A nova obsessão dos investidores de capital de risco: água com gás

Só este ano já foram investidos mais de 130 milhões de euros em 26 empresas produtoras de água com gás. A culpa desta nova febre parece ser dos millennials, que estão a perder o interesse por refrigerantes.

Quando pensamos nos projetos que recebem dinheiro de venture capitalists, a primeira ideia que surge é a de start-ups que inventaram a última novidade no campo da inteligência artificial, numa nova forma de aplicar a tecnologia blockchain ou uma plataforma de e-commerce inovadora. Nada aponta para o interesse em empresas que produzem água com gás: uma indústria que já existe há décadas e que não tem sofrido alterações significativas.

A verdade é que os números mostram o contrário. Nos Estados Unidos as vendas deste tipo de produto duplicaram na última década, o valor das ações de grandes empresas desta área cresceu abruptamente nos últimos meses e a Pepsi, por exemplo, adquiriu recentemente uma fabricante deste tipo de bebidas por mais de 2.8 mil milhões de euros (3.2mM$).

Na origem destes números, e desta reviravolta empresarial no setor, parece estar o interesse dos millennials por este tipo de bebidas. Uma das razões que explica esta nova tendência é o facto de os refrigerantes com açúcar serem algo do passado. As novas taxas aplicadas e a mudança da perceção do público em relação ao mal que causam na saúde fizeram com que o mercado dos refrigerantes decrescesse. Ao contrário destes, grande parte destas novas bebidas não apresenta adoçantes nem tem calorias.

E as marcas mais fortes no mercado parecem já ter percebido isto. É o caso da LaCroix, uma das marcas mais prestigiadas nos Estados Unidos inseridas neste ramo, que tem apontado as suas campanhas de marketing totalmente para os jovens. Os esforços mostram resultados positivos: enquanto que em 2015 a detentora desta marca de água com gás com sabor conseguiu pouco mais de 43 milhões de euros (49.3M$) em lucro, em 2017, esse lucro mais que duplicou, atingindo valores superiores aos 94 milhões de euros (107M$).

Contudo, para além dos millennials parecem haver outros grandes interessados neste tipo de indústrias: os investidores de capital de risco. De acordo com os números apresentados pelo Pitchbook, só este ano já foram investidos mais de 133 milhões de euros (152M$) em 26 empresas desta área. Este número supera os investimentos combinados de venture capitalists neste ramo entre 2016 e 2017.

Outra razão para isto acontecer prende-se com o facto das marcas estabelecidas no mercado há décadas, como a Schweppes, por exemplo, serem “aborrecidas”. Ou seja, numa altura em que tudo tem de ser “sexy” para apelar aos consumidores, estas marcas estão a falhar redondamente.

Como referiu Anna Whiteman, sócia da Tribeca Venture Partners, referiu à publicação Quartz, “os incumbentes [deste mercado] estão tragicamente fora de prazo”. Além disto, acrescentou, “há imenso espaço nas prateleiras dos supermercados que já é dedicado à água com gás, portanto é uma transição fácil [para as novas marcas] entrarem”.

A última razão para os investidores aderirem a esta tendência passa pelo medo de perderem o barco se não agarrarem esta nova oportunidade que promete expandir-se a qualquer momento. O mercado das águas com gás e com sabor está definitivamente em crescimento e o contínuo desinteresse das novas gerações por refrigerantes vai apoiar este desenvolvimento. A dificuldade que se antevê para as empresas é a diferenciação que vão conseguir ter num mercado que, muito provavelmente, não tardará a estar repleto de novas insígnias.

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