Opinião

MBA: Porque 3 letras representam tanto?

Tomás Loureiro, Head of Innovation Intel na EDP

Não é ao acaso que o MBA é um “carimbo” amplamente valorizado nos percursos profissionais. Não é só pelos conhecimentos (um verdadeiro “canivete suíço) ou pelo “canudo” em si, mas sim pela jornada que representa, pelas pessoas, pelos desafios que acarreta e pela mochila bem cheia que quem passa por isso leva no final.

FBI, CEO, PSP, PSD, SNS, SLB, ONU, OMS, BES ou até JMJ (para ser muito atual). São inúmeras as siglas de 3 letras que utilizamos no dia a dia na nossa linguagem e para as quais imediatamente atribuímos um significado e, consequentemente, uma conotação. Umas representam marcas, outras partidos, outras eventos, organizações, etc., mas que o que têm em comum é que são tipicamente identificáveis imediatamente por grande parte das pessoas e que de algum modo despertam sentimentos, independentemente do seu background ou contexto. Com a sigla “MBA”, passa-se o mesmo.

Parece-me consensual que ter um MBA no curriculum (independentemente da escola ou geografia) é não só motivo de orgulho, mas uma distinção que tipicamente abre portas e à qual as empresas e as pessoas genericamente atribuem valor, como se de algum modo tivesse alguma “mística”. Confesso que durante muito tempo, um pouco à boleia de toda a gente, atribuí também eu valor, embora talvez sem nunca perceber o porquê e a dimensão desse mesmo valor. Depois de o fazer, e por eu próprio ter passado por essa experiência (especialmente de forma executiva), compreendo e reforço o valor atribuído. E porquê?

Em 1º lugar porque o MBA requere experiência profissional prévia. É completamente diferente aprender e discutir conceitos tendo já passado pela aplicação prática (mais direta ou indiretamente, nem que seja por observação) dos mesmos – podendo assim aprender com essas experiências (nossas e dos outros) – do que aprendê-las no abstrato, como tipicamente acontece nas licenciaturas ou nos mestrados pré-experiência profissional. Isto aplica-se ainda mais nos MBAs executivos, onde a troca de experiências é mais vasta, e por conseguinte mais rica. Nesse sentido, quem faz o MBA acaba mais capaz e mais completo para abraçar desafios do que o era anteriormente.

Em segundo lugar, pela intensidade da jornada e o que ela diz sobre quem a vive, especialmente na lógica executiva. Não é tanto pela dificuldade do MBA, mas sim pelo ritmo e intensidade do mesmo, tal como muitas vezes acontece nos desafios profissionais. O MBA representa 1 a 2 anos de grande dedicação que implica não só muito tempo e muito esforço, mas acima de tudo uma gestão de prioridades muito grande. Pensando no MBA executivo, pelo qual posso falar na 1ª pessoa, representa provavelmente o maior desafio de todos o que eu (ou quem o fez) teve durante a vida profissional, uma vez que é sempre “em cima” de tudo o resto.

Para quem já por si só tem vidas profissionais intensas, acrescentar uma dedicação diária de MBA, uma gestão de uma vida familiar (que por mais apoio e compreensão precisa de ser cuidada), uma tentativa de manter uma vida social ativa e um equilíbrio psicológico e físico, representa um desafio muito grande, sempre próximo do limite do impossível. E tudo isto com uma exigência de coordenação com outras pessoas com desafios e circunstâncias igualmente desafiantes. Requere muita capacidade de foco, de gestão de prioridades, e acima de tudo uma resiliência muito grande. No fundo qualidades indispensáveis para suceder na vida profissional e pessoal, que ficam amplamente provadas (se é que era necessário), com este desafio.

Em terceiro lugar, naturalmente pelos conhecimentos e hard skills adquiridos – um verdadeiro “canivete suíço” da gestão – mas também pela oportunidade de poder experienciar diferentes métodos de ensino, de aprender com pessoas de grande qualidade de diferentes áreas de atuação, de ter uma proximidade grande com o mundo corporate e de tipicamente haver exposição a diferentes realidades e escolas internacionais. Tudo isso naturalmente enriquece a experiência de sobremaneira.

Em quarto lugar, a jornada de autoconhecimento. A intensidade, o desafio, especialmente já com experiência profissional, as pessoas, e a possibilidade de conhecer coisas diferentes leva também a uma natural descoberta e melhor conhecimento próprio, do propósito, das vontades e ambição para o futuro.

E finalmente, e acima de todas as outras, as pessoas. Cada vez, mais, tanto na vida profissional como pessoal, as pessoas, e a forma como nos relacionamos com elas, são realmente o que mais importa, o que mais faz diferença, o que mais preenche, e o que no final do dia levamos. Não é ao acaso que os maiores desafios das empresas são sempre, no final do dia, sobre pessoas. São as pessoas que criam o progresso, são as pessoas que definem o que são as organizações, e nenhum líder moderno pode realmente sê-lo sem ser capaz de ser um excelente líder de pessoas, com empatia, preocupação, capacidade de relacionar-se e de extrair o melhor das suas equipas. Quanto ao MBA, costuma dizer-se que a “melhor parte da viagem é a companhia”.

Neste caso não podia ser mais verdade. Esta experiência partilhada não só traz infinitas vantagens de aprendizagem uns com os outros (com diferentes backgrounds, experiências, nacionalidades), como também cria uma rede de contactos próximos para a vida profissional futura, ligados por este período importante da vida que criou laços fortes de entreajuda e companheirismo. No entanto, e acima de tudo, traz grandes e reais amigos para a vida, e isso não tem preço.

Se me perguntarem: as pessoas que têm um MBA são melhores que as outras? Claro que não, mas definitivamente que são melhores do que o eram antes de o fazerem (a muitos níveis), e mais preparados para serem melhores profissionais e líderes. Acima de tudo passam a carregar uma mochila cheia de experiências e pessoas fantásticas que os acompanham daí para a frente.

“O melhor investimento que podemos fazer, é em nós próprios. Quanto mais aprendemos, mais ganhamos” (Warren Buffet). Neste caso, independentemente do que o futuro reservar para quem tem esta experiência ou fez este investimento, só a jornada e as pessoas que a envolveram já representam por si só um retorno infinito, e nem que seja por isso as 3 letras de MBA já representam muito.

Comentários
Tomás Loureiro

Tomás Loureiro

Tomás Loureiro é Director of Global Intel & Strategic Projects na EDP. Anteriormente, ocupou o cargo de Head of Innovation Intel, sendo responsável por apoiar o CEO da EDP Inovação na definição da estratégia global de inovação e das apostas futuras do Grupo EDP. Também foi Chief of Staff to CEO / Advisor do Board no Grupo Media Capital, responsável por acelerar a implementação da visão estratégica e transformação do grupo, acompanhando também os temas ligados à inovação e customer... Ler Mais..

Artigos Relacionados