Opinião
Quando o silêncio é teu

Há um momento em que o barulho das reuniões, das ideias, das urgências e das opiniões se cala. E ficas tu, diante das tuas próprias decisões. É o instante em que percebes que, por mais que partilhes, delegues ou oiças, há sempre uma parte da liderança que ninguém pode viver por ti.
Sim, ganhas com equipas — e só com boas equipas. Sim, ganhas com pessoas chave. Boas pessoas. São elas que dão forma às tuas ideias, que te contrariam, e bem, mas sobretudo que te completam. No fim, quando tudo parece resolvido, sobra sempre um resto que é só teu: a responsabilidade. É esse o peso invisível que distingue quem lidera de quem te acompanha.
A solidão da liderança não é ausência de pessoas. Nem tão pouco de equipas. É a ausência de partilha do absolutamente essencial. Podes estar rodeado de talento, mas há decisões que não se explicam, há dúvidas que não se verbalizam, há medos que não se confessam. É o preço de estar à frente.
O curioso é que ninguém te fala disto quando te dizem que tens perfil de líder. Ou te incentivam a avançar. Falam-te da visão, da estratégia, da motivação, da comunicação — mas não te avisam que há dias em que vais olhar à volta e perceber que o apoio dos outros não apaga a solidão que vem com a liderança.
Essa solidão, se a souberes escutar, não é tua inimiga. É o espaço onde aprendes a decidir com calma, a ganhar distância do ruído, a perceber o que importa realmente. É nela que se depura o ego, e se gere para desaparecer em prol dos resultados. É dessa solidão que nasce, também, a clareza. E até a tua libertação, se souberes usar essa clareza, que te dará melhores hipóteses de fazeres melhor e conseguires mais resultados.
Liderar é saber ficar nesse espaço sem te perderes. Sim, é preciso ser claro, sem te perderes no vazio. É continuares a ouvir a tua equipa e, mesmo assim, assumires o risco de discordar. É agradecer o apoio e, mesmo assim, carregares o peso da última palavra. É, no fundo, aceitar que o topo é um lugar sem companhia. Mas totalmente cheio de responsabilidade.
E é também aí que se revela a grandeza. Não na multidão, mas na serenidade de quem sabe que o silêncio é parte do ofício.
No final, a solidão da liderança não é um castigo — é o sinal de que chegaste a um ponto onde poucos chegam. Onde a força não se mede, nunca, pelo número de vozes que te aplaudem (isso pouco ou nada interessa), mas pela tua capacidade de continuares a caminhar, mesmo quando ninguém te acompanha e/ou até te criticam (isso sim, é também saber o que queres e liderar).