Opinião

PME: a Inteligência Artificial já não é uma opção. É sobrevivência.

Pedro Fonseca, responsável pelo Cloud Center of Excellence global na Saint-Gobain

Estamos a assistir ao nascimento de uma nova geração de empresas. PME que não apenas utilizam inteligência artificial, elas nascem com ela no seu ADN.

Desde o primeiro dia, estas organizações operam com assistentes de IA no atendimento ao cliente, análise preditiva nas vendas, automatização de tarefas operacionais e apoio à decisão estratégica. Para estas empresas, a IA não é um projeto ou uma ferramenta isolada. É o sistema nervoso central do seu modelo de negócio.

PME de nova geração: mais ágeis, mais escaláveis, mais inteligentes

Estas novas empresas beneficiam de um ecossistema tecnológico cada vez mais acessível, modular e poderoso. São empresas nativas digitais, estruturadas para operar com:

  • Custos operacionais otimizados, fruto da automação de tarefas repetitivas;
  • Processos orientados por dados, com decisões em tempo real;
  • Modelos organizacionais mais planos e iterativos, que favorecem a agilidade;
  • Canais digitais inteligentes, que antecipam necessidades e personalizam experiências.

Num contexto onde a escalabilidade e a velocidade de execução são decisivas, estas PME apresentam uma vantagem estrutural: começam a correr quando muitas ainda estão a aprender a andar.

E as empresas estabelecidas?

As PME já em operação enfrentam um desafio delicado: manter os modelos de negócio que as fizeram crescer ou adaptar-se rapidamente a uma nova realidade tecnológica, onde as regras do jogo mudaram, e continuam a mudar.

A hesitação é compreensível. Muitas organizações associam a IA a projetos complexos, investimentos avultados ou riscos elevados. Outras simplesmente não sabem por onde começar. Mas a realidade é inescapável: não adotar IA é, progressivamente, tornar-se irrelevante num mercado onde a eficiência, a personalização e a velocidade já não são vantagens — são expetativas mínimas.

Por onde começar?

  1. Começar pequeno, mas começar já
    A automação de tarefas administrativas, como a gestão de agendamentos, triagem de e-mails ou geração de relatórios, pode gerar valor imediato com ferramentas acessíveis.
  2. Capacitar equipas
    A formação em ferramentas de IA (como assistentes generativos, plataformas de automação e análise de dados) é mais eficaz do que tentar mudar processos de cima para baixo.
  3. Reimaginar o modelo de negócio com IA no centro
    Uma pergunta poderosa: “Se fundássemos esta empresa hoje, com acesso a IA, o que faríamos de forma diferente?” A resposta pode revelar oportunidades de reinvenção.

A liderança como diferencial

A transformação não é apenas tecnológica, é cultural. E a liderança tem aqui um papel central. São os líderes que definem se a empresa vai resistir à mudança ou se vai liderá-la. A adoção da IA exige uma visão clara, uma comunicação transparente e uma mentalidade de experimentação.

Mais do que dominar algoritmos, é preciso cultivar uma cultura de aprendizagem contínua, curiosidade e coragem. Porque, no fundo, a IA não substituirá as empresas, mas as empresas que a usam poderão substituir as que não o fazem.

O momento de agir é agora

A inteligência artificial já deixou de ser tendência. É infraestrutura. As PME que hoje nascem com IA no centro estão a redefinir o que significa ser eficiente, competitivo e relevante. Para as restantes, a pergunta já não é se devem adotar IA, é quando e como o farão.

E quanto mais tempo demorar a resposta, maior será a distância para as empresas que já nasceram com pensamento algorítmico. Na nova economia, pensar rápido não chega, é preciso pensar com tecnologia.


Pedro Fonseca é um executivo de transformação com mais de 20 anos de experiência em planeamento e direção de tecnologia. Com uma carreira focada na liderança de equipas globais e na implementação de estratégias de transformação digital, especializou-se em arquitetura empresarial, gestão de serviços de TI e inovação tecnológica.

Atualmente, lidera o Cloud Center of Excellence global na Saint-Gobain, onde impulsiona a adoção de tecnologias cloud, gestão de produtos e sucesso do cliente. Anteriormente, desempenhou funções de destaque em empresas como Feedzai, Nokia, Fidelidade, Oney Bank e Caixa Geral de Depósitos, conduzindo iniciativas estratégicas de inovação, otimização de processos e transformação digital.

Com percurso académico em Engenharia Informática e formação em Sociologia pelo ISCTE, além de uma especialização em Gestão e Inovação Digital pela Católica Lisbon School of Business and Economics, é também certificado em Gestão de Projetos e Gestão de Serviços de TI e Tecnologias. Além da sua experiência corporativa, conta com vários anos de consultoria estratégica, apoiando organizações na definição e execução de estratégias tecnológicas e operacionais.

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