Entrevista/ “Portugal tem beneficiado da sua posição na União Europeia para atrair empresas brasileiras”
“A relação da CCILB com empreendedores e start-ups é de grande importância e interesse estratégico. A câmara apoia o desenvolvimento de start-ups através de serviços de mentoria e consultoria, programas de aceleração e facilitação de networking com investidores, temos associados especializados nessa abordagem”, revela Otacílio Soares, presidente da associação.
A Câmara de Comércio e Indústria Luso – Brasileira (CCILB) celebrou na semana passada “Os Melhores de 2023” com a entrega do prémio “Aproxima Portugal – Brasil”, em Lisboa, um reconhecimento que premeia a ação de personalidades impulsionadoras da cooperação Luso-Brasieira em categorias como o empreendedorismo feminino, cultura & educação, responsabilidade social & ambiental ou diplomacia e relações internacionais.
Em entrevista ao Link to Leaders, Otacílio Soares, presidente da CCILB, fala dos prémios, da atividade da associação que, desde 1948, procura criar sinergias que contribuam para a cooperação e os estreitamento de laços entre Portugal e o Brasil, e das iniciativas para o futuro que incluem o lançamento de programas de aceleração para start-ups.
A Câmara de Comércio e Indústria Luso – Brasileira celebrou recentemente “Os Melhores de 2023” com a entrega do prémio “Aproxima Portugal – Brasil”, em Lisboa. Qual é o objetivo destes prémios?
O objetivo dos “Os Melhores de 2023” do prémio “Aproxima Portugal – Brasil” é reconhecer e valorizar as empresas, personalidades e instituições que contribuíram de maneira significativa para o fortalecimento das relações comerciais, culturais e económicas entre Portugal e Brasil ao longo do ano. Este prémio é uma forma de destacar as iniciativas que têm promovido a cooperação bilateral e reforçado os laços históricos entre os dois países.
Estado de Minas Gerais, Jorge de Melo (Sovena), Zeferino Ferreira Costa (Instituto Pernambuco), Rijarda Aristóteles (Clube Mulheres de Negócios em Língua Portuguesa), Nuno Guedes Vaz Pires (blue Travel, Gula e Revista de Vinhos), Paula Amorim (Galp), Francisco Gomes Neto (OGMA Grupo Embraer), Jorge Rebelo de Almeida (Vila Galé), Rubens Menin (Menin Estates), Miguel Setas (Grupo CCR), Luís Faro Ramos e Raimundo Carreiro (Embaixadores de Portugal no Brasil e do Brasil em Portugal, respetivamente) e Marco Stefanini (Grupo Stefanini) foram as 12 personalidades agraciadas pela atividade que desenvolveram em 2023.
Que novidades podemos esperar destes prémios no futuro?
No futuro, podemos esperar algumas novidades nos prémios “Aproxima”, como a expansão das categorias para incluir setores emergentes como tecnologia, sustentabilidade e inovação social, refletindo as novas áreas de cooperação entre Portugal e Brasil. Além disso, poderá haver um maior envolvimento internacional, integrando participantes de outros países de língua portuguesa ou parceiros estratégicos. Eventos paralelos, como conferências e workshops, podem ser organizados para facilitar o networking, e as futuras edições dos prémios podem dar maior ênfase à inovação e à sustentabilidade, além de focar jovens talentos e novas empresas. O uso de plataformas digitais para votações populares e transmissões ao vivo também pode ser uma inovação, aumentando o engagment do público.
“Temos uma ligação histórica e cultural profunda, que facilita a colaboração em diversas áreas, e o crescimento das relações comerciais é um bom indicativo do potencial que temos”.
Como vê atualmente as relações entre Portugal e o Brasil? Com otimismo? O que mais o preocupa?
Atualmente, vejo as relações entre Portugal e Brasil com otimismo, embora haja desafios que precisam de ser superados para fortalecer essa parceria. Temos uma ligação histórica e cultural profunda, que facilita a colaboração em diversas áreas, e o crescimento das relações comerciais é um bom indicativo do potencial que temos. No entanto, preocupam-me a instabilidade política e económica, especialmente no Brasil, além dos desafios regulatórios e burocráticos que ainda precisam de ser enfrentados. A globalização e a competição internacional também colocam pressão nas relações entre Portugal e o Brasil, mas acredito que, com estratégias eficazes, podemos continuar a construir uma parceria forte e resiliente.
Quais os desafios que se colocam hoje em dia ao estreitamento de laços entre Portugal e o Brasil?
Os desafios para o estreitamento de laços entre Portugal e Brasil incluem, principalmente, a instabilidade política e económica, que pode gerar insegurança entre investidores e dificultar parcerias de longo prazo. As diferenças culturais e de gestão também podem criar desafios na condução de negócios, assim como a burocracia e a complexidade regulatória em ambos os países. Além disso, a distância geográfica e os custos logísticos representam obstáculos, especialmente para pequenas e médias empresas. A competição internacional é outro fator que pode desviar investimentos para outras regiões.
Portugal está a saber aproveitar as oportunidades da relação com o Brasil?
Portugal tem aproveitado bem as oportunidades da relação com o Brasil, especialmente no que diz respeito aos investimentos bilaterais, ao turismo e ao intercâmbio cultural. Portugal tem beneficiado da sua posição na União Europeia para atrair empresas brasileiras, e a diáspora brasileira em Portugal também tem desempenhado um papel importante. No entanto, ainda há áreas que podem ser melhor exploradas, como novos setores de cooperação, a promoção de start-ups e a diversificação das exportações. Investir em inovação e superar as barreiras burocráticas são passos importantes para fortalecer essa relação.
Quais são os seus objetivos à frente da CCILB?
À frente da CCILB, os meus objetivos principais incluem o fortalecimento das relações bilaterais, promovendo parcerias que beneficiem empresas e instituições de ambos os países. Além disso, pretendo facilitar a criação de novas oportunidades de negócios e apoiar o desenvolvimento sustentável, incorporando práticas de responsabilidade social. A inovação tecnológica é outra prioridade, procurando conectar os dois países através da troca de conhecimentos em áreas como startups e economia digital. Pretendo também expandir a rede de networking, representando os interesses das empresas luso-brasileiras junto dos governos e promovendo a cultura e identidade comum que une Portugal e Brasil. A educação e formação profissional também são fundamentais para preparar empresários e profissionais para os desafios do mercado internacional.
Que iniciativas têm previstas para continuar a promover, fomentar e apoiar as relações económicas, comerciais, culturais e tecnológicas entre os dois países a curto prazo?
Para continuar a promover as relações económicas, comerciais, culturais e tecnológicas entre Portugal e Brasil, a CCILB planeia diversas iniciativas. Entre elas está a organização de missões comerciais bilaterais, em conjunto com APEX , AICEP e IAPMEI, assim como a participação em feiras e eventos setoriais, e o desenvolvimento de plataformas de networking e colaboração. Além disso, pretendemos lançar programas de aceleração para start-ups, em conjunto com associados, incentivar parcerias em pesquisa e desenvolvimento, e oferecer apoio à internacionalização de empresas. A promoção cultural e educacional também é uma prioridade, assim como a simplificação e harmonização regulatória para facilitar o comércio e os investimentos bilaterais.
“A CCILB tem desempenhado um papel relevante no apoio às empresas brasileiras que desejam instalar-se em Portugal (…)”.
De que forma a CCILB tem ajudado as empresas brasileiras a instalarem-se em Portugal?
A CCILB tem desempenhado um papel relevante no apoio às empresas brasileiras que desejam instalar-se em Portugal, oferecendo serviços, através dos associados, como consultoria jurídica e fiscal, apoio no registro de empresas, e facilitação de processos burocráticos. A câmara também organiza eventos de networking, fornece acesso a informações de mercado e oferece programas de capacitação. Além disso, a CCILB, através dos seus associados, promove as empresas brasileiras em feiras e exposições, e continua a oferecer suporte após a instalação, ajudando-as a adaptarem-se e a expandirem as suas operações em Portugal.
Qual a relação da CCILB com as empreendedores/start-ups? É um setor que interessa à CCILB?
A relação da CCILB com empreendedores e start-ups é de grande importância e interesse estratégico. A câmara apoia o desenvolvimento de start-ups através de serviços de mentoria e consultoria, programas de aceleração e facilitação de networking com investidores, temos associados especializados nessa abordagem. Também incentivamos a inovação tecnológica e promovemos a internacionalização de start-ups, ajudando-as a superar barreiras regulatórias e culturais. A promoção e visibilidade dessas start-ups é outra área de atuação, assim como a educação e capacitação de empreendedores. Temos boas parcerias a serem desenvolvidas nos próximos meses, que poderão colocar a Câmara noutro patamar.
O que continua a ser atrativo em Portugal para as empresas brasileiras?
Portugal continua a ser atrativo para empresas brasileiras por diversas razões, incluindo o acesso ao mercado europeu, um ambiente de negócios favorável, e incentivos fiscais e apoio ao investimento. A proximidade cultural e linguística também facilita a integração das empresas brasileiras, e a alta qualidade de vida em Portugal atrai profissionais qualificados. Além disso, Portugal oferece custos operacionais competitivos, estabilidade política e económica, e um ecossistema de inovação em crescimento. A localização estratégica do país e as suas sólidas relações bilaterais com o Brasil são outros fatores que tornam Portugal um destino preferido para as empresas brasileiras.
Para as empresas que se queiram instalar em Portugal, quais os setores mais promissores?
Para as empresas que desejam instalar-se em Portugal, alguns dos setores mais promissores incluem tecnologia da informação e comunicação, turismo e hospitalidade, energias renováveis, agronegócio e agroindústria, e imobiliário e construção. O setor de saúde e ciências da vida, a indústria automotiva e mobilidade, a economia circular e sustentabilidade, e o setor financeiro e fintech também oferecem grandes oportunidades. A indústria criativa e cultural é outro setor em crescimento, especialmente em áreas como produção audiovisual, design e moda. Cada um desses setores apresenta oportunidades específicas que podem ser exploradas pelas empresas brasileiras num mercado europeu estável, inovador e acessível.
Respostas rápidas:
Maior risco: investir sem uma análise aprofundada do mercado;
Maior erro: subestimar a importância da adaptação cultural em novos mercados;
Maior lição: resiliência e flexibilidade são fundamentais para o sucesso;
Maior conquista: ter estabelecido uma rede sólida de parcerias internacionais.








