Perfil do investidor português: é homem, prefere fundos e está cada vez mais online

O investidor não profissional em Portugal é tipicamente do género masculino, reside em áreas urbanas e tem um nível de educação superior. A conclusão é da Comissão do Mercado de Valores Mobiliários, que fez o retrato do investidor português.

Um inquérito à população portuguesa divulgado em 2021 pela Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) revelou que cerca de 28% investe em instrumentos financeiros. No entanto, os novos comportamentos e preferências dos consumidores provocados pelos episódios de confinamento alteraram o cenário e contribuíram para o crescimento da atividade financeira online.

Segundo a CMVM, “parte do crescimento do número de investidores poderá está relacionado com o aumento dos investimentos através de canais digitais, predominantemente na camada mais jovem, que iniciou a atividade durante o período da pandemia”.

Apesar de não existir um perfil único, o investidor não profissional em Portugal é tipicamente do género masculino. A maioria reside em áreas urbanas e tem um nível de educação superior, conclui o primeiro Relatório do Investidor da CMVM que acaba de ser revelado e que pretende ajudar o investidor na tomada de decisões de investimento adequadas, informadas e conscientes.

Os investidores tendem a apresentar uma maior resiliência financeira do que os não investidores, estando mais capacitados para lidar com as dificuldades financeiras devido a um eventual maior conhecimento da área de investimentos e uma maior capacidade de poupança.

O inquérito revela também que a literacia financeira é mais elevada nos investidores do que nos não investidores. Apesar desta tendência, o estudo aponta para a necessidade de melhorar o conhecimento de conceitos como inflação, taxas de juro, juros compostos e risco. Em termos do controlo das finanças pessoais, mais de metade dos inquiridos afirma monitorizar as suas finanças, revela o Relatório do Investidor.

Quanto ao tipo de instrumento financeiro que os investidores detinham no momento do inquérito ou no passado, o estudo revela que os investidores dão preferência a fundos de investimento, incluindo fundos de poupança, seguidos das ações, ainda que evidenciem um interesse em criptoativos e produtos estruturados.

Tal como noutros mercados financeiros, sobretudo europeus, na tomada da decisão sobre qual o instrumento financeiro mais apropriado, o investidor português é maioritariamente influenciado por informação que obtém do seu gestor de conta, seguindo-se os conselhos de amigos, família ou conhecidos e, por fim consultores financeiros independentes, pode ler-se no relatório.

Quase um quarto dos respondentes afirma não ler os documentos contratuais, pois confiam no consultor financeiro ou funcionário do banco (13%) ou porque não os consideram muito importantes (11%). Relativamente às fontes de informação utilizadas pelo investidor para consultas sobre assuntos financeiros, apenas 14% consulta informação divulgada por empresas. Ao mesmo tempo, 60% consulta informação na internet e 50% consulta a rádio e a televisão. O uso da internet é preponderante nos investidores mais jovens.

De acordo com a CMVM, “estes dados revelam a pouca atenção dada pelos investidores não profissionais à informação requerida por lei e produzida pelo produtor ou comercializador dos instrumentos financeiros, dirigida aos investidores e onde constam as condições da prestação do serviço”.

Nota-se ainda que 40% dos investidores considerou outras opções antes de investir num determinado instrumento, apesar de estas serem provenientes sempre da mesma entidade. Apenas 27% dos investidores considerou outras alternativas e entidades.

Os inquiridos que não são investidores [mas que já o foram] afirmaram que as principais razões para investir ou voltar a investir em instrumentos financeiros são a existência de poupança, o conhecimento em termos de informação e finanças, as melhores taxas de juro e os retornos esperados mais elevados (face a depósitos bancários). Ou seja, para voltar a investir precisariam de mais poupança, mais informação e melhores taxas de juro. Já os motivos para terem deixado de investir mais apontados são a necessidade de liquidez, o excesso de risco, a falta de conhecimento e as perdas financeiras.

Na sua Estratégia de 2022-2024 a CMVM colocou no centro da sua atuação o tratamento justo do investidor. É neste contexto que surge, pela primeira vez, o Relatório do Investidor da CMVM, que está disponível online.

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