Trabalhar em open space: sim ou não?

Trabalhar num open space é cada vez mais comum. Se, por um lado, a ideia parece interessante, por outro, poderá não ser totalmente um mar de rosas, levando algumas empresas a voltar às quatro paredes. Saiba porquê.
Foram muitas as empresas que adotaram o regime de open space para os seus espaços de trabalho. Só nos EUA são cerca de 80% os escritórios que aplicam este conceito. E, até agora, foram poucos os que voltaram às tradicionais paredes e portas.
Contudo, novos estudos indicam que, quando trabalhamos em espaços comuns, tendemos a ser 15% menos produtivos, temos muito mais dificuldade em nos concentrarmos e existe uma probabilidade duas vezes maior de adoecermos. Apesar de o conceito de open space estar longe da extinção, já são algumas as empresas a voltarem aos espaços privados de trabalho.
Quanto mais foco melhor
Uma das principais razões que leva muitas empresas a preferir espaços com quatro paredes prende-se com o facto de este tipo de conceito potenciar o foco. A verdade é que não temos o dom da multi-tarefa e todas as distrações, até a mais ínfima, podem desfocar-nos por períodos que se podem estender até 20 minutos.
Alguns modelos de open spaces podem, inclusivamente, ter um impacto negativo na memória. É o caso do chamado “hotdesking”, uma versão ainda mais radical do conceito em que as pessoas se podem sentar onde quiserem no espaço do escritório, transportando o seu equipamento e ferramentas de trabalho para onde mais lhes apetecer.
“Contudo, se nos sentarmos sempre no mesmo lugar, conseguimos reter mais informação”, afirma à BBC Sally Augustin, psicóloga ambiental e do design do La Grange Park, em Illinois. “Isto pode não ser muito óbvio no nosso dia a dia mas descarregamos as nossas memórias, sobretudo os pequenos detalhes, nos nossos espaços circundantes”, acrescenta.
Não colaboramos como pensamos
Para a grande maioria dos trabalhadores, o elemento mais perturbador é o barulho. Um grupo de investigadores da Universidade de Sidney concluiu que cerca de 50% das pessoas que trabalhavam num espaço completamente aberto mostraram-se insatisfeitas com a sua privacidade sonora. Apenas 16% das pessoas com salas privadas partilhavam da mesma opinião.
Para além de um custo mais baixo, um dos argumentos a favor do open space está relacionado com o trabalho em equipa. Contudo, está mais que provado que raramente partilhamos ideias brilhantes para o ar. Pelo contrário, é mais provável que fiquemos a saber o presente que o nosso colega vai comprar ao filho no Natal ou os problemas conjugais da pessoa na secretária ao lado.
“As pessoas falam mais entre si, mas não necessariamente de assuntos de trabalho,” explica Augustin, referindo que “se se encontra num open space, a equipa reúne-se na sala de reuniões para fazer um brainstorming. Continua a ser uma ação que requer algum nível de planeamento e privacidade. O nosso melhor trabalho acontece quando estamos totalmente focados”.
Encontrar o equilíbrio
As empresas que ainda não estão preparadas para abandonar definitivamente o conceito de trabalho em open space, estão a experimentar a utilização de salas e espaços fechados para algumas funções que requerem foco, tais como escrita, programação informática ou planeamento financeiro.
O problema que isto levanta é que alguns líderes não se sentem confortáveis em deixar a sua equipa por conta própria, o que é particularmente verdade em ambientes com muita pressão. “Muitos até associam o facto de se moverem para uma sala isolada a um sinal de fraqueza”, refere Augustin.
Outras empresas estão a construir espaços para alojar equipas mais pequenas. As pessoas continuam a poder colaborar entre si, mas ficam protegidas do barulho provocado por outras equipas com quem não necessitam de trabalhar diretamente.
As más notícias para os que não se sentem confortáveis nos seus open spaces é que esta realidade não vai desaparecer tão depressa, apesar de cada vez mais estudos apontarem para o contrário.