Entrevista/ “O surgimento das plataformas imobiliárias trouxe uma nova dinâmica ao setor”

Margarida Madeira, Head of Ressources Funding Investment na Nhood

“Não reabilitamos apenas espaços urbanos, mas criamos cidades mais equilibradas e preparadas para o futuro, onde o planeta, as pessoas e a prosperidade caminham juntos”. É desta forma que a Nhood aborda o mercado onde atua, explica Margarida Madeira, Head of Ressources Funding Investment.

A Nhood é uma plataforma de soluções e serviços imobiliários global especializada no desenvolvimento de projetos de uso misto, sempre com foco no triplo impacto positivo – ambiental, social e económico. Criada em 2021, está presente na Europa e África Ocidental, e atualmente tem cerca de 1 300 colaboradores, envolvidos em cerca de 30 projetos de regeneração urbana e  na gestão de mais de 900 ativos imobiliários. O foco, assegura a Nhood, está na criação de soluções imobiliárias sustentáveis e na regeneração urbana, independentemente da localização geográfica.

Recentemente nomeada Head of Ressources Funding Investment da Nhood em Portugal, Margarida Madeira fala da trajetória da empresa, dos desafios encontra no seu dia a dia, e das metas que quer alcançar. A assegura que “Portugal continua a ser um destino atrativo para o investimento imobiliário, com destaque para ativos de uso misto e ativos de retalho de referência e com uma performance elevada”.

Quais os desafios da Head of Business Unit de uma gestora de ativos imobiliários como a Nhood?

Enquanto empresa de serviços comprometida com a qualidade de serviço imobiliário e eficiência operacional, temos uma estrutura organizacional centrada em três áreas de negócio: Property, Asset & Services, Development and Promotion e Resources Funding Investment. As três unidades de negócio estão interligadas e trabalham de forma integrada para otimizar processos e promover uma cultura de colaboração e inovação.

Cada uma destas Business Unit apresenta os seus desafios próprios, mas de uma forma transversal posso afirmar que como Head of Business Unit numa gestora de ativos imobiliários como esta, temos diversos desafios estratégicos e operacionais. Um dos principais desafios é a necessidade de equilibrar a rentabilidade dos ativos com a criação de espaços sustentáveis e inovadores, alinhados às novas tendências do mercado imobiliário. Além disso, gerir um portefólio diversificado exige uma visão analítica para maximizar o valor dos investimentos e, ao mesmo tempo, garantir uma experiência diferenciadora para os utilizadores finais.

A gestão de talento é também determinante nesta área, através da liderança de equipas multidisciplinares e da promoção de uma cultura de inovação, e colaboração, por forma a garantir o sucesso e a competitividade da empresa no setor.

Por fim, a adaptação às mudanças económicas e regulamentares, que impactam diretamente a estratégia de desenvolvimento e de gestão dos ativos, e a integração de soluções tecnológicas, para otimizar a eficiência operacional e a tomada de decisões baseadas em dados.

“O sucesso não depende apenas de boas estratégias financeiras (…)”.

Enquanto responsável pela gestão financeira de projetos imobiliários, além das áreas de Recursos Humanos e Sistemas de Informação, quais as preocupações que mais impactam a gestão diária da empresa?

Na gestão diária na área de Resources, Funding & Investment, as nossas principais preocupações passam não apenas pela sustentabilidade financeira e captação de recursos, mas também pela qualificação das equipas e a inovação tecnológica que sustentam a tomada de decisão e conferem a agilidade inerente a uma empresa de prestação de serviços como a nossa.

Atrair e reter talento especializado é um desafio constante, pois o setor imobiliário está em transformação, exigindo profissionais que saibam equilibrar visão estratégica com inovação e eficiência operacional. Além disso, fomentar uma cultura de colaboração entre equipas financeiras, tecnológicas e operacionais é essencial para garantir que as decisões de funding e investimento sejam bem fundamentadas e alinhadas com os objetivos da empresa.

Na área da tecnologia da informação, a digitalização e a automação dos processos financeiros são fatores críticos para melhorar a precisão das análises, otimizar o reporting e mitigar riscos. O uso de ferramentas avançadas de business inteligence, entre outras, permite maior previsibilidade no desempenho dos ativos, possibilitando ajustes estratégicos em tempo real. Além disso, a integração de plataformas digitais para gestão de ativos torna o processo mais ágil e transparente, facilitando a interação com investidores e parceiros de negócio.

Outra preocupação fundamental é a segurança da informação, já que a gestão de recursos e investimentos envolve dados sensíveis. Garantir a implementação de sistemas robustos de cibersegurança e de compliance é essencial para proteger os ativos da empresa e manter a confiança dos nossos parceiros.

Por fim, a relação entre pessoas e tecnologia é um fator determinante para a nossa competitividade. O sucesso não depende apenas de boas estratégias financeiras, mas também da capacidade de dotar as equipas com as ferramentas certas e criar um ambiente que favoreça a inovação e a tomada de decisão baseada em dados.

Recentemente, a Nhood revelou como objetivo tornar-se uma referência em regeneração urbana. O que significa esse statement? Como pretendem atingir essa meta?

Quando na Nhood definimos como objetivo tornarmo-nos uma referência em regeneração urbana, estamos a falar de um compromisso com a transformação sustentável e inovadora dos territórios onde atuamos. Isso significa ir além da gestão tradicional de ativos imobiliários. Focamo-nos na criação de espaços que combinam utilidade económica, impacto social positivo e responsabilidade ambiental. Para atingir essa meta, a nossa abordagem assenta em três pilares fundamentais:
Planet, a sustentabilidade está no centro da regeneração urbana. Apostamos em projetos que priorizam a eficiência energética, a mobilidade sustentável e a descarbonização dos territórios, utilizando tecnologias inovadoras e soluções verdes para reduzir a pegada ecológica dos nossos ativos; People, as pessoas são o foco de todas as nossas iniciativas. Ouvimos as comunidades e envolvemos os cidadãos, autoridades locais e parceiros na criação de espaços urbanos que promovam o bem-estar, a inclusão e a interação social. O objetivo é desenvolver espaços vivos, dinâmicos e adaptáveis às necessidades reais da população; e Profit, a regeneração urbana só é viável quando os projetos têm uma base financeira sólida e sustentável, gerando valor a longo prazo tanto para os investidores quanto para as comunidades locais.

Os exemplos mais recentes que temos são os  projetos de transformação das Galerias Comerciais de Alverca e de Famalicão que estamos a desenvolver. O primeiro deu uma nova vida a um complexo imobiliário negligenciado ao longo de três décadas, criando uma nova centralidade em Alverca com mais oferta, mais pessoas e mais sustentabilidade. Já a Galeria Comercial de Famalicão visa uma construção com materiais sustentáveis, nomeadamente o revestimento da fachada em cortiça (carbono positivo) e o aumento da permeabilidade do solo.

Estas ações refletem o nosso empenho em transformar os ativos em pontos de encontro comunitários, onde o lazer e a sustentabilidade caminham lado a lado, seguindo uma lógica de co-construção com os municípios.

Com esta abordagem integrada, não reabilitamos apenas espaços urbanos, mas criamos cidades mais equilibradas e preparadas para o futuro, onde o planeta, as pessoas e a prosperidade caminham juntos.

Quais as principais áreas de negócio da Nhood? Empresarial, comercial…

Somos uma  plataforma de soluções e serviços imobiliários especializada no desenvolvimento de projetos de uso misto, sempre com foco no triplo impacto positivo – ambiental, social e económico.

As nossas áreas de negócio incluem a gestão de ativos; exploração de centros comerciais  (atuamos como parceira estratégica na gestão de ativos imobiliários, assegurando a sua valorização sustentável); planeamento urbano (transformamos espaços, bairros e cidades, dando-lhes uma nova vida; acreditamos que a regeneração urbana deve ser feita com e para as comunidades, garantindo um impacto positivo a longo prazo) e promoção imobiliária (concebemos, implementamos e promovemos projetos inovadores que integram diferentes usos – habitação, comércio, lazer, escritórios e serviços – promovendo cidades mais equilibradas e sustentáveis).

“De entre os aspetos a melhorar, destacamos a burocracia e os processos de licenciamento demorados (…)”.

O que caracteriza o mercado nacional onde atuam? Pontos positivos e aspetos ainda melhorar neste universo empresarial?

O mercado imobiliário nacional tem vindo a evoluir significativamente, apresentando oportunidades estratégicas para a regeneração urbana e o desenvolvimento sustentável de projetos de uso misto, alinhados com a nossa visão.

Como pontos positivos, podemos destacar o fato de Portugal ter vindo a consolidar-se como um destino atrativo para o investimento imobiliário, existindo também uma maior tendência para cidades mais sustentáveis e integradas  – o conceito da Cidade dos 15 Minutos que a Nhood defende está a ganhar relevância, incentivando projetos que combinam habitação, comércio, serviços e lazer num mesmo espaço, reduzindo deslocações e melhorando a qualidade de vida-, e um enfoque crescente na regeneração urbana e ESG, o que está a transformar a forma como os projetos imobiliários são concebidos e financiados.

De entre os aspetos a melhorar, destacamos a burocracia e os processos de licenciamento demorados, uma vez que a complexidade e o tempo necessário para aprovar novos projetos urbanos continuam a ser desafios para um desenvolvimento imobiliário mais ágil.

Na Nhood encaramos estes e outros desafios como oportunidades de transformação. Acreditamos e posicionamo-nos como um agente de mudança no setor, através de um modelo de triplo impacto positivo, Planet, People e Profit. Criamos soluções inovadoras que unem sustentabilidade, inclusão social e prosperidade económica.

Os princípios ESG (Environmental, Social and Governance) são algo que faça parte do vosso posicionamento?

As práticas ESG estão profundamente enraizadas no nosso ADN e são transversais em tudo o que fazemos, influenciando diretamente a nossa gestão dos espaços e a conexão com as comunidades. A certificação BREEAM In-Use, que todos os centros comerciais Alegro geridos pela Nhood detêm, demonstra um compromisso claro com a eficiência energética, a gestão de recursos e a criação de espaços ambientalmente responsáveis. Exemplo disso, são os parques solares instalados em todos os ativos que nos permitem suprir aproximadamente 40% das nossas necessidades. Também a integração de modelos de monitorização de consumos e a aposta em tecnologia mais eficiente permitiram a todos os nossos ativos registarem reduções acentuadas, nomeadamente no gás natural.

Embora o envolvimento da governance na estratégia ESG seja absolutamente essencial, estamos convictos que não é suficiente. Acreditamos que nada pode ser alcançado sem as nossas equipas, pelo que estamos profundamente empenhados em tornar a temática ESG um assunto de todos.

“Defendemos que equipas diversas são mais criativas e inovadoras, especialmente quando a inclusão está no centro da sua cultura”.

O que procuram nas vossas equipas?

Mais do que competências técnicas, procuramos pessoas com o mindset certo, isto é, profissionais que sejam ágeis, inovadores e que acreditem no impacto positivo que podemos gerar nas cidades, nas comunidades ou nos espaços que gerimos. Defendemos que equipas diversas são mais criativas e inovadoras, especialmente quando a inclusão está no centro da sua cultura. Para nós, que atuamos na renovação de espaços urbanos, essas diferentes perspetivas são cruciais para encontrar soluções eficazes para os desafios sociais e ambientais com que nos deparamos diariamente.

Procuramos pessoas que pensam de forma estratégica, que sabem trabalhar em equipa e que estejam dispostas a aprender e a evoluir constantemente. O mundo está em transformação, e queremos profissionais que tragam novas ideias e que se desafiem constantemente. Atuamos num setor dinâmico, e acreditamos que a capacidade de nos adaptarmos a novas realidades e trabalhar em ambientes multifuncionais é essencial. Damos autonomia e responsabilidade às nossas equipas para que possam inovar e encontrar soluções criativas para os desafios dos nossos parceiros e clientes.

Acreditamos ainda que a diversidade de origens, perspetivas e trajetórias profissionais enriquece as nossas equipas. Trabalhamos num contexto global e multidisciplinar, onde a inclusão e a partilha de conhecimento entre diferentes culturas são um pilar fundamental para o sucesso dos nossos projetos. Queremos profissionais que partilhem o nosso compromisso com o triplo impacto positivo – Planet, People e Profit – e que queiram fazer parte de uma equipa que transforma espaços urbanos em novos lugares com vida.

A agitação imobiliária que se vive no mercado português tem sido positiva no vosso setor, tem-se refletido no número de negócios concretizados?

A forte apetência dos investidores estrangeiros pelo mercado português tem tido um impacto positivo no nosso setor, refletindo-se no aumento de negócios concretizados. Portugal continua a ser um destino atrativo para o investimento imobiliário, com destaque para ativos de uso misto e ativos de retalho de referência e com uma performance elevada. Exemplo disso foram as vendas do Alegro Montijo e do Alegro Sintra, à Lighthouse e Castellanha Properties, respetivamente.

Estas transações estratégicas, assessoradas pela Nhood, são prova do dinamismo e da confiança do mercado na nossa abordagem de gestão de ativos. Estas operações reforçam a nossa capacidade em criar valor e atrair investidores que partilham a nossa visão de longo prazo.

O que mudou no setor imobiliário com o surgimento das plataformas? Qual o impacto positivo que trouxeram ao mercado, às cidades, às pessoas, face aos modelos tradicionais?

O surgimento das plataformas imobiliárias trouxe uma nova dinâmica ao setor, permitindo uma gestão dos ativos e dos projetos urbanos mais integrada, ágil e eficiente. Estas plataformas reúnem um ecossistema de serviços imobiliários, oferecendo soluções completas que aceleram.
Enquanto plataforma de prestação de serviços imobiliários, aplicamos esta abordagem para criar, transformar e valorizar ativos imobiliários, impulsionando a regeneração urbana e promovendo novas formas de viver as cidades.

Qual o balanço de atividade da Nhood em 2024?

O ano de 2024 foi um marco na nossa trajetória, consolidando-se como um período de transformação para a empresa. Sob uma nova estrutura de liderança, tripartida em três unidades de negócio, redefinimos a nossa estratégia e fortalecemos as nossas operações, garantindo um impacto positivo nos setores onde atuamos.

A nova estrutura organizacional centrada em três áreas de negócio – Property, Asset & Services, Development and Promotion e Ressources Funding Investment  – permitiu-nos otimizar os processos e aperfeiçoar a nossa atuação no mercado imobiliário, ampliando a capacidade de oferecer soluções inovadoras e sustentáveis para clientes e parceiros. Essa reestruturação foi essencial para o fortalecimento da empresa e para a expansão das suas atividades.

O nosso compromisso com a responsabilidade social e ambiental também foi reforçado em 2024, com a ampliação das políticas de ESG. A empresa implementou novas práticas para promover a sustentabilidade, garantindo que todos os seus projetos imobiliários estejam alinhados com os mais altos padrões ambientais e sociais.

Outro dos grandes destaques do ano foi a conquista do selo Superbrands pela marca Alegro, tornando-se a primeira marca de Centros Comerciais a receber esse reconhecimento pelos consumidores. Esta distinção reflete o nosso compromisso em proporcionar experiências de excelência aos clientes, consolidando a marca Alegro como referência no setor.

Também a transformação digital foi um pilar essencial ao longo de 2024. Investimos fortemente na digitalização para melhorar os serviços, tornando os processos mais eficientes e melhorando a experiência dos parceiros, clientes e consumidores. A digitalização dos negócios permitiu maior agilidade, inovação e integração, reforçando o posicionamento da empresa como um dos líderes do mercado imobiliário.

E para 2025, qual o vosso foco, as vossas prioridades?

Encerrámos 2024 como um ano de grande transformação e conquistas, preparando o caminho para um 2025 ainda mais ambicioso. Para 2025, pretendemos reforçar ainda mais essas conquistas, ampliando os investimentos, aprofundando as iniciativas sustentáveis e elevando o nível de inovação no setor. A meta é continuar a transformar os espaços urbanos e proporcionar impacto positivo para as pessoas, o planeta e a economia.

“(…) uma boa líder é aquela que transforma desafios em oportunidades, cria impacto positivo e constrói um legado que beneficia tanto a empresa quanto a sociedade”.

Enquanto Head of Business Unit, qual a sua visão de uma executiva de sucesso? Quais as caraterísticas que uma líder deve ter?

Na minha visão, uma executiva de sucesso é aquela que consegue equilibrar estratégia, inovação e humanização na gestão, criando valor para a empresa, para as pessoas e para a sociedade. Uma líder deve ter algumas características essenciais, entre elas visão estratégica e capacidade de adaptação, foco nas pessoas, orientação para resultados com impacto positivo, agilidade e tomada de decisão eficaz, mentalidade inovadora e abertura à mudança, e, acima de tudo, acredito que uma boa líder é aquela que transforma desafios em oportunidades, cria impacto positivo e constrói um legado que beneficia tanto a empresa quanto a sociedade.

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