Entrevista/ “Sou impulsionadora de mudança de quem quer, verdadeiramente, mudar”

Sandra Oliveira, especialista em transformação de processos de negócio

Reestruturar, transformar e otimizar clínicas e consultórios é o trabalho de Sandra Oliveira, gestora especialista em transformação e melhoria de processos de negócio. Assume uma abordagem prática, muito para além de uma consultoria tradicional, ajudando a identificar e a resolver problemas. Ao Link To Leaders explicou como apoia as empresas e como o atual período de pandemia pode ser o momento certo para implementar algumas mudanças.

Habituada a receber de braços abertos todos os desafios e oportunidades, Sandra Oliveira é uma mulher do Norte que deixou para trás um percurso profissional que passou pelo setor têxtil, no Vale do Ave, para se instalar em Lisboa e assumir a sua faceta de empreendedora. Agora identifica problemas e oportunidades de melhoria para garantir que os seus clientes estão organizados e preparados para o futuro.
Assume como missão reestruturar, padronizar, otimizar e monitorizar todos os processos do negócio dos clientes para, assim, aumentar a sua eficiência, produtividade e performance. Em entrevista ao Link To Leaders fala da atividade que desenvolve e da forma como o seu trabalho pode ajudar a transformar os negócios das empresas.

De que forma ajuda as empresas nos processos de reestruturação, implementação e otimização?
Neste momento a minha atuação está focada em clínicas e consultórios. Eu resolvo um dos maiores desafios dos médicos, ou profissionais da saúde, proprietários destas unidades de saúde: a dualidade entre a gestão da clínica e/ou consultório e o seu papel como médico.
São vários os motivos que levam os médicos a decidir gerir as suas clínicas. Este tipo de gestão fragiliza a estrutura da clínica e dificulta qualquer ação de crescimento, pois ao não ser profissionalizada, acaba por ser uma gestão dia a dia, ausente de uma estrutura apoiada em ferramentas e princípios de gestão.
O que acontece é que o médico proprietário e administrador da clínica está muitas vezes convicto de que é a única solução. Mas não é! Eu preparo, transformo e ensino-lhe a gerir a sua clínica, devolvendo-lhe o papel de médico.

Os meus programas assentam na melhoria e organização de processos com o objetivo de os tornar adequados, ágeis, claros e eficientes. Mas não é só. Implemento e otimizo tecnologias acompanhadas de gestão de conhecimento, definição de procedimentos, fluxos e processos internos, padronizações e instruções de trabalho, respeitando sempre as especificidades da clínica e a sua cultura. O resultado é organização, produtividade, performance, satisfação global, dados de qualidade para a tomada de decisão e uma gestão simplificada.

A minha abordagem é prática e pragmática, no terreno e muito além de uma consultoria tradicional. Transformo e impacto positivamente as pessoas envolvidas no negócio. Acredito e preparo a organização para que cada um tenha o seu papel, assuma o seu controlo através de boas e certas regras que fazem toda a diferença numa gestão bem-sucedida. Trabalho, lado a lado com as pessoas, transmitindo de forma clara e verdadeira os passos a dar hoje e no futuro. Não pretendo, de todo, que o meu trabalho termine no processo de consultoria, faço questão de preparar e formar as pessoas de toda a equipa para garantir a sustentabilidade e serem capazes, de forma autónoma, de dar continuidade ao processo e melhorá-lo.

A minha forma de trabalhar baseia-se na filosofia de melhoria contínua (Lean), que, de uma forma simples se pode resumir numa frase: “Amanhã melhor que hoje”, atuando em três pilares fundamentais para o sucesso: Propósito, Processos e Pessoas. O sucesso é simples!

“Na maioria das vezes o maior entrave à mudança é mesmo o proprietário pela sua forma de liderar (ou não) e pela cultura que permite e alimenta”.

Qual o tipo de empresas que mais a procura?
Atuo em clínicas e consultórios, qualquer que seja a especialidade, de pequena e média dimensão. O que mais procuro nos meus clientes é vontade, disponibilidade e compromisso no processo de mudança. Não basta dizer que quer mudar, tem mesmo que fazer parte de mudança.

Numa única conversa são vários os sinais que consigo identificar, se aquela organização está ou não pronta para a mudança e quais serão os desafios. Na maioria das vezes o maior entrave à mudança é mesmo o proprietário pela sua forma de liderar (ou não) e pela cultura que permite e alimenta.

Gosto de desafios, faço tudo pelos meus clientes. Sou do “fazer”, mas não levo às costas uma mudança sozinha. Já o fiz e devo dizer que, para além de ser muito desgastante, é muito frustrante, não resulta. Não o faço! Sou impulsionadora de mudança de quem quer, verdadeiramente, mudar.

Estou presente lado a lado com quem executa, com clientes que querem mudar, que estão dispostos a fazê-lo, que estão disponíveis e criam condições para que as transformações aconteçam. Não quero desculpas, não quero “se” e “mas”. Pretendo e inspiro para a ação, determinação, comprometimento e vontade de fazer diferente. É fundamental a existência de espírito de equipa, entreajuda, sentido crítico, flexibilidade, capacidade de aceitar erros e seguir em frente.

Quais têm sido os seus principais desafios como gestora/empreendedora neste novo contexto?
Esta pandemia deu origem a uma crise e, como em todas as crises, os níveis de incerteza aumentam conduzindo a uma diminuição do investimento. O sentimento que existe é que não será o melhor momento para um processo de transformação.

“Este é o melhor momento para iniciar um processo de transformação, seja ele qual for, e são vários os motivos”.

Quais têm sido os seus principais desafios como gestora/empreendedora neste novo contexto?
Este é o melhor momento para iniciar um processo de transformação, seja ele qual for, e são vários os motivos. Ora vejamos: a equipa está mais disponível tendo em conta que o fluxo de clientes diminuiu, logo mais disponível para novas aprendizagens, implementar novos processos, novas tecnologias ou mesmo apenas a otimização das existentes e padronização e melhoria dos processos.

É o momento certo para tirar da gaveta as mudanças tão desejadas. É o momento de parar para pensar e fortalecer a oferta aos clientes. É o momento de se preparar, pois quanto mais organizada e estruturada estiver a clínica mais sucesso terá.

O ano 2020 trouxe muitos desafios, contudo o ano 2021 não será diferente. Por isso não há plano B, a palavra de ordem é adaptação e quanto mais ágil, eficiente e produtivo for, melhor. A diferença está no valor que entregará ao seu cliente. É tempo de sermos diferentes, fazermos diferente e marcar a diferença. É tempo de simplificar e agir. A gestão tradicional já não é suficiente. É preciso ir além do expetável.

 “Nunca, em tão pouco tempo se conseguiu dar um passo tão grande, por exemplo, a nível tecnológico. Estamos a falar de alterações alcançadas em dias/semanas, coisa que era impensável antes da pandemia”.

A pandemia implicou grandes mudanças no ambiente laboral – mais teletrabalho, mais digitalização, mudanças constantes. Quais as principais aprendizagens que fez a este nível durante este período?
A pandemia coincidiu com o momento da construção da minha marca. Como as clínicas foram obrigadas a fechar, também o processo parou. Durante esse período pude observar uma transformação, a vários níveis. Quem é um impulsionador de mudança, sabe, perfeitamente, o quanto os processos de mudança são, ou podem ser, processos com muita resistência. Devo dizer que é muito desgastante, para além do processo em si, motivar e gerir as resistências à mudança. Na minha opinião, o insucesso de uma implementação está, diretamente ligado ao nível de resistência das pessoas.

O que aconteceu neste período foi completamente diferente. Aliás, foi o que, a meu ver, deveria ser a abertura e compromisso em qualquer implementação. O que se viu é que: sim, é possível mudar e implementar mudanças, estruturais, em pouco tempo, com sucesso, com sustentabilidade e continuidade. Ou seja, tudo o que defendo e sempre defendi, é que os processos de mudança não precisam de ser dolorosos, podem ser ágeis, sustentados e bem-sucedidos, comprovou-se a vários níveis. Nunca, em tão pouco tempo se conseguiu dar um passo tão grande, por exemplo, a nível tecnológico. Estamos a falar de alterações alcançadas em dias/semanas, coisa que era impensável antes da pandemia.

Por isso, a maior aprendizagem é que basta haver um motivo muito forte para se alcançar, com sucesso, grandes mudanças. Cabe-me a mim, continuar a ser condutora e impulsionadora de mudanças, criando este sentido de urgência nos clientes e colaboradores de forma a que estejam sempre preparados para o presente e futuro. Afinal, o futuro é hoje e o presente é agora!

Qual o impacto que a pandemia teve no vosso negócio e como reagiu?
O aparecimento da pandemia coincidiu com o processo de definição da minha abordagem ao mercado. Eu tinha saído de uma organização e decidido empreender. É um pouco controverso dizer isto, mas na verdade a pandemia veio na hora certa! Eu precisava do tempo que a pandemia me deu para pensar, para me reestruturar, para estudar o mercado, para trabalhar a minha marca. O tempo que a pandemia me deu foi precioso para a minha entrada no mercado. A sensação que tive é que me estava a ser dado um “bónus” enquanto o mundo abrandava e chegou a parar, eu avançava no meu negócio, preparando-me para entrar no mercado com uma oferta diferenciadora, e sobretudo, autêntica e que me fosse a “minha cara”.

Procurei alguém da área da marca pessoal para me ajudar no processo, a Vera Medronho, da Powerful Brands Agency, trabalhamos afincadamente durante todo o confinamento de 2020 para que até final do ano a marca fosse lançada. Por isso, vejo a pandemia, nomeadamente o confinamento de 2020, como uma oportunidade de me direcionar e fortalecer.

O que a levou aos 28 anos, e após 10 anos de trabalho numa empresa têxtil no Vale do Ave, a rumar a Lisboa?
A vida é feita de escolhas, eu escolhi o amor! Nunca me tinha passado pela cabeça, morar em Lisboa, mas como a vida dá muitas voltas, aceitei esse facto com a maior das naturalidades, de forma simples e descomplexada. Trabalhava há 10 anos numa empresa, estava casada há uns anos, tinha projetos a dois, no Norte. Um certo dia surgiu uma oportunidade, única, de progressão de carreira para o meu marido. Não tive qualquer dúvida de que o caminho era rumar a Lisboa. Naquele momento tive a certeza. Despedi-me, comuniquei à minha família e, embora com medo, abracei este novo ciclo como algo bom e uma oportunidade.

A incerteza, o desconhecido, o medo transformou-se numa vontade enorme de viver, de usufruir, de experimentar de crescer, de estudar. O meu marido é o meu pilar, o meu companheiro desta viagem. Aquele companheiro que para além de nunca adormecer no banco me dá sempre a mão e me incentiva a fazer o meu caminho. Foi ele que me deu apoio e me incentivou a ir para a universidade.

A Universidade trouxe-me a sede de conhecimento que desconhecia. Vivi estes anos de forma intensa (como não poderia ser de outra forma) com um sentimento de gratidão enorme por estar a viver o sonho que tinha colocado de parte aos 18 anos. Vir para Lisboa foi, e continua a ser, um momento marcante na minha vida. Pelos desafios, pelas dificuldades, pela coragem, pela ousadia, mas sobretudo pelas oportunidades e vivencias que esta cidade me proporcionou e me permitiu viver.

“O melhor de ser empreendedor é mesmo o bem-estar e equilíbrio emocional. O sentimento de utilidade e contribuição para o sucesso dos clientes”.

É fácil ser-se empreendedora nos dias de hoje?
Nada fácil, muito desafiante, mas muito gratificante. O maior desafio é o trabalho solitário. É preciso ter foco, ter disciplina e muita persistência. Um sucesso ou conquista tem por detrás muitos fracassos. Fracassos, que nos diminuem a motivação, mas que no dia seguinte temos de voltar a encontrar. Para quem gosta de trabalhar rodeado de pessoas, esta é a pior parte, por isso é importante nos rodearmos de pessoas que nos tragam valor e nos ajudem nos momentos menos bons.

Ser empreendedor, torna-se ainda mais desafiante quando somos ousados e nos colocamos neste perfil saindo de uma situação “segura”, estável e confortável, abdicando de uma função ou carreira promissora e dita de “sucesso”, como foi o meu caso. O “peso” desta decisão é grande, pelo menos para mim foi. É como se tivesse que provar, talvez apenas a mim, e isso fez com que tivesse muito medo de falhar.

Foram muitos os momentos em que tive vontade de desistir, em que tive dúvidas e em que me senti perdida. Tive que trabalhar em mim para me libertar deste medo que me estava a limitar. Não sei se é o que sentem todos os empreendedores, mas foi uma situação difícil de conviver e ultrapassar. O medo existe, mas a coragem, determinação e ousadia que fazem parte de mim saíram vitoriosas.

Ser empreendedora tem vantagens e desvantagens, não se pode negar. O que faz com que todos os dias pense que tomei a decisão certa, é, para além da liberdade de horários, poder escolher os meus clientes e os trabalhos que aceito. Por outro lado, o tipo de trabalho que faço é muito dinâmico e tenho de estar, constantemente, à procura de soluções para os clientes, o ideal para quem gosta de desafios e defende a melhoria contínua.

O melhor de ser empreendedor é mesmo o bem-estar e equilíbrio emocional. O sentimento de utilidade e contribuição para o sucesso dos clientes. O sentimento de superação dá vontade de continuar e voltar a passar tudo de novo se assim for necessário. Ainda bem que a curiosidade e vontade de seguir em frente foi sempre maior que o medo do desconhecido.

O que gostaria de fazer no futuro?
Enquanto houver estrada vou seguir em frente! Quando penso no futuro, penso no que quero ser muito mais do que quero fazer. Nós não somos o que fazemos, somos o que somos, sentimos … vivemos. Estou convicta que o meu futuro será sempre uma soma das minhas (tantas) experiências, vivências, sentimentos, momentos, pessoas… Espero continuar a ser positiva, a ver o mundo de uma forma descomplicada, a ter discernimento para o que verdadeiramente importa. Aceitar as dificuldades e desafios como parte do caminho sempre com a esperança que o dia de amanhã será sempre melhor. Continuarei a abrir os baços à vida respondendo-lhe com as minhas escolhas. Escolhas que me levem à realização pessoal. A vida é uma bênção, por isso vou sempre continuar a somar (felicidade)!

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