Opinião

Uma liderança comprometida com a sustentabilidade

Maria João Vaz, Head of Sustainability Services da Mazars

A sustentabilidade instalou-se definitivamente na agenda da liderança corporativa. Esta é uma dimensão compreendida como uma das forças-motrizes da transformação empresarial atual, e são cada vez mais as organizações a assumir compromissos públicos para cumprir metas relacionadas com este tema.

Mas passar dos objetivos – e das palavras – à ação ainda é um desafio. O recente Barómetro C-Suite da Mazars revelava que uma das prioridades estratégicas para os próximos três a cinco anos está numa abordagem de sustentabilidade nova ou revista. Mais de dois terços dos líderes (68%) planeia investir em iniciativas de sustentabilidade, reafirmando a importância do ESG (Environnmental, Social and Governance) na agenda.

A mensagem principal do barómetro é que as questões ESG ainda procuram o seu “espaço”, mas a evolução é notória. As empresas que ainda estão nos estágios iniciais de sua jornada devem começar a entender quais os tópicos que têm mais impacto nos seus negócios e definir planos. A pressão sobre os líderes para endereçar a temática da sustentabilidade aumentou nos últimos anos.

Face a expetativas generalizadas sobre questões ESG, os modelos de negócio precisam de evoluir para integrar a criação de valor a longo-prazo. E esta não é apenas uma preocupação para grandes empresas. Todos os negócios serão alvo de escrutínio acrescido sobre a sua resposta à sustentabilidade.

Para continuar a ser bem-sucedida, ter um impacto significativo no mercado e influenciar positivamente a perceção do público, exige-se que uma empresa apresente provas tangíveis de uma estratégia de sustentabilidade coerente, da sua implementação ativa e o reporte de resultados que evidenciem a sua progressão.

O percurso para uma empresa mais sustentável obriga a mudanças operacionais e alterações significativas de mentalidade e cultura. Exige, sobretudo, uma liderança empenhada, bem informada e uma execução planeada para que a sustentabilidade seja integrada numa estratégia de negócio mais ampla. É que, para além de ser um imperativo na vida das empresas, potencia novas oportunidades. Pode ajudar a melhorar a resiliência corporativa, criar valor para clientes e contribuir para um ecossistema saudável e um mercado mais robusto.

Às lideranças exige-se um tratamento sólido da temática. Uma abordagem que permita desenhar planos claros e implementar padrões e processos mais sofisticados, rumo a empresas mais competitivas. Mais do que complemento, exercício de conformidade ou iniciativa de marketing, a sustentabilidade surge como vantagem competitiva, estratégica e diferenciadora.

Aos líderes poderá faltar uma visão completa do que é a sustentabilidade, sendo, por isso, necessário contextualizar o seu significado para a empresa, evitando empolar aspetos políticos e concentrar o foco nos benefícios para a organização e no contributo para o seu desempenho financeiro e operacional.

No sentido de assegurar a motivação e compromisso da liderança, é fundamental apresentar dados confiáveis e relevantes e utilizar argumentos alinhados com objetivos de negócio. Além disso, compreender as expetativas dos líderes e integrar a sua visão para a organização são aspetos essenciais para obter o apoio necessário a esta transformação.

O tema adquire, assim, maior probabilidade de obter uma aprovação entre os decisores e, consequentemente, contar com os recursos para alcançar as metas propostas, assegurando uma diferença positiva tanto para a empresa como para a comunidade como um todo.

A sustentabilidade não é um elemento alheado do negócio; está a mudar a forma como as empresas “fazem negócio”. O investimento inicial na área promete retornos – em formatos tangíveis e intangíveis –, mas embora possam existir ganhos rápidos, importa contar com uma liderança que reconheça que o verdadeiro benefício consiste em preparar a empresa para um futuro mais sustentável e resiliente.

 


Maria João Vaz conta com mais de 20 anos de experiência em consultoria na área da sustentabilidade. Foi Managing Partner e cofundadora da Stravillia, tendo sido responsável por diferentes áreas técnicas na empresa e coordenação de diversos projetos de sustentabilidade, nas áreas de estratégia, reporting & assurance, auditorias ambientais e sociais, implementação de ODS e outros projetos transversais ao nível da gestão dos fatores ESG. Integrou ainda empresas como a BSD Consulting, PricewaterhouseCoopers e a Sair da Casca, tendo experiência como formadora e no desenvolvimento de diversas ações de formação. É formada em Engenharia do Ambiente, pela FCT-NOVA.

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