, se sou líder e peço aos meus colaboradores para trabalhar fora de horas, coloco stress em tudo o que fazem, e no final do dia o que lhes dou é um concentrado de todos os comportamentos que não devem ocorrer, o que estou à espera que aconteça? Como cientificamente demonstrado pelo psicólogo e professor Albert Bandura, comportamento gera comportamento e os meus colaboradores vão reproduzir os meus comportamentos e contribuir para a expansão deste ambiente tóxico. Assim, enquanto líder, devo gerar comportamentos positivos que sejam o exemplo da cultura organizacional que quero promover.
O incentivo ao desenvolvimento profissional e ao crescimento pessoal é outro fator que contribui para o aumento da motivação, da autoestima e do sentido de propósito. Os planos de carreira devem ser desenhados com base no feedback dos colaboradores e respetivos managers – quem melhor do que os próprios para indicar o que lhes faz falta? Se um plano não promove o crescimento e evolução de nenhum colaborador, o que vai acontecer? Em vez de contribuirmos para aumentar a motivação, corremos o risco de estar a ir na direção contrária.
Por último, é importante ter uma cultura de reconhecimento e gratidão. Através de iniciativas que promovam a expressão da gratidão, as pessoas-alvo das mesmas sentem-se bem por estarem a ser reconhecidas e gera-se uma cultura em que é simples e natural ser grato pelo que de bom se faz pelas pessoas, dentro da empresa. A saúde mental e o bem-estar aumentam a satisfação no trabalho e estimulam a motivação e a produtividade, promovendo a melhoria contínua. Tomando o exemplo da empresa em que trabalho, a implementação das iniciativas que refiro têm gerado um feedback extremamente positivo, refletindo-se numa taxa de retenção significativamente maior e numa redução expressiva dos custos associados à contratação e ao onboarding de novos colaboradores. Ao investirmos no bem-estar das nossas pessoas, estamos, na verdade, a investir no sucesso e na sustentabilidade do nosso negócio, assegurando que a empresa se mantenha competitiva, inovadora e capaz de atrair os melhores profissionais do mercado.
*Head of People da KWAN (empresa portuguesa especializada em outsourcing e nearshoring de perfis tecnológicos)
Nota: Texto escrito ao abrigo do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990 em vigor desde 2009.