Entrevista/ “O principal mercado das exportações na União Europeia é Portugal”

Antonio Valls, CEO da Alimentaria Exhibitions

Decorreu esta semana na Feira Internacional de Lisboa a Alimentaria & Horexpo, a maior plataforma de negócios nos setores da alimentação, distribuição e hotelaria em Portugal.

O espaço de 22 mil metros quadrados dedicados aos negócios e networking, que contou com a presença de cerca de 800 expositores, antecipa a próxima edição da Alimentaria, uma das maiores plataformas comerciais internacionais na indústria da alimentação, bebidas e foodservice que irá decorrer em Barcelona em abril de 2018.

Neste próximo evento Portugal estará representado por cerca de 50 empresas nacionais e por aproximadamente mil profissionais.

Antonio Valls, o CEO da Alimentaria Exhibitions, conversou com o Link to Leaders sobre a presença portuguesa no mercado alimentar espanhol.

Qual o impacto de Portugal enquanto comprador e vendedor de produtos a Espanha?
As relações comerciais entre Espanha e Portugal são muito significativas. Portugal é um dos principais parceiros comerciais de Espanha e vice-versa. Esta relação advém de uma certa afinidade cultural, gastronómica e de produto e, por outra muito clara, devido à sua proximidade geográfica, estando ambos na Península Ibérica. Estamos a falar de uns 45 milhões de habitantes em Espanha e de outros 10 a 11 em Portugal, sensivelmente. Digamos que o mercado do Sul é sempre um mercado Ibérico, onde é possível que as zonas com mais exportação com Portugal sejam a Galiza, a Estremadura e a Andaluzia, mas é o que os valores mostram. As exportações espanholas para o mercado português representam um volume de 25 mil milhões no total de exportações de Espanha para todo o mundo. [Do total] 60% são exportações para a União Europeia, em que cerca de 14,8% são destinadas a Portugal, um valor muito significativo, pois o principal mercado das exportações na União Europeia é Portugal.

A restauração tem um peso considerável no consumo fora de casa?
Sem dúvida. Diria que há duas formas de consumir, dois canais para o consumidor: um é a compra na grande distribuição organizada e o pequeno comércio e especializado, etc., produto fresco e de qualidade e o que consome em casa ou através da restauração. A restauração tem um peso muito grande no consumo fora de casa, que em épocas de crise se reflete nos níveis do consumo inferiores fora de casa. Mas é uma das formas em que através da cozinha se chega ao consumidor com diferentes tipos de produto, uns mais visíveis que outros. O vinho tem uma visibilidade muito clara, inclusivamente o próprio azeite, algumas conservas e marcas presentes na restauração. Já outros produtos não são tão visíveis, mas têm um volume importante pela importância que têm na gastronomia e na restauração de Portugal.

Publicámos recentemente um artigo sobre start-ups ligadas ao turismo e uma das criticas negativas feitas por estas empresas ao setor da restauração e da hotelaria é o facto de ser um setor muito conservador. Concorda com esta ideia?
Creio que em Portugal a restauração é muito fragmentada, tem diferentes tipologias. Portugal tem grandes chefes e uma gastronomia reconhecida internacionalmente, pelo que não diria ser exatamente conservadora. O que se passa é que também não representa o volume de todos os pontos que existem na inter-restauração. Dos 260 mil pontos de venda do canal horeca da restauração, em Espanha os de alto nível representam 1500, pois em Portugal os números andam à volta dos 200 ou 300 – estes de certeza que não são conservadores. Poderão ser chamados de clássicos ou de cozinha bem elaborada que usam produtos da cozinha regional, talvez em alguns aspetos não sejam tão vanguardistas como noutros países. Mas no final quem manda é um pouco o consumidor, porque numa cozinha levada a uma extrema inovação ou extremamente vanguardista ou futurista perdes de vista essa matéria prima que a torna tão diferente.

Uma das sugestões destas start-ups prende-se com a criação de experiências únicas e que fujam ao mainstream. Esta tendência é passada para este setor?
Creio que criar experiências únicas, atrair também outro tipo de consumidores é benéfico. O consumidor procura experiências únicas que contribuem para a  componente do prazer que procuramos na comida. Às vezes não se trata da comida, mas de toda a experiência que no geral temos à volta de uma mesa, pelo que concordo naturalmente que devemos criar experiências e surpreender o consumidor!

Qual é a principal diferença entre o setor da restauração português e o espanhol?
Possivelmente a criatividade.

Em que sentido?
A cozinha espanhola é claramente mais atrevida do que a portuguesa, daí que se diga ser um pouco mais conservadora, não? Mas sim, a cozinha espanhola sempre foi muito mais vanguardista, pelo que grandes cozinheiros como o Ferran Adrià, como o El Bulli, que já foi considerado o cozinheiro número um no mundo durante muito tempo, o próprio Joan Roca, com o Roca, que já esteve no Top 10 melhores restaurantes no mundo e onde se mantém até hoje. Carme Ruscalleda – esta catalã é a mulher no mundo com mais estrelas Michelin – diz que os cozinheiros de renome têm sido muito mais criativos na sua cozinha e sabido melhorar as refeições.

O que encontramos de mais inovador na Alimentaria?
Não digo tanto inovador, que a tendência aqui não é essa, mas um dos ingredientes mais procurados são os alimentos granulados na cozinha, mas que também é inovador.

Qual é o balanço que faz da Alimentaria em Portugal?
Creio que a Alimentaria Lisboa tem este ano em termos de dimensão praticamente a mesma que teve em 2015. Aumentou o número de empresas, onde temos uma aposta para perceber como poderá evoluir. Ainda sem o balanço do segundo dia, estamos muito satisfeitos com a procura e a oferta existente e com os cerca de 80 compradores internacionais que vieram ao programa Hosted Buyers. O país está também economicamente a melhorar em alguns aspetos. Há portanto uma recuperação na procura interna e quando a economia melhora também as feiras refletem esta melhoria.

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