Entrevista/ “No bloco operatório ficava sempre muito admirado com a capacidade multitarefa das mulheres”

António Lacerda Sales, Secretário de Estado Adjunto e da Saúde

“Gosto muito de trabalhar com mulheres. No bloco operatório ficava sempre muito admirado com a capacidade multitarefa das mulheres, que conseguiam operar e conversar, e fazer várias coisas ao mesmo tempo, que eu não conseguia e não consigo”, revelou António Lacerda Sales, Secretário de Estado Adjunto e da Saúde, em entrevista ao Link To Leaders.

Por toda a União Europeia, é do sexo feminino a grande maioria dos profissionais de saúde. Portugal confirma a regra a avaliar pelos inscritos na Ordem de Enfermeiros (mais de 58 mil mulheres e 12 mil homens) e na Ordem dos Médicos (mais de 28 mil mulheres e 23 mil homens), e também pelas estatísticas do Pordata que revelam a crescente feminização dos cuidados de saúde em Portugal.

Há outra grande frente. Em toda a UE, a maioria dos prestadores de cuidados profissionais a pessoas com deficiência ou idosos são mulheres (83%).

Falámos com o Secretário de Estado Adjunto e da Saúde sobre as mulheres nos serviços de saúde, o seu papel no atual cenário de pandemia e o que falta fazer para que consigam uma maior representatividade em cargos de decisão e/ou liderança no setor.

A sua atividade profissional coloca-o em dois cenários diferentes, a política e a saúde. Pela sua experiência nestes dois universos, o que é que a visão feminina pode aportar de positivo e diferente da visão masculina a estas duas áreas?
As mulheres têm uma sensibilidade diferente, que se nota quer na política, quer na saúde. Fazem pontes e pensam mais no coletivo do que no individual, o que pode estar relacionado com uma componente de família, que, apesar de tudo, acho que é diferente nos homens. Gosto muito de trabalhar com mulheres. No bloco operatório ficava sempre muito admirado com a capacidade multitarefa das mulheres, que conseguiam operar e conversar e fazer várias coisas ao mesmo tempo, que eu não conseguia e não consigo.

Há mais médicas, enfermeiras, farmacêuticas, auxiliares de ação médica. No atual cenário de pandemia, qual o papel que as mulheres – as que integram o Governo, os diferentes organismos que integram o setor da saúde ou a sociedade civil – têm tido, ou podem ter, para ultrapassar esta crise?
No Serviço Nacional de Saúde, em janeiro de 2021, as mulheres representavam cerca de 77,4% dos profissionais de saúde (64,4% dos médicos, 83,7% dos enfermeiros, 86,6% dos Técnicos Superiores de Saúde e Farmacêuticos, 79,9% dos TSDT, 83,2% dos Assistentes Técnicos, 78,3% dos Assistentes Operacionais e 79,6% dos Técnicos Superiores.

Temos dois exemplos paradigmáticos de duas mulheres à frente da Saúde: a senhora Diretora-Geral da Saúde, Graça Freitas, e a senhora Ministra da Saúde, Marta Temido, com quem tem sido um enorme prazer trabalhar. A capacidade de trabalho, de perseverança, resistência e de tomada de decisão da senhora Ministra, num momento particularmente difícil da vida coletiva do nosso país, são notáveis e inspiradores para toda a equipa.

O que falta fazer para que as mulheres consigam mais representatividade em cargos de decisão/liderança, na vida empresarial, na saúde, na ciência…?
Falta o caminho natural de uma cultura de igualdade.

Em pleno século XXI continua a fazer sentido continuar a discutir o tema de quotas para mulheres em determinados cargos?
Continua a fazer sentido que se discutam todos os meios para se conseguir que a igualdade seja de género ou outra. Devemos sempre trabalhar para esse objetivo.

Com seriam a vida política e a saúde nacional sem mulheres?
Mais pobres certamente. Impensável.

Quais são as suas grandes referências em termos de liderança feminina? Mulheres que tenham feito a diferença e marcado o setor da saúde?
Florence Nightingale, cujos ensinamentos em tempos de pandemia ainda são mais valorizados, Carolina Beatriz Ângelo, pela coragem não só como médica, mas como cidadã, e Marta Temido por todas as razões que já invoquei.

Comentários

Artigos Relacionados