Entrevista/ “O mercado de aplicações é extremamente competitivo e inovar é essencial”
“Queremos que a Air Apps não seja apenas uma referência em tecnologia, mas que seja também um dos melhores empregadores em Portugal, oferecendo um ambiente de trabalho onde inovação, crescimento e bem-estar caminham juntos”, afirmou Filipe Ferreira, cofundador da Air Apps, em entrevista ao Link to Leaders.
Fundada há sete anos por Filipe Ferreira e Janina Ferreira, a Air Apps foi criada com o objetivo de ajudar pessoas em todo o mundo a resolver necessidades práticas do dia a dia com soluções digitais intuitivas.
Porque inovar está no seu ADN, Filipe Ferreira, cofundador da Air Apps, revelou que estão a preparar uma nova versão da app Translate Now, que permite traduções em tempo real e com ativação por voz, totalmente hands-free, a QRScan, que permitirá a criação de códigos QR personalizáveis com IA, e o assistente inteligente da Calculadora, que ajudará os utilizadores a resolver equações através de reconhecimento de imagens e interações assistidas por IA.
Em termos de faturação, a meta é “alcançar uma receita anual recorrente superior a 100 milhões de dólares (cerca de 88 milhões de euros).
Que balanço faz destes cerca de 7 anos da Air apps?
Eu diria que esses últimos sete anos foram uma jornada incrível – cheia de desafios, conquistas e muito aprendizagem. A Air Apps nasceu com um objetivo claro: criar tecnologia para facilitar a vida das pessoas. Desde os primeiros dias, em que desenvolvemos vários aplicações por dia, até encontrarmos o nosso grande acerto com o Translate Now e expandirmos para mais de 30 apps de sucesso, cada etapa foi uma prova de resiliência, adaptação e do talento da nossa equipa. Um dos maiores marcos tem sido o crescimento da Air Apps como uma empresa independente e focada nas pessoas, operando remotamente e reunindo talentos de diversas partes do mundo. Ver as nossas apps chegarem a milhões de utilizadores, a receberem mais de 2 milhões de avaliações com uma média de 4.7 estrelas e fazerem a diferença no dia a dia das pessoas é algo muito gratificante. Claro que não foi fácil.
O mercado de aplicações é extremamente competitivo e inovar é essencial para continuar relevante. Mas o que nos diferencia é justamente a nossa agilidade, a capacidade de nos reinventarmos e o foco no que realmente importa—criar produtos de qualidade que resolvem problemas reais. Agora, com uma base sólida, um novo hub tecnológico em Portugal e planos ambiciosos para o futuro, temos a certeza de que isto é só o começo.
“Estabelecer um hub físico depois de anos como empresa remota foi um grande passo estratégico, permitiu-nos fortalecer nossa presença no ecossistema europeu (…)”.
Que outros marcos mais destaca?
Olhar para trás e ver tudo o que conquistamos é incrível, mas o que mais me marca são os momentos que nos fizeram acreditar que podíamos ir além. Se eu tivesse que destacar cinco marcos que realmente moldaram a Air Apps, seriam os seguintes. O momento “Eureka” e o sucesso do Translate Now. No começo, tentámos criar várias aplicações por dia, mas percebemos que o verdadeiro impacto viria ao desenvolver um produto que realmente resolvesse um problema. O Translate Now mostrou-nos que era possível transformar uma ideia simples em algo usado por milhões de pessoas.
Destaco também o primeiro milhão de downloads. Ver uma app que criamos do zero atingir essa marca foi a validação de que estávamos no caminho certo. Deu-nos confiança para continuar a inovar e a procurar novos desafios. Depois a abertura do nosso hub tecnológico em Portugal. Estabelecer um hub físico depois de anos como empresa remota foi um grande passo estratégico, permitiu-nos fortalecer a nossa presença no ecossistema europeu e pensar ainda maior sobre o futuro da Air Apps.
50 milhões de euros em receita com apps no ano passado foi outro marco. Alcançar este número mostrou que a nossa visão não era apenas possível, mas sustentável. Foi a prova de que tecnologia bem-feita, quando realmente útil para as pessoas, pode crescer de forma sólida e gerar impacto global.
O que tem contribuído para o crescimento da Air Apps?
O crescimento da Air Apps não foi fácil. No começo, passamos por momentos de muita incerteza, dias intensos de trabalho sem saber se o que estávamos a construir daria certo. Chegámos a desenvolver duas aplicações por dia, tentando encontrar aquilo que realmente faria a diferença. E no meio disso, tivemos que lidar com o stress, com decisões difíceis e com o medo do fracasso. Mas foi justamente nesses momentos que aprendemos as lições mais valiosas sobre crescimento. O que nos trouxe até aqui foi a capacidade de nos adaptarmos, de mudar o que não estava a funcionar e, principalmente, acreditar que era possível. Quando percebemos que quantidade não era o caminho e sim qualidade, mudamos completamente nosso foco.
É essa a mentalidade que nos acompanha até hoje: não temos medo de mudar estratégias, de testar coisas novas e de nos reinventar quando necessário. Outro ponto fundamental é que colocamos as pessoas no centro de tudo. Se queremos criar tecnologia para facilitar a vida das pessoas, faz sentido que isso comece internamente. Desde o início, percebemos que uma equipa sobrecarregada, sem equilíbrio entre vida pessoal e profissional, não consegue criar nada de valor. Então incentivamos um ambiente onde as pessoas possam trabalhar bem, sem excesso de pressão, com espaço para criar e inovar. O mundo da tecnologia muda rápido, e a única forma de crescer é não ter medo de inovar.
“Na Air Apps, não seguimos fórmulas prontas. Questionamos sempre o que pode ser feito melhor”.
De que forma têm funcionado como catalisador para inovação?
Inovação, para nós, nunca foi só sobre tecnologia, mas é também sobre mentalidade. Desde o início, aprendemos que inovar exige testar, errar e aprender rápido. E é essa mentalidade que nos guia até hoje. Na Air Apps, não seguimos fórmulas prontas. Questionamos sempre o que pode ser feito melhor. Quando percebemos que alguma estratégia não funcionava, mudamos sem medo. Se algo não entrega impacto, ajustamos o rumo sem apego. Essa flexibilidade mantém-nos à frente, evoluindo com o mercado e as necessidades dos utilizadores. A diversidade na equipa também impulsiona a nossa inovação. Diferentes culturas e experiências trazem novos olhares sobre cada problema, impedindo que caiamos na zona de conforto. Além disso, acreditamos que inovação precisa vir de todos os lados e não apenas da liderança.
Um exemplo disso é o AIR Revolution, uma iniciativa onde, todos os meses, um membro da equipa é reconhecido por uma ideia inovadora, especialmente no uso de IA para automação, produtividade e criatividade. Criamos um ambiente onde cada pessoa tem autonomia para experimentar, testar hipóteses e trazer melhorias, desde pequenas otimizações até novas funcionalidades disruptivas. No fim, inovação não é um evento isolado, mas um processo contínuo. O que nos torna catalisadores da inovação não é apenas criar tecnologia, mas construir uma cultura onde questionar, adaptar e evoluir faz parte do dia a dia.
O que levou a Air Apps a escolher Portugal como sede para o seu Air Hub?
Escolher Portugal como sede para o Air Hub foi uma decisão estratégica e natural para nós. Queríamos um lugar que nos oferecesse um ecossistema inovador, talento qualificado e qualidade de vida para nossa equipa. Portugal tem tudo isso e muito mais. O país tornou-se num polo tecnológico em ascensão, atraindo start-ups e profissionais de todo o mundo. Além disso, a sua localização facilita conexões com a Europa, América e outras regiões estratégicas. Mas não foi só isso—queríamos um ambiente onde pudéssemos crescer de forma sustentável, e Portugal nos ofereceu a estrutura ideal para isso. Embora a nossa base esteja aqui, o impacto dos nossos produtos é global. As nossas aplicações são desenvolvidas em Portugal, mas são utilizadas por milhões de pessoas ao redor do mundo.
Mais do que um bom lugar para expandir, Portugal foi onde a Air Apps começou e se fortaleceu. Nada mais natural do que retribuir ao país que nos deu as bases para crescer.
“A diversidade cultural não é algo que simplesmente gerimos na Air Apps, é o que nos define”.
Como gerem a diversidade cultural na Air Apps? Quais têm sido os maiores desafios na cultura organizacional da empresa?
A diversidade cultural não é algo que simplesmente gerimos na Air Apps, é o que nos define. Desde o primeiro dia, acreditamos que a inovação verdadeira acontece quando diferentes culturas, ideias e experiências se encontram. Mas não basta ter um equipa global, é preciso criar um ambiente onde cada pessoa se sinta parte de algo maior. Acreditamos que a conexão vai além do trabalho. A nossa Air Apps Conference, realizada todos os anos numa cidade diferente, é um dos momentos mais importantes para nós. Já estivemos em Lisboa, Berlim, Cancun e este ano será em Las Vegas. É quando conseguimos nos olhar nos olhos, alinhar nossa visão e fortalecer o que construímos juntos. Mas a conexão não acontece só uma vez por ano.
Criámos também o Air Adventures para garantir que a equipa partilhe experiências ao longo do ano e os Air Hubs e o Air Living, que oferecem alojamento próximo aos hubs para facilitar a colaboração presencial, para aproximar aqueles que desejam trabalhar juntos presencialmente. O maior desafio sempre foi equilibrar autonomia e pertença. Queremos que cada pessoa tenha liberdade para trabalhar do seu jeito, mas sem perder o sentido de equipa.
Faz parte dos planos da empresa abrir novos hubs? Quais as cidades que estão na mira?
Sim, expandir nossos hubs faz parte dos nossos planos. Os “Air Hubs” nasceram da necessidade de oferecer um espaço físico para colaboração, inovação e troca de ideias, sem perder a essência do nosso modelo remoto. Queremos que sejam mais do que escritórios, mas pontos de conexão para a nossa equipa e para profissionais do ecossistema tech. Lisboa foi o primeiro passo e a resposta tem sido incrível.
Agora, já estamos a olhar para Porto e San Francisco como as próximas localizações. Porto é uma cidade vibrante, com um ecossistema tecnológico em crescimento e um talento incrível. Já em San Francisco queremos estar mais próximos do coração da tecnologia e das inovações que estão a moldar o futuro. O nosso objetivo não é abrir hubs em qualquer lugar, mas em locais estratégicos que fortaleçam nossa cultura e permitam que a nossa equipa tenha novas oportunidades de conexão, aprendizagem e crescimento.
Como podem as aplicações gerar receita de forma sustentável, sem comprometer a experiência do utilizador?
Gerar receita de forma sustentável sem comprometer a experiência do utilizador é um equilíbrio que exige transparência, inovação e respeito pelo utilizador. Na Air Apps, sempre seguimos a filosofia de que um modelo de negócios saudável precisa estar alinhado com a utilidade e a satisfação do público. Acreditamos que o caminho está na diversificação. Oferecemos modelos premium, onde os utilizadores podem aceder a funcionalidades essenciais gratuitamente e, caso precisem de mais recursos, têm a opção de assinar uma versão premium. Além disso, a publicidade integrada é usada de forma estratégica, sem interromper a navegação ou prejudicar a experiência. O segredo está em criar valor real. Se um aplicativo resolve um problema de forma eficaz, os utilizadores estarão dispostos a investir. A sustentabilidade vem dessa troca justa, onde crescimento e experiência caminham juntos, sem que um precise existir à custa do outro.
“A IA não é uma ferramenta complementar, é o motor da próxima grande revolução digital”.
Como avalia o impacto da Inteligência Artificial na evolução das apps?
A inteligência artificial não está apenas a melhorar as aplicações, está a redefinir completamente a forma como interagimos com a tecnologia. O impacto já é visível e só vai crescer. Antes, as aplicações eram ferramentas estáticas, que dependiam inteiramente da entrada do utilizador. Hoje, com IA, elas antecipam necessidades, personalizam experiências e tornam-se assistentes inteligentes no dia a dia.
Na Air Apps, temos visto isso de perto. A IA permite traduções mais naturais no Translate Now, explica soluções matemáticas passo a passo no Calculator Air e otimiza processos internos para oferecer uma experiência mais fluida e eficiente. Mas o verdadeiro impacto ainda está por vir. No futuro, as aplicações não serão apenas mais rápidas ou mais precisas, mas serão verdadeiramente proativas, entendendo o contexto e adaptando-se em tempo real às necessidades do utilizador. A IA não é uma ferramenta complementar, é o motor da próxima grande revolução digital.
Quais os mercados internacionais mais representativos para a empresa?
Os Estados Unidos e o Japão são atualmente os mercados internacionais mais representativos para a Air Apps. Ambos são altamente tecnológicos, com utilizadores que valorizam inovação, eficiência e qualidade na experiência digital. Nos EUA, há uma grande adoção de apps que otimizam o dia a dia e a nossa abordagem centrada no utilizador tem sido essencial para crescer nesse mercado. Já no Japão, a atenção ao detalhe e a exigência por produtos sofisticados desafiam-nos a elevar constantemente a qualidade e a precisão das nossas soluções. Cada mercado tem as suas particularidades, e esse entendimento permite-nos adaptar os nossos produtos para responder melhor às expectativas dos utilizadores. Continuamos a investir nesses países e em outros mercados estratégicos, sempre com o objetivo de levar tecnologia útil e acessível a um público cada vez maior.
Qual o plano de expansão da empresa?
O plano de expansão da Air Apps passa por três frentes principais: novos mercados, inovação contínua e fortalecimento da nossa presença física. Queremos crescer de forma estratégica, mantendo o equilíbrio entre alcance global e uma experiência de utilizador de excelência. Estamos focados em expandir o nosso portfólio de apps, trazendo novas soluções e funcionalidades que respondam às necessidades dos utilizadores. Além disso, estamos a trabalhar para levar os nossos produtos para além do mobile, explorando novas plataformas como a Web, garantindo que as nossas soluções estejam acessíveis onde quer que as pessoas precisem delas.
No lado da inovação, o nosso objetivo é continuar a integrar inteligência artificial para tornar as nossas aplicações ainda mais intuitivas, personalizadas e eficientes. Também estamos a investir na expansão dos Air Hubs, com planos para novas localizações no Porto e em Silicon Valley, criando espaços que incentivam a colaboração e a troca de conhecimento. A visão é clara: crescer com propósito, sem perder a agilidade e o foco no que realmente importa, que é criar soluções que impactam positivamente a vida das pessoas.
Quais os objetivos para Portugal este ano?
Queremos reforçar ainda mais a nossa presença no país. Os nossos principais objetivos passam por expandir a operação, investir no ecossistema local e fortalecer a nossa comunidade. Queremos que a Air Apps não seja apenas uma referência em tecnologia, mas que seja também um dos melhores empregadores em Portugal, oferecendo um ambiente de trabalho onde inovação, crescimento e bem-estar caminham juntos. Para nós, isso significa mais do que boas condições de trabalho. Significa criar um espaço onde cada pessoa tem autonomia, equilíbrio entre vida pessoal e profissional e um verdadeiro sentido de pertença, com oportunidades para crescer e evoluir. Inspiramo-nos em países como a Dinamarca, que valorizam segurança, flexibilidade e bem-estar no trabalho, e queremos trazer esse padrão para a Air Apps. Um dos focos é a expansão do Air Hub, consolidando-o como um ponto de inovação e colaboração, não só para a nossa equipa, mas também para outros profissionais da área tecnológica.
Além disso, estamos a trabalhar para ampliar o Air Living, uma iniciativa que oferece alojamento próximo dos hubs para facilitar a mobilidade da equipa e promover mais interação presencial entre os membros. Paralelamente, continuamos a investir no Air Adventures, que proporciona experiências únicas ao longo do ano, reforçando o espírito de equipa e criando momentos que vão além do trabalho. Queremos também contribuir para a comunidade de forma mais ativa. Este ano, estamos a explorar parcerias com ONG para ajudar a quebrar barreiras linguísticas, onde a necessidade é maior, utilizando o Translate Now e outras soluções para facilitar o acesso à comunicação em diferentes contextos. Também queremos estar mais próximos do ecossistema empreendedor português, promovendo eventos, iniciativas e parcerias que impulsionem inovação e troca de conhecimento.
Qual a previsão de faturação para este ano?
Alcançar uma receita anual recorrente superior a 100 milhões de dólares .
Respostas rápidas:
Maior risco: Pensar pequeno.
Maior erro: Esperar ao invés de criar oportunidades.
Maior lição: Acreditar no impossível.
Maior conquista: Inspirar pessoas.








