Entrevista/ “Temos um compromisso com a democratização da inteligência artificial”

Ivo Bernardo, cofundador e partner da DareData

Ivo Bernardo, cofundador e partner da DareData na qual a NOS tem uma participação de 20%, fala ao Link to Leaders da importância das soluções integradas de IA nos processos de gestão e de produtividade das empresas, e do produto estrela da tecnológica portuguesa, o GenOS.

A DareData Engineering é uma empresa portuguesa especializada no desenvolvimento de infraestruturas de dados e projetos com base em Inteligência Artificial (IA) generativa e machine learning. Fundada em 2019 e liderada por Nuno Brás, Ivo Bernardo e Rui Figueiredo, conta com mais de 50 engenheiros e cientistas de dados e está presente em países como Estados Unidos, Brasil, Espanha, França, Grécia, Noruega ou Austrália. Opera em vários setores, incluindo na indústria farmacêutica, telecomunicações, banca, logística e energia.

No ano passado, a Nos adquiriu uma participação de 20% na DareData Engineering, para a criação de uma nova vaga de produtos de IA, um processo que, segundo Ivo Bernardo, “marcou um ponto de viragem na empresa”.

Atualmente, a tecnológica está focada no desenvolvimento do produto GenOS, que tem como objetivo tornar-se num standard na gestão de agentes de IA dentro das empresas. No futuro, “o plano é consolidar a presença no mercado norte-americano e explorar novas oportunidades, nomeadamente no Reino Unido”, revela o responsável.

Como surgiu a ideia de criar a DareData?

A DareData surgiu da necessidade de integrar duas áreas que, tradicionalmente, estavam separadas no mercado europeu: Machine Learning e Engenharia de Software. O problema que existia era que, apesar do enorme potencial dos modelos de machine learning, muitas empresas não conseguiam extrair valor real deles porque a sua implementação era feita de forma desorganizada e pouco integrada nos sistemas das empresas. Havia uma grande influência do meio académico, mas faltava uma abordagem mais prática e orientada para o negócio.

Assim, a DareData nasceu com o propósito de garantir que esses sistemas de IA não fossem apenas protótipos teóricos. O objetivo foi criar soluções aplicáveis e eficazes no ambiente corporativo, onde a missão de colocar as soluções ao serviço das equipas das empresas reina. A nossa missão sempre foi facilitar esta transição para as empresas, ajudando-as a adotar inteligência artificial de uma maneira que realmente otimizasse os seus processos e aumentasse a sua eficiência operacional .

“O principal diferencial da DareData reside na capacidade de unir expertise em engenharia de software com conhecimento profundo em IA (…)”.

Qual o vosso propósito e diferencial?

O principal diferencial da DareData reside na capacidade de unir expertise em engenharia de software com conhecimento profundo em IA, permitindo a entrega de soluções que realmente fazem diferença para os clientes. Além dessa vertente técnica, temos um compromisso com a democratização da inteligência artificial, acreditando que qualquer empresa, independentemente do setor ou dimensão, deve ter a capacidade de dominar os seus dados e utilizá-los da melhor forma possível.

Muitas empresas tecnológicas concentram esse poder, tornando-se gigantes no setor, mas a DareData pretende distribuir esse conhecimento e tornar acessível o uso de IA para otimizar cadeias de valor e tornar as organizações mais competitivas. Esse equilíbrio entre o domínio técnico e a aplicação prática no mundo dos negócios tem sido um dos seus grandes trunfos.

A NOS anunciou no ano passado a compra de 20% da DareData Engineering. O que mudou depois desta parceria?

A entrada da NOS como acionista, adquirindo 20% da DareData Engineering, marcou um ponto de viragem na empresa. Até esse momento, a DareData atuava essencialmente como uma consultora, oferecendo serviços customizados e desenvolvendo soluções específicas para cada cliente, conforme as suas necessidades. No entanto, com um parceiro como a NOS, surgiu a oportunidade de transformar o negócio, tornando-o mais voltado para o desenvolvimento de produtos escaláveis, em particular no campo da inteligência artificial generativa.

O mercado de IA evolui rapidamente e a parceria com a NOS permitiu-nos expandir a nossa capacidade de inovação e testar os seus produtos de forma mais estruturada dentro de um ecossistema real. Continuamos como uma empresa de serviços e consultoria, mas agora com um departamento de produto que utiliza a expertise que entregamos na área da consultoria, produtizando-a para a chegar a mais clientes, de forma mais rápida e eficiente.

E em que fase da parceria se encontram?

Atualmente, a DareData está a desenvolver um produto inovador dentro da NOS, utilizando a sua estrutura como plataforma de testes antes de levar a solução para outros clientes enterprise. Esse alinhamento estratégico é fundamental, pois a NOS não é apenas um investidor, mas também um parceiro chave na construção e validação das nossas soluções tecnológicas.

“Em muitas empresas, ainda se adota um modelo de controlo e presentismo, o que não corresponde às expectativas dos profissionais de tecnologia (…)”.

A Inteligência Artificial é identificada como a área com “mais carência de talento” em Portugal. Por que é que a captação e retenção de talentos é um desafio crescente no nosso país, especialmente no setor das tecnologias de informação?

Existem dois fatores que dificultam a retenção de talento em IA em Portugal. O primeiro é a cultura de trabalho, que ainda é muito tradicional e pouco flexível. Em muitas empresas, ainda se adota um modelo de controlo e presentismo, o que não corresponde às expectativas dos profissionais de tecnologia, que estão habituados a ambientes de trabalho mais autónomos e colaborativos. O segundo fator é a carga fiscal elevada, que torna muito mais atrativo para os profissionais trabalharem remotamente para empresas estrangeiras. Muitos conseguem ganhar salários significativamente mais altos sem precisar de sair do país, o que representa um desafio para as empresas nacionais que querem manter esses talentos .

A DareData sente esta dificuldade?

Não. A DareData consegue atrair e reter talento porque oferece uma cultura de trabalho diferenciadora, baseada na responsabilidade individual, crescimento técnico e profissional, e ainda salários competitivos para garantir que os seus colaboradores se sintam valorizados .

Como pode a IA ser usada para aumentar a produtividade, sem necessariamente substituir postos de trabalho?

A inteligência artificial pode ser aplicada de várias formas para aumentar a produtividade sem substituir diretamente os postos de trabalho. De um lado, há os sistemas de automação, que eliminam tarefas repetitivas e permitem que os colaboradores foquem a sua atenção em funções de maior valor. Um exemplo são os contratos e relatórios que, anteriormente, exigiam um trabalho manual exaustivo, mas que agora podem ser analisados por IA, permitindo que os profissionais se dediquem a tarefas estratégicas.

Depois, há a camada de assistência, onde a IA age como um copiloto para ajudar os trabalhadores a desempenharem as suas funções de maneira mais eficiente. Esta abordagem não elimina postos de trabalho, mas transforma o modo como as pessoas trabalham, permitindo-lhes ser mais produtivas e eficazes nas suas atividades diárias .

“(…) não concordo que exista o recurso a IA para o recrutamento de um colaborador”.

Quais os conselhos que dá ás empresas que recorrem à IA para recrutar?

Neste caso, não tenho conselhos a dar, pois não concordo que exista o recurso a IA para o recrutamento de um colaborador.

Como preparar os mais jovens para a literacia em IA? Qual o papel da academia?

A literacia em IA deve começar desde cedo e a academia tem um papel fundamental. Em vez de evitar ou proibir o uso de ferramentas como o ChatGPT ou o Gemini, as universidades e escolas deveriam ensinar os alunos a utilizá-las corretamente, como uma forma de potenciar a aprendizagem e o desenvolvimento crítico .

Além da presença em território nacional, têm vindo a ampliar a vossa presença global, desenvolvendo projetos e soluções de inteligência artificial em vários países. Qual o país mais representativo em termos de faturação para a empresa?

Além de Portugal, o maior mercado da DareData em termos de faturação são os Estados Unidos, onde as soluções de IA têm uma adoção mais rápida e um mercado mais maduro.

“O plano é consolidar a presença no mercado norte-americano e explorar novas oportunidades, nomeadamente no Reino Unido”.

Qual a vossa estratégia de expansão para este ano?

A empresa está focada no desenvolvimento do produto GenOS, que tem o objetivo de se tornar um standard na gestão de agentes de IA dentro das empresas. O plano é consolidar a presença no mercado norte-americano e explorar novas oportunidades, nomeadamente no Reino Unido .

Em 2024 tinham a meta de faturar cinco milhões de euros. Alcançaram? E qual a previsão para este ano?

Não alcançamos porque decidimos focar-nos no produto GenOS em vez de expandir o negócio de consultoria. A previsão para este ano ainda não está totalmente fechada, mas a estratégia mantém-se centrada na consolidação do produto .

Projetos para o futuro da DareData…

O principal projeto da DareData é consolidar o GenOS como uma solução essencial para empresas que utilizam inteligência artificial. O objetivo do GenOS é atuar como uma plataforma que permite às empresas gerir de forma eficiente os seus agentes de IA, garantindo que operam de maneira integrada e transparente .

Respostas rápidas:
Maior risco: A aposta no GenoS, assumindo que as empresas enterprise não vão querer construir os seus próprios sistemas de IA .
Maior erro: A tentativa de investir no mercado de outsourcing em 2023 .
Maior lição: A capacidade de orientar ação rapidamente sem dogmas .
Maior conquista: Ter sido escolhida pela NOS como principal parceiro de IA .

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