Omnivore redefine financiamento de start-ups agritech na Índia

A Omnivore, fundo de capital de risco da Índia, já apoiou 24 start-ups agritech, incluindo projetos como a Stellapps, a DeHaat ou a Intello Labs.
Quando Mark Kahn quis criar um fundo de capital de risco para investir em alimentos e agronegócios na Índia, foi ridicularizado pela “péssima ideia”. Estava-se em 2010, e os venture capitalist indianos preferiam empresas voltadas para o consumidor. “Fazia-se apenas ecommerce e muito SaaS”, contou Mark Kahn ao site YourStory.
A agricultura – setor tradicional, fortemente regulamentado pelo Governo, com pouca ou nenhuma exposição ao digital, e sobretudo imprevisível devido à forte dependência das condições climatéricas – não estava nos radares do capital de risco. Mas Mark Kahn, que liderava a área de estratégia e desenvolvimento de negócios da Godrej Agrovet (braço de agronegócios do Godrej Group) estava “por dentro do pipeline de start-ups” do setor, conhecia a Índia rural e a vida dos agricultores. “Os empreendedores tinham de ir ter com as empresas, dado que o capital de risco generalista não olhava para este setor. O que não fazia sentido para nós [Godrej]. Foi assim que surgiu a ideia de lançar um fundo focado na agritech”.
Sediada em Mumbai, a Omnivore (anteriormente Omnivore Partners) foi lançada em 2010 como um dos primeiros fundos de capital de risco especializado na Índia. Mark Kahn envolveu Jinesh Shah, que tinha sido VP e CFO da Nexus Venture Partners, como seu cofundador. “Ele conhecia as start-ups e sabia como administrar um fundo de capital de risco”,explicou o cofundador e managing partner Mark Kahn. O fundo contratou agrónomos, especialistas em agricultura de precisão, antigos CEO de empresas de laticínios e de processamento de alimentos, e ex-executivos do Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (apoiado pelas Nações Unidas) para formar uma equipa de 12 membros.
Fundos e investimentos de topo
Para o seu primeiro financiamento, a Omnivore obteve 40 milhões de dólares do Godrej Group e de outros investidores indianos. Em 2011 fez o primeiro investimento na Skymet (tecnologia de previsão de condições atmosféricas e deteção remota). Na altura 45% das receitas da Skymet eram provenientes do fornecimento aos agricultores de dados climatéricos e de colheitas. Mark Kahn frisou que a agritech “estava a ganhar foco globalmente. Mas as companhias de grande dimensão na Índia não conseguiram trazer a inovação revolucionária ou a I&D de que a agricultura precisava. Havia empresários que poderiam resolver a questão e queríamos ser a primeira fonte de capital institucional para os mesmos. E deixámos claro que não queríamos seguir a rota dos business angels e aceleradores”.
Desde 2011, a Omnivore já financiou 24 start-ups em diferentes subsetores da agritech como, por exemplo, a DeHaat (plataforma para agricultores e mercado agrícola full-stack); a Clover (fornecedora de produtos frescos cultivados em estufa); a Bijak (plataforma de commodities agrícolas B2B); a Stellapps (plataforma de laticínios full-stack); a Aquaconnect (plataforma baseada em SaaS para aquafarmers); a AgNext (solução de qualidade e rastreabilidade de colheitas); a Intello Labs (classificador de frutas e vegetais com base em IA); a Fasal (plataforma IoT de horticultura); a GramCover (fintech rural e agrícola); ou a YCook (marca de alimentos processados), entre outras.
Hoje, cerca de 10 milhões de agricultores utilizam os produtos e serviços desenvolvidos pelas start-ups financiadas pela Omnivore que duplicou a rede de agricultores nos últimos três anos. Mas o trabalho continua. “A Índia tem 130 milhões de agricultores. É um mercado enorme e por explorar”, explicou Mark Kahn. Para aproveitar ao máximo o rápido crescimento em agritech liderado por reformas e iniciativas do Governo, a Omnivore fechou o segundo fundo em 2019. Tem uma base de 97 milhões de dólares, 80% dos quais angariados junto de parceiros estrangeiros com um “enorme interesse na Índia” e de instituições financeiras de desenvolvimento de países europeus. Também é apoiada pela entidade financeira indiana SIDBI.
A Omnivore aplicou 30% do capital do Fundo II em 11 start-ups e pretende ter um terceiro fundo no final de 2021.