Opinião
Pandemia acumulada

Estamos praticamente a entrar em mais um verão, uma altura por excelência em que todos procuramos descansar e recarregar baterias. Independentemente da forma que as férias de cada um assumem, a verdade é que o objetivo normalmente passa por desligar do dia a dia normal e conectarmo-nos com os nossos, família e amigos, e connosco. E este ano, mais do que nunca, isso parece-me altamente relevante.
Já lá vão mais de dois anos de uma mudança abrupta no nosso ritmo e na forma como vivíamos as diferentes facetas das nossas vidas, tanto profissional como pessoal. Dois anos de confinamentos e alívios intermitentes que deixaram marcas na sociedade que só daqui a muitos anos serão realmente entendidas, e com impactos devidamente identificados. Hoje estamos todos cansados do que nos trouxe aqui, mas não fazemos ideia, honestamente, do que o caminho nos fez.
Sou um adepto fervoroso de desenvolvimento pessoal, desde há vários anos. Consumo vários tipos de materiais, não como alguém que procura receitas feitas, mas sim ingredientes, que nos ajudem a viver uma vida no máximo do seu potencial, celebrando sucessos e ultrapassando desafios. Conheço várias pessoas com o mesmo alinhamento de interesses, e o que noto nelas – e em mim – é que esta altura está a ser extremamente exigente e que são precisas todas as ferramentas que sabemos para realmente conseguirmos lidar com o impacto de toda esta situação. Esta pandemia acumulada que nos transformou, e continua a transformar, e nos faz ver tudo de outra forma.
Este fenómeno não é, de todo, individual. Tendências como a “Great Resignation” são um reflexo disto, quando colaboradores de várias empresas em diferentes setores se demitem porque pretendem uma mudança de vida – associada, também, a um movimento de “anti-ambição” em que se procura menos responsabilidade, potencialmente associada a mais paz de espírito.
Embora isto não seja direto para todas as pessoas, nem uma mudança de emprego, cidade ou país sejam a resposta tabelada para tudo, a verdade é que estas tendências são efetivamente a prova de tudo o que, enquanto sociedade, vivemos. Tudo isto, claro, agudizado pela situação em que vivemos derivada da guerra na Ucrânia – mais uma acontecimento brutal, com impacto global, e totalmente fora do nosso controlo.
Acredito, verdadeiramente, que “o que não nos mata nos torna mais fortes”, mas também sei, até por experiência própria, que muitas coisas que “não matam, moem”. E vejo isso em diferentes pessoas: colaboradores, alguns deles amigos, e família. E se faz sentido deixar algum tipo de repto, nesta fase, é que sorriam todos os dias mesmo no meio de qualquer adversidade, porque há sempre razões para sorrir. Para mim, são as pessoas mais próximas – a minha esposa e as minhas quatro meninas.
Venha o que vier, sairemos mais fortes – e se preciso for, que procuremos ajuda ou ferramentas adicionais para nos ajudar a superar tempos menos positivos. Porque a única certeza é que, no final, seremos melhores – desde que o escolhamos.