Opinião
As start-ups mudaram o paradigma da atração de talento

A implicações que a transformação digital tem no mundo empresarial e a capacidade de adaptação necessária para acompanhar o ritmo são alguns dos temas abordados pelo diretor geral da Experis.
Especialista em recrutamento e desenvolvimento de projetos de people outsourcing, no âmbito dos recursos humanos, a Experis disponibiliza aos clientes serviços em três sectores de especialização: IT, financeiro e engenharia. Pedro Amorim, diretor geral desta empresa do grupo Manpower, fala dos desafios que as inovações tecnológicas estão a trazer ao mercado nacional.
Quais as mudanças mais significativas no mundo do trabalho nos dias de hoje?
As principais mudanças estão relacionadas com o impacto da transformação digital e com a rapidez que essa transformação trouxe ao trabalho. Temas como inteligência artificial, cloud ou modelos preditivos estão a transformar as organizações, a torná-las mais ágeis, mas também a criar novas complexidades. A capacidade de adaptação é hoje fundamental, quer do lado da empresa, quer do lado do colaborador. As empresas são confrontadas diariamente com a sofisticação do consumidor e com as escolhas individuais. As plataformas digitais permitem que seja mais fácil chegar ao talento, mas também tornaram muito mais rápida a perda do mesmo.
As start-ups em Portugal têm contribuído para mudar o perfil do mercado empresarial/laboral? De que forma?
As start-ups trouxeram ao mercado uma nova visão, a novidade dos projetos, a maioria na área da tecnologia. Mudaram o paradigma da atração de talento, procurando ir mais ao encontro dos candidatos através da tecnologia, da valorização da marca como fator distintivo na atração e na retenção.
Por outro lado, sendo a maioria delas desenvolvidas por jovens talentos também assistimos a uma disrupção face ao passado, naquilo que tem que ver com a forma de gerir pessoas (novos modelos de trabalho, planos de incentivos de acordo com a população alvo e uma forte capacidade de interação on-line).
Que perfil de colaboradores procuram as start-ups?
Na maioria das vezes aquilo que se procura são pessoas jovens, com competências digitais, abertos a mudança e com uma forte capacidade de adaptação.
Há escassez de talentos nas start-ups tecnológicas?
A escassez de talento é transversal ao mercado. Hoje, assistimos a uma guerra pelo talento. As empresas precisam de orientar as suas políticas para a atração, mas também para aquilo que é o desenvolvimento dos recursos que podem ser aproveitados nos desafios que têm. É importante que as organizações repensem o tema das competências tecnológicas em profunda ligação às universidades.
Portugal tem competências digitais suficientes paras as necessidades?
Não. Estamos a viver uma enorme transformação e as empresas quando querem contratar sentem a escassez de recursos. Por outro lado, a qualidade humana que temos em Portugal, associada a salários baixos, também nos torna um país emissor de talento.
Os milénios gostam de desafios, inovação, novos modelos de trabalho, feedback constante…
De que forma a nova geração millennials está a “obrigar” as empresas a reformularem a forma como gerem os seus recursos humanos e como contratam?
Os milénios gostam de desafios, inovação, novos modelos de trabalho, feedback constante e nesse sentido as empresas que não acompanham estas vontades terão mais dificuldades na atração desta geração. É preciso também valorizar os novos modelos de trabalho e tudo aquilo que possa estar relacionado com a inovação no posto de trabalho. O tema do employer branding é hoje muito importante e faz com que as empresas procurem constantemente valorizar a sua imagem (o que fazem, posicionamento, projetos e estratégias de engagement)
O que é que as empresas devem fazer para reter os seus talentos?
As plataformas digitais vieram aumentar a capacidade das empresas chegarem ao talento mas também permitem de uma forma rápida e simples chegar aos mesmos. É rápida a perda de talento por parte das organizações. Pensamos que é importante que as empresas trabalhem muito bem a sua proposta de valor e a sua imagem no mercado. O gestor de Recursos Humanos tem que ser hoje também um especialista em marketing, sendo capaz de utilizar os princípios do marketing de consumo para aprofundar o conhecimento das necessidades dos talentos e garantir o alinhamento que potencia a atração e a retenção. Pode ser importante repensar a política de benefícios, os modelos de trabalho, a flexibilidade de horários.
Como é que a Experis carateriza o atual mercado empresarial nacional?
O atual mercado em Portugal passa por enormes desafios. Há muitas empresas a querer investir em Portugal pela qualidade dos recursos humanos, mas também por continuarmos a ser um país de salários baixos. Na maioria dos setores assistimos a uma guerra pelo talento, sendo o setor tecnológico aquele que mais complexidade aparenta pela falta de recursos. Continuamos a ver Portugal como um país com criação líquida de emprego, os resultados do ManpowerGroup Employment Outlook para o 2.º trimestre revelam otimismo ao nível das projeções de criação de emprego.
Quais as maiores dificuldades que área dos RH enfrentam, concretamente em domínios tecnológicos mais recentes como inteligência artificial, cloud computing ou machine learning, por exemplo?
Os principais desafios estão relacionados com a revolução das aptidões que a tecnologia traz. Os recursos humanos precisam de apoiar as pessoas a desenvolverem as aptidões e a adaptarem-se a um mundo de trabalho volátil. Os RH terão de concentrar-se na reformulação e na atualização das competências e das aptidões como fator competitivo das suas organizações.