Entrevista/ Herdade da Amada, o novo projeto vitivinícola que nasceu no coração do Alentejo pelas mãos dos primos Marvanejo

Luís Marvanejo e Helena Marvanejo de Carvalho, administradores da Herdade da Amada

A Herdade da Amada, em Elvas, é o novo projeto do grupo Marvanejo. Luís Marvanejo e Helena Marvanejo de Carvalho são o rosto desta nova aposta no coração do Alentejo. Ao Link to Leaders lembram que “em Portugal não é fácil ser-se empreendedor e o setor vitivinícola não foge à regra”.

Em 2018, a família Marvanejo adquiriu a Herdade da Amada que conta com 14 hectares de terroir, localizada em Elvas. Começou, assim, um novo desafio para esta família há muito ligada  à atividade empresarial  ligada ao retalho. Os primos Luís Marvanejo e Helena Marvanejo de Carvalho são o rosto deste projeto familiar na área do vinho, ambicioso q.b. para ultrapassar os desafios inerentes à atividade empreendedora. “Existem demasiadas burocracias, além dos apoios serem francamente baixos, mas no nosso caso a paixão falou mais alto e não são as dificuldades que nos fazem desistir quando o querer é mais forte!”, explicam. Aliás, não hesitam em afirmar que querem “fazer parte de um “novo” Alentejo, mais fresco, mineral e singular”.

Os mentores deste novo projeto vitivinícola lembram que “somos efetivamente um país “boutique” no mundo dos vinhos”, mas defendem que “o setor terá, em conjunto, de tentar encontrar um caminho comum, criar valor e diferenciação, um caminho dos próprios projetos, em prol da “marca” Portugal para que a mesma atinja cada vez mais credibilidade, valorização e notoriedade”.

Como surgiu a ideia de criar a Herdade da Amada?
Luís Marvanejo (L.M.): Por detrás deste vinho reside, acima de tudo, um sonho. O sonho de fazer bem e fazer diferente.
Helena Marvanejo de Carvalho (H.M.C.): O Luís desafiou-me a ser jovem agricultora e a criarmos em conjunto um projeto de vida. Não é fácil para dois jovens sem experiência na viticultura e na vinificação abraçar um desafio assim, mas claramente a paixão pelo mundo dos vinhos falou mais alto.

Qual o conceito da marca?
H.M.C.: Sabíamos que pretendíamos fazer vinhos diferentes, com um perfil diferente do que existe no Alentejo, numa visão clara de elegância e frescura, vivacidade e autenticidade. Não sendo o “dizer que queríamos” suficiente, teríamos efetivamente de fazer algo diferente!  Achamos que o principal passa pelo campo e pelas uvas. Por isso, a Herdade da Amada caracteriza-se por ter um dos maiores terroirs da Península Ibérica com vinhas plantadas pelo método tradicional de enxertia tudo feito de uma só vez. Primeiro plantámos os bacelos barbados e, só no ano seguinte, enxertámos as 56 mil plantas, após uma seleção maçal minuciosa, com base em vinhas antigas de base genética policlonal, previamente identificadas e de provas dadas.

L.M.: Uma vinha singular, única, onde cada casta aqui plantada foi criteriosamente selecionada por nós e todas as varas (castas) escolhidas onde as poderíamos ir recolher consoante o nosso gosto e a adaptabilidade ao terroir da região.

H.M.C.: A viticultura da Herdade da Amada segue o princípio da intervenção estritamente necessária, uma viticultura que respeita a natureza das castas e do seu terroir. Este tipo de viticultura tem como base a prevenção aliada a uma forte monitorização e acompanhamento.

Como caracteriza o tipo de vinho que produzem? O que os distingue?
L.M.:
Aquilo que distingue este projeto começa pela raiz, literalmente. Todo o mindset, desde o início, teve o foco principal no campo e na vinha, na certeza de que essa diferenciação se iria sentir um dia no copo. Os vinhos serão o espelho da leveza e modernidade que acreditamos traduzir um novo Alentejo.

Que área de vinha têm e qual a produção anual?
H.M.C.:
A Herdade da Amada conta 14 hectares de terroir.  Ainda não atingimos a produção de cruzeiro, pois estamos a formar a vinha, mas o que pretendemos é qualidade e não quantidade e, no máximo, não vamos passar dos 6000 kgs por ha.

Como tem sido a adesão?
L.M.:
A adesão do vinho Herdade da Amada Branco 2022 tem sido ótima. Os feedbacks, acima de tudo, têm a ver com a frescura; o que não parece um branco do Alentejo, um dos nossos principais objetivos e que nos deixa bastante motivados a continuar. Estamos, neste momento, a esgotar o stock do 2022…

Qual será a aposta da Herdade da Amada para este ano?
L.M.:
A aposta da Herdade da Amada, para este ano, é termos uma gama mais alargada para podermos, junto da nossa rede de parceiros comerciais, completar a gama e alargar a distribuição da Herdade da Amada, com uma gama mais completa.

Têm previstos novos lançamentos para breve? O que podemos esperar?
H.M.C.: Este ano vamos lançar Herdade da Amada Tinto 2022 em março, o Herdade da Amada Branco 2023, três monocastas (Touriga Nacional, Alicante Bouchet e Syrah) e Herdade da Amada Reserva Branco e Tinto no final do ano.

Quando é que descobriu a sua paixão pela produção de vinho?
L.M.: Somos a terceira geração de uma empresa familiar grossista (Armazéns Marvanejo) que se dedica à venda de inúmeros produtos da fileira alimentar, desde os vinhos, aos destilados, passando pelas carnes de porco preto Patanegra. O vinho vem como uma paixão desde bastante cedo. Ao ter acesso a tantos vinhos e provando quase diariamente o que se faz no nosso país, sabíamos claramente o perfil de vinhos que mais se encaixava nos nossos gostos e o que pretendíamos para os nossos.

“Em Portugal não é fácil ser-se empreendedor e o setor vitivinícola não foge à regra”

É fácil ser-se empreendedor no setor vitivinícola em Portugal?
H.M.C.: Em Portugal não é fácil ser-se empreendedor e o setor vitivinícola não foge à regra…. Existem demasiadas burocracias, além dos apoios serem francamente baixos, mas no nosso caso a paixão falou mais alto e não são as dificuldades que nos fazem desistir quando o querer é mais forte!

Como encara atualmente o setor do vinho em Portugal?
L.M.:
O setor do vinho em Portugal, tendo em conta a nossa dimensão, é extraordinariamente competitivo. Porém, seremos certamente um dos países com maior diversidade de terroirs em tão pouca área, e também por isso um país riquíssimo ao nível da autenticidade das suas castas e dos seus perfis de vinho. Apesar de toda a competitividade, a relação qualidade/preço em Portugal é elevadíssima.

E quais os problemas e desafios que o setor enfrenta em Portugal?
H.M.C.:
Diria que o setor terá, em conjunto, de tentar encontrar um caminho comum, criar valor e diferenciação, um caminho dos próprios projetos, em prol da “marca” Portugal, para que a mesma atinja cada vez mais credibilidade, valorização e notoriedade. Somos efetivamente um país “boutique” no mundo dos vinhos e é necessário que se encontre esse equilíbrio, difícil, mas que será certamente preponderante no futuro do setor, no país, e no seu posicionamento internacional.

“Queremos fazer parte de um “novo” Alentejo, mais fresco, mineral e singular”.

Qual o contributo que pretende deixar para a cultura portuguesa do vinho?
L.M.:
Ser, acima de tudo, um projeto de convicções próprias vincadas, que possa dar alento a todos os que acreditam na diferenciação e na autenticidade, principalmente enquanto mindset. Não procuramos os “chavões” da rotulagem nem as certificações que não forem alinhadas com a nossa forma de estar, pensar e ser. Queremos fazer parte de um “novo” Alentejo, mais fresco, mineral e singular.

Se pudesse dar um conselho aos produtores portugueses, qual seria?
L.M:
Acreditar que na diferenciação e na história de cada projeto residem fatores únicos para os valorizar.

O que podemos esperar da Herdade da Amada no futuro?
L.M/H.M.C.:
Consistência, ousadia e qualidade.

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