Entrevista/ “O mercado português está sedento de soluções de e-learning de qualidade”

“A GoodHabitz Portugal foi das melhores filiais no seu primeiro ano de atividade”, assegura Pedro Monteiro, representante da empresa em Portugal, em entrevista ao Link To Leaders. Este profissional lembra que a formação digital ganhou destaque e que as coisas já não voltarão ao que eram antes da pandemia. Em 2022, espera lançar mais 48 cursos e fechar o ano com 90 formações em português.
De origem holandesa, a GoodHabitz é uma plataforma de formação online que disponibiliza cursos de soft e hard skills digitais. Já soma mais de 10 anos de atividade, com uma rede internacional que engloba 10 países, entre os quais Portugal onde se instalou no ano passado, para, afirma, “democratizar o e-learning corporativo”. Neste momento, tem mais de 2000 clientes a nível global, desde pequenas empresas a multinacionais, dos mais variados sectores de atividade e onde se incluem nomes como PUMA, Mc Donald’s, H&M, Prosegur ou Philips.
No mercado português, a equipa liderada por Pedro Monteiro tem quatro colaboradores e disponibiliza, atualmente, 39 cursos em português e mais de 150 cursos no total das línguas.
Em 2022 deixará de ser “apenas” um fornecedor europeu e passa a ser um parceiro global, já que planeia entrar noutros continentes, e em diferentes países, e o primeiro será o Brasil.
A GoodHabitz está em Portugal desde o ano passado. Que balanço faz dos primeiros meses de atividade?
O balanço é claramente muito positivo! O mercado português está sedento de soluções de e-learning de qualidade, pelo que a recetividade para nos conhecerem foi fantástica. Falámos com mais de 300 empresas ainda sem um plano de marketing. Angariámos cerca de 35 clientes e formámos cerca de 10 mil pessoas. A Goodhabitz Portugal foi das melhores filiais no seu primeiro ano de atividade.
A GoodHabitz propõe-se democratizar o e-learning corporativo. De que forma estão a colocar esta estratégia em prática? Pelos cursos, pelos serviços, pelo preço…?
Na realidade, de várias formas. Em primeiro lugar, pela forma como a plataforma funciona. Usamos um modelo de subscrição pioneiro no mercado que permite às empresas dar acesso a todos os seus colaboradores a variados cursos de formação on-demand e na “ponta do dedo”, em qualquer lado e a qualquer hora.
Por outro lado, implementamos um modelo de desenvolvimento que trabalha outras vertentes chave neste tipo de projeto com a dinamização de atividades práticas, campanhas de comunicação, etc. É uma estratégia envolvente, uma abordagem holística, em que o objetivo final é envolver toda uma força de trabalho e mudar os hábitos de aprendizagem. Para as empresas se manterem competitivas e ágeis, têm de trabalhar a cultura de aprendizagem, e isto faz-se envolvendo todos!
Este modelo permite-nos promover uma verdadeira cultura de aprendizagem moderna, pois permite aos colaboradores tornarem-se eles próprios agentes ativos no seu desenvolvimento, fomentando o self-learning. Por outro lado, temos uma vasta e diversificada oferta de cursos na nossa plataforma com foco em soft skills, desenvolvimento de pessoas e muitas outras áreas chave transversais. Os cursos são desenvolvidos com base em métodos pedagógicos reconhecidos e eficazes como a taxonomia de Bloom, para que o aluno tenha uma experiência de aprendizagem ajustada ao seu perfil. Os alunos têm bastante autonomia, vão escolhendo as atividades de aprendizagem que mais gostam e assim divertem-se bastante. Não os veem como uma obrigação, mas como uma recompensa que o empregador lhe proporciona para o seu desenvolvimento. A avaliação média da satisfação dos cursos está perto dos 90%.
Atualmente, temos 42 cursos disponíveis em português, mais de 150 cursos no total das línguas e contamos lançar mais 48 cursos e fechar 2022 com 90 formações em português.
“(…) os cursos focados em competências de trabalho remoto em equipa, de gestão da mudança, e de bem-estar cresceram bastante por toda a Europa”.
Quais as formações mais procuradas e por que perfil de pessoas e empresas?
Em 2021, os cursos focados em competências de trabalho remoto em equipa, de gestão da mudança, e de bem-estar cresceram bastante por toda a Europa. Os países onde estes cursos ganharam maior popularidade foram em Portugal, Itália, Alemanha e Suíça, um comportamento certamente incentivado pela tendência de trabalho híbrido, imposto pela pandemia.
Em Portugal, notámos um top 3 de formações mais procuradas: “Conte até 10 – Como gerir emoções” – que nos permite perceber como funcionamos em termos emocionais e aplicar um método único para gerirmos as nossas emoções; “Falar sem rodeios e como dar feedback” – para aprender a dar feedback sem que o mesmo seja entendido como uma crítica destrutiva; e “Gestão de tempo” – entre as chamadas e emails que a pandemia trouxe cada vez em maior volume, este curso ensina a gerir e reaver tempo.
“A verdade é que o cenário de pandemia, bem como a revolução tecnológica, estão a provocar mudanças estruturais e funcionais que trouxeram grandes oportunidades (…)”.
Sendo uma plataforma de formação online, a pandemia e os períodos de lockdown, o trabalho híbrido e a transformação digital foram uma oportunidade de desenvolvimento para a GoodHabitz?
A verdade é que o cenário de pandemia, bem como a revolução tecnológica, estão a provocar mudanças estruturais e funcionais que trouxeram grandes oportunidades para o crescimento da GoodHabitz. Este período ajudou o negócio a crescer porque fez com que as empresas percebessem a necessidade de adaptar os seus programas de formação e estratégia de desenvolvimento às novas necessidades dos colaboradores e do mercado de uma forma geral. Por utilizarmos um método menos tradicional e mandatório, as empresas começaram a ver na nossa plataforma uma forma de aumentar a adesão dos colaboradores à formação, tornando-se uma resposta ágil e apelativa para as 40h anuais de formação obrigatórias por lei – o que se traduz no sucesso de colaboradores e organizações.
Os colaboradores já não querem formatos únicos e demasiado exaustivos. Querem diversidade, flexibilidade, e formatos curtos e apelativos. Nestes formatos, o digital ganhou destaque, avançou muito e as coisas já não voltarão ao que eram antes da pandemia. É importante que todas as empresas, independentemente do seu setor, tenham isto presente e que vejam a melhor forma de integrar este formato na sua estratégia de aprendizagem corporativa.
Acreditamos que a formação contínua e transversal, como a que oferecemos na GoodHabitz, e adoção de uma mentalidade de aprendizagem ao longo da vida é a forma de ultrapassar estas mudanças e de sermos capazes de atualizar e readaptar os conhecimentos e competências do capital humano às necessidades emergentes.
Em termos práticos qual a mais-valia da plataforma face à concorrência?
Em primeiro lugar, queria esclarecer que efetivamente temos uma plataforma de aprendizagem, mas somos uma empresa que produz conteúdos de e-learning que também podem ser visualizados através das plataforma tecnológicas dos clientes, nomeadamente quando o cliente tem um Learning Management System. Assim, a nossa diferenciação assenta não só na plataforma, mas também nos conteúdos e no nosso modelo técnico que trabalha a cultura de aprendizagem das organizações.
Perante a concorrência, oferecemos às empresas um modelo de subscrição que faz chegar aos colaboradores, de forma acessível e intuitiva, mais de 100 cursos de formação e ainda terem acesso a todos os dados estatísticos de desempenho. Distanciamo-nos também do conceito tradicional de e-learning, marcado por conteúdos pouco diversificados, formatos pouco atrativos e sem qualquer método didático subjacente, o que se traduz num engagement baixo – usamos métodos didáticos únicos, eficazes e divertidos, pensados com base em modelos pedagógicos reconhecidos (ex: taxonomia de Bloom). Podemos, por exemplo, aprender linguagem corporal com um jogador de poker, ou aprender conceitos chave sobre feedback com uma equipa de dança profissional.
Desta forma, ao contrário de outras plataformas, promovemos uma cultura de aprendizagem moderna, menos mandatória, em que o colaborador é proativo porque gosta dos conteúdos e toma iniciativa de fazer os cursos por si. Por outro lado, vai tendo cada vez mais autonomia, e assim mais capacidade de decidir como, quando, e o que quer em termos de formação, sendo o principal responsável pelo seu desenvolvimento. Vamos assim mudando os hábitos de aprendizagem do colaborador.
A plataforma é também responsive, pelo que permite ao aluno aceder em qualquer dispositivo, computador, tablet e smartphones, o que imprime uma grande flexibilidade ao processo de aprendizagem.
Há muitas outras funcionalidades, mas eu destacaria ainda a ferramenta que permite desenvolver campanhas de comunicação de forma rápida e intuitiva, que está também imbuída na plataforma. Esta vertente da comunicação é chave para envolver os colaboradores.
Em que mercados é que a GoodHabitz está presente e quais os mais dinâmicos?
Neste momento, estamos presentes em mais de 10 países: Reino Unido, Holanda, Bélgica (com conteúdos em francês e flamengo), França, Alemanha, Itália, Espanha, Polónia, Suécia e Portugal.
Em 2021, tivemos três países que se destacaram em termos de crescimento. Foi o caso de Itália que abraçou verdadeiramente o e-learning, e cuja lista de clientes cresceu cerca de 500%. A Bélgica e Espanha também se destacaram entre os mercados em crescimento e Portugal com um excelente arranque. Em 2022 deixaremos de ser “apenas” um fornecedor europeu e passaremos a ser um parceiro global. Vamos entrar noutros continentes, em diferentes países, e o primeiro será o Brasil.
Na sua perspetiva que competências devem os colaboradores desenvolver este ano? Quais as prioridades?
Para 2022, num contexto de pós-pandemia e rápida mudança, as empresas irão certamente precisar de dotar os seus colaboradores com competências relacionadas com a capacidade de comunicação, a capacidade de gestão de tempo, capacidade de trabalho em equipa num modelo híbrido, resiliência, de bem-estar (a segurança psicológica é crucial nesta fase), liderança em contextos adversos e competências digitais para navegar num mundo cada vez mais tecnológico.
“(…) as soft skills ganham especial destaque não só este ano como no futuro do mercado de trabalho”.
Soft skills ou hard skills? O que vai dominar este ano?
O mercado precisa inevitavelmente das hard skills ou competências técnicas, pois estas são ferramentas necessárias em qualquer trabalho. No entanto as soft skills ganham especial destaque não só este ano como no futuro do mercado de trabalho. À medida que avançam processos como a digitalização, automação, inteligência artificial e robótica, nós vamos sendo substituído em muitas tarefas por máquinas. Mas há áreas em que as máquinas não nos conseguem acompanhar, e essas áreas são as soft skills! Serão estas as competências em que cada um de nós se poderá diferenciar.
Segundo um estudo da Deloitte, até 2030, mais de dois terços de todos os empregos serão orientados para soft skills. Neste sentido, promover a formação nestas competências é fulcral para o desenvolvimento profissional e sucesso das empresas.
Entre as soft skills mais importantes, destaco, por exemplo, a capacidade de comunicação, independentemente da área ou do tipo de trabalho, localização do escritório (híbrido) e até do setor em que trabalha. Assumindo que existe uma crescente utilização de ferramentas de comunicação online, é fácil compreender que é cada vez mais importante sermos capazes de comunicar mensagens de forma clara e direta. A capacidade de adaptação a novos cenários e a resolução de problemas são também fundamentais num contexto de incerteza marcado pela pandemia. Por fim, também a gestão de tempo neste novo mundo híbrido ganha importância e torna-se importante para atingir o “work-life balance”.
De que forma a formação, neste caso o e-learning, pode levar uma organização ao sucesso?
As constantes mudanças a nível global apresentam às empresas diferentes questões e desafios. As empresas precisam de sistemas de aprendizagem bastante ágeis dado o contexto atual. O formato mais ágil e facilmente escalável é o e-learning. Ainda me lembro que até há pouco tempo, algumas empresas espalhadas geograficamente tinham formadores que, quais caixeiros-viajantes, andavam por todo o país a formar pessoas. Isto hoje em dia deixa de fazer sentido. O e-learning vem revolucionar a forma como as empresas formam os seus colaboradores.
Por outro lado, o e-learning e o modelo de formação contínuo e transversal, permite às empresas serem capazes de atualizar e readaptar o conhecimento dos colaboradores às necessidades emergentes. O online veio tornar a formação cada vez mais acessível às equipas.
Como tal, investir em formação e cursos de e-learning é essencial para responder a necessidades repentinas e emergentes, gerir a mudança, aumentar o nível de motivação dos colaboradores, a performance organizacional, uma maior capacidade de retenção de talento, entre outros indicadores de recursos humanos. O capital humano das empresas é o que define o seu sucesso, por isso apostar no seu upskilling e reskilling é apostar numa organização bem-sucedida.
As organizações já estão a aderir ao e-learning?
Nos países mais desenvolvidos, 90% das empresas já utilizam o formato de e-learning – comparativamente a 4% em 1995. Em Portugal ainda não estamos nos 90%, mas penso que em dois anos lá chegaremos.
Em que setores de atividade se nota mais adesão?
A adesão é forte em setores como os serviços, o financeiro, retalho e tecnológico. Na indústria encontramos mais resistência pelas características da população, mas até aí temos vários casos de sucesso. A qualificação e educação das pessoas em Portugal é fundamental para potenciar estes formatos de aprendizagem mais inovadores.
Quais as metas da empresa para Portugal este ano?
Duplicar o tamanho da equipa e formar cerca de 100 mil pessoas (em 2021 formámos 10 mil)
Que inovações estão a planear para 2022 na vossa plataforma?
Deixo apenas duas para aguçar o apetite: vamos ter assessments (avaliações) de competências na nossa plataforma e um sistema de gamificação.