Opinião

Mudança de perceções potenciada pelo ChatGPT

Sérgio Viana, Partner & Digital Xperience Lead na Xpand IT

É hoje em dia improvável encontrar alguém que não tenha ouvido falar do ChatGPT. Lançado no final de 2022, abriu caminho a uma nova vaga relacionada com a Inteligência Artificial, tema recorrente em eventos dos mais diversos setores e com aplicabilidade em várias indústrias.

No entanto, o foco desta partilha de hoje tem a ver com questões não tecnológicas, em particular com a mudança da perceção das empresas em relação a iniciativas de IA que foi potenciada pelo grau de massificação que o ChatGPT tem.

Há cerca de uma década foram dados passos importantes na criação das bases para o que hoje presenciamos, em termos IA, em particular no que diz respeito à capacidade de recolha, armazenamento e processamento de dados em tempo útil, de uma forma acessível a qualquer empresa. Depois desta fase inicial, foram surgindo vários serviços de IA que tiravam partido das capacidades da Cloud, por exemplo, e que podiam ser usados para criar muitas das experiências que vemos surgir hoje em dia. E se calhar este é o facto desconhecido para muitas pessoas hoje em dia, é tudo o que já era possível fazer com tecnologia existente quando o ChatGPT foi lançado.

É certo que o avanço das tecnologias de IA nos últimos anos tem endereçado desafios específicos desta área, como é o caso do esforço em treinar modelos e em particular se forem específicos a determinado domínio. No entanto, um dos maiores contributos dados não é tecnológico, é psicológico: ficou claro como se podia utilizar IA em situações mundanas, com impacto, e de uma forma simples.

O ChatGPT foi a aplicação que mais rapidamente chegou ao milhão de utilizadores (cerca de cinco dias) e aos 100 milhões de utilizadores (cerca de 2.5 meses), segundo a UBS / Yahoo Finance. Este nível de adoção sem precedentes criou um conhecimento viral do que era a plataforma e de como poderíamos usar IA no nosso dia a dia, de uma forma muito prática. E todo este movimento, ao nível da sociedade, teve claramente impacto nas organizações. Subitamente, as equipas que queriam falar sobre IA e sobre iniciativas que potenciassem tecnologias como as disponibilizadas pela OpenAI passaram a ter bastante mais abertura por parte das suas organizações, pelo reconhecimento alargado de iniciativas como o ChatGPT.

Como deverá ser claro, o ChatGPT é uma ferramenta entre várias que permitem hoje fazer coisas extraordinárias com a tecnologia que temos à nossa disposição. Há várias outras, de outras empresas, e muitas organizações estão a fazer já várias experiências nestas tecnologias, tirando partido de abordagens enterprise-ready potenciadas por empresas com a Microsoft, a Google e a Amazon. Continua a ser necessário uma análise do que é possível ou não fazer, de modo a definir projetos curtos que permitam provar o valor que se pode tirar de determinada iniciativa ou, no limite, falhar rápido e passar para a próxima. Tirando partido de abordagens ágeis, que apesar de concetualmente já terem 23 anos de idade, continuam ainda sem ser usadas de forma massiva pelas empresas.

Em resumo, o nível de reconhecimento e familiaridade criado pelo ChatGPT contribui de forma decisiva para o avanço da IA nas empresas. Afinal, quem decide apresentar as ideias e avançar ou não com elas são pessoas, subjetivas na sua análise de risco e de benefício. E, de repente, tudo pareceu menos arriscado. Isto, por sua vez, é um risco em si – mas essa reflexão fica para outra altura.

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Sérgio Viana

Sérgio Viana

Sérgio Viana é Partner & Digital Experience Lead na Xpand IT, onde é responsável pela definição da estratégia e oferta da unidade, focada na criação de experiências digitais com uma base tecnológica. É também Board Member da IAMCP Portugal, o capítulo português da associação de Parceiros Microsoft, e docente no MBA de SI na Universidade Lusófona. É um adepto fervoroso do desenvolvimento pessoal e da melhoria contínua e um ávido consumidor de conteúdos relacionados com gestão de equipas e cultura... Ler Mais..

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