Como melhorar a vida nas cidades através do olhar de uma criança

Realidade virtual ajuda projetistas a ver as cidades através do ponto de vista de uma criança de três anos. Niterói, no Brasil, já conta com um espaço que segue este modelo.
VR95 é o nome de uma nova experiência de realidade virtual que transporta os utilizadores para um mundo que as pessoas costumam ignorar e que nada tem a ver com fantasia. O VR95, como o próprio nome indica, faz com que consigam ver a cidade através do olhar de quem tem apenas 95 centímetros, ou seja, a altura média de uma criança de três anos de idade.
O VR95 faz parte de um esforço para fazer com que os líderes, designers e arquitetos de ambientes urbanos pensem com mais cuidado sobre como o mundo que construímos é usado e vivenciado pelas crianças, explica a Fast Company.
“Basicamente, quando se é criança, só se vê carros e tráfego, ruído e poluição em todos os lugares”, descreve Sara Candiracci, da empresa global de design, engenharia e planeamento Arup, que participou no desenvolvimento da nova ferramenta.
Através do olhar de uma criança, as calçadas podem ser mais largas, podem existir pequenos parques, mais espaços verdes podem ser plantados e a velocidade dos carros pode ser reduzida.
Como surgiu esta ideia? Depois de contactarem com grupos comunitários em diversas cidades pelo mundo, a Arup e a Bernard van Leer Foundation desenvolveram o Proximity of Care Design Guide, que descreve maneiras eficazes e económicas de projetar e construir espaços urbanos para melhor responder às necessidade das grávidas, crianças e dos cuidadores.
Os grupos participaram num programa de formação e identificaram formas para uma arquitetura mais adequada para crianças e que poderão resolver desafios ou problemas cidades. Três dessas organizações receberam subsídios para implementar as suas ideias.
Projeto piloto no Chile, no Brasil e no Uruguai
Em Valdivia, no Chile, uma avenida com várias escolas e tráfego muito intenso tornou-se mais segura para as crianças, graças ao aumento das calçadas, à elevação das faixas para pedestres e ao redirecionamento de camiões.
Numa favela de Jurujuba, em Niterói, no Rio de Janeiro, uma praça pública foi redesenhada para se tornar num espaço onde as mães podem amamentar com segurança e conforto. E em Montevidéu, no Uruguai, foram instalados equipamentos lúdicos multissensoriais e sinalizadores de orientação para garantir a acessibilidade de crianças surdas.
“A partir do momento em que as construtoras embarcarem na nossa ideia e começarem a usar o guia para melhorar a experiência das comunidades, isso vai trazer benefícios sociais, mas também para elas próprias, que vão conseguir cumprir os seus compromissos ESG [ambiente, social e governança corporativa]”, sugere Sara Candiracci.