Opinião

Prosperidade corporativa não é uma fórmula do Excel

Rute Santos, Executive Director da IT People Innovation

O período de fim de um ano e início de outro é sempre marcado pelos inevitáveis balanços, gestão de expetativas passadas e futuras e o planeamento do que aí vem. Mas tão importante como planear é não esquecer os princípios fundamentais que o devem orientar e dirigir o sucesso de qualquer empresa no contexto económico atual.

Já passou a era em que a preparação e planeamento do novo ano era uma tarefa executada em exclusividade com spreasheets e fórmulas financeiras. Atualmente, existem vários outros princípios que as empresas devem considerar e planear com igual cuidado e pormenor.

De facto, empresas que alcançam sucesso e reconhecimento duradouros são aquelas que veem além do bottom-line imediato, conduzindo esforços para que as suas prioridades sejam crescentemente humanizadas e inclusivas. Por isso, na hora de ponderar e planear importa não esquecer os princípios que devem orientar esses trabalhos.

O primeiro, e mais óbvio de todos, é manter presentes aqueles que são os valores e missão da empresa assim como o seu enquadramento na sociedade. Seguir a sua bússola de valores é essencial para uma empresa pois mantém acesa a sua identidade e relevante a sua missão. Li recentemente algo que dizia “no business is an island”, adaptando a frase popular e poema de John Donne, “No man is an island” ao contexto corporativo. E realmente, esta é uma transposição interessante.

Nenhuma empresa vive ou prospera isolada daquilo que a rodeia e por isso, é crucial para as empresas considerar, desde os níveis mais elevados de decisão, as formas como pode contribuir com impacto positivo junto de instituições sociais e ambientais. Isto é principalmente relevante quando reflete um esforço de auscultar e realizar ações importantes para o público interno da empresa, que cada vez mais valoriza esta consciência e esforço por parte da empresa.

O segundo e terceiro princípios são complementares. Falo da aceitação da mudança e o incentivo à diversidade. E porque considero que estes elementos vão de mão em mão? Porque a diversidade é o motor-matriz da mudança e inovação nas empresas. São necessárias diferentes ideias, forças, interesses e culturas para alcançar o sucesso e por isso é vital encorajar a discussão e o debate de ideias. É deste debate e discussão de novas ideias que provirão as sugestões de mudança. É uma questão de sobrevivência para as empresas saber ouvir, aceitar e integrar estas propostas de mudança. E fazê-lo com sucesso é chave para a perenidade e sucesso de qualquer empresa. Quanto a estruturas e processos, rigidez está out e flexibilidade está in.

Por último, e talvez o mais importante, é prioritário manter o espírito de inovação ativo, assim como uma vivida visão do futuro que se pretende alcançar, especialmente no momento de planear. É absolutamente decisivo que as empresas não se limitem pelas vicissitudes da atualidade ou, como já referido, pela pressão do bottom-line, é preciso ter a visão para projetar a empresa do presente e para o futuro, simultaneamente.

É verdade que o “caminho se constrói caminhando” e isto é particularmente verdade nas empresas. A visão que temos para o papel que a empresa vai desempenhar futuramente não é algo que acontece do dia para noite, como resultado de um ano com resultados estonteantes. Isto é algo que vai acontecendo, com mudanças incrementais, de investimento de recursos financeiros, e não só, no sentido de estabelecer práticas responsáveis e humanas junto dos seus colaboradores e da própria sociedade.

E porque é que considero tão importante humanizar e responsabilizar a ação das empresas? Porque a prosperidade não é feita exclusivamente de resultados financeiros positivos.

Os sinónimos mais próximos da palavra prosperidade são a felicidade e a plenitude. A prosperidade, especialmente a nível corporativo, é composta em partes iguais por solidez financeira, uma bússola de valores presente e pessoas felizes com as suas condições, que se reveem na atuação da empresa.

Estes elementos estão tão profundamente interligados entre si que qualquer situação em que qualquer um deles prevaleça demais sobre os restantes não é, por certo, um sinal de saúde empresarial e sustentabilidade de crescimento.

É este o tipo de prosperidade que as empresas de agora, e que pretendem ser as empresas do futuro, devem perseguir. Infelizmente, não há uma fórmula no Excel para esta prosperidade, muito menos que inclua todos estes parâmetros. É por isto, que este equilíbrio, conjugando tantos fatores tão fundamentais para o sucesso, representa um dos maiores desafios que os administradores enfrentam para o ano de 2020 e seguramente para os próximos anos.


Licenciada em Engenharia Eletrotécnica e Computadores, e com uma pós-graduação, assim como várias formações, no campo das Ciências Empresariais, Rute Santos é atualmente Executive Director da IT People Innovation. Já com mais de 12 anos de carreira no setor de IT, lidera as áreas de negócio estratégicas da IT People Innovation. Outsourcing, nearshore, projetos chave-na-mão de IT e gestão de talento são o foco principal e as ferramentas de eleição, a motivação da sua equipa e a fomentação de uma cultura positiva de resultados e acompanhamento.

Escutar, compreender e resolver é um dos lemas que norteia o seu estilo de gestão, primeiramente humanizado. Proximidade com a equipa, e com suas necessidades, a par do cumprimento de objetivos e estipulação de novas e maiores ambições para o negócio, criam o balanço perfeito para uma estratégia de sucesso.

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