Entrevista/ “Mais do que boas notas num exame ou teste, o método Kumon pretende formar alunos autodidatas”

A rede de centros de estudos da japonesa Kumon está em Portugal há quatro anos. A funcionar em regime de franchising, está à procura de profissionais que queiram ajudar a expandir o seu método e que, nas palavras de Manuel Couto, coordenador da Kumon, “queiram mudar o mundo através da educação”.
Foi em 2018 que a rede de centro de estudos da japonesa Kumon se instalou em Portugal. Até então, a sua rede já se estendia a 25 mil centros de estudos espalhados pelo mundo e contava com mais de 4 milhões de alunos inscritos.
Neste momento, existem em Portugal dois centros de educação Kumon, mais concretamente em Matosinhos e em Braga. Mas o objetivo é claro: continuar a crescer.
Ao Link To Leaders Manuel Couto, coordenador da Kumon em Portugal, revelou que “a Kumon tem como previsão a abertura de novos centros, na Grande Lisboa, já neste segundo semestre de 2022”. E, no prazo de cinco anos, o plano de crescimento no nosso país contempla a abertura de 20 centros.
Que balanço faz destes cerca quatro anos de atividade da Kumon em Portugal?
O balanço é muito positivo. Tivemos um crescimento contínuo nos centros Kumon em 2019. No entanto, infelizmente, poucos meses após a implementação dos centros em Portugal, entrámos em pandemia. Nessa altura, tivemos de focar as nossas prioridades na manutenção e estabilização, e no crescimento dos centros em contexto adverso, assim como reorganizar-nos de forma a adaptarmo-nos a um novo paradigma, não só no nosso contexto como na educação em geral. Neste momento, podemos dizer que estamos de volta com o nosso processo de expansão como foco para os próximos anos.
Para quando está prevista a abertura do primeiro espaço na Grande Lisboa?
Prevemos a abertura de novos centros, na Grande Lisboa, já neste segundo semestre de 2022.
E em outros pontos do país?
Pretendemos abrir mais 20 novos espaços em Portugal, sobretudo nas áreas metropolitanas de Lisboa e do Porto, num prazo de cinco anos.
O que está a fazer a Kumon para aumentar o número de centros de educação em Portugal?
Neste momento temos a decorrer campanhas de captação de novos franchisados, pessoas interessadas em abrir centros Kumon a nível nacional. Por essa razão, o nosso principal objetivo passa por encontrar profissionais com vocação educativa, profissionais que queiram mudar o mundo através da educação. Os franchisados devem ter espírito empreendedor, possuir competências, habilidades e atitudes que lhes permitam gerir economicamente o seu negócio e a sua equipa, desenvolver atividades de publicidade e relações públicas, assim como planificar sistematicamente as atividades e as ações próprias de um centro.
Quais os requisitos para se ser um franchisado Kumon?
Para ser um orientador de um centro Kumon é requisito indispensável possuir formação académica, independentemente da área de especialização, e disponibilidade para se dedicar a tempo inteiro à atividade. Recomendamos também que este profissional tenha um bom conhecimento da zona onde pretende abrir o centro. Após o envio do formulário de inscrição, os candidatos entram num processo de seleção onde são avaliados pela sua vocação educativa, paixão pelo trabalho com crianças e o desejo de criar impacto no mundo da educação, e têm pela primeira vez contacto com o nosso material didático.
“O investimento mínimo para a implementação de um centro Kumon situa-se entre os 12 e os 20 mil euros”.
Qual o valor de investimento de abertura de um centro?
O investimento mínimo para a implementação de um centro situa-se entre os 12 e os 20 mil euros. Esta estimativa inclui a taxa de adesão ao franchising (dois mil euros mais IVA), as despesas de reforma e adequação do local, o mobiliário, licenças, honorários e seguros.
O que diferencia o vosso método dos restantes métodos?
“O método Kumon não pretende encher os alunos com conhecimentos como se fossem meras caixas vazias, prefere fomentar em cada aluno o desejo de aprender, de desfrutar da aprendizagem e de ser capaz de estudar o que lhe fizer falta ou o que quiser no futuro”. Estas palavras são do nosso fundador, o japonês Toru Kumon, que nos anos 50 criou um método de estudo único, cujo objetivo, mais do que transmitir um conhecimento específico, passava por potenciar a aprendizagem dos alunos, através da aquisição de ferramentas capazes de, não só aumentar as suas capacidades, como também a própria vontade de aprender de forma autodidata.
A família tem neste método um papel fundamental para o sucesso de cada aluno. Como se processa este acompanhamento?
O papel da família é sem dúvida fundamental. O facto de a família estar envolvida é essencial para os nossos programas, dado que o centro Kumon está pensado para incutir o hábito de trabalho individual e autónomo de cada aluno na sua própria casa, algo que num contexto atual é altamente benéfico.
É importante referir que o objetivo final, que as famílias devem esperar, é que o aluno deverá terminar todo o material didático, a fim de aproveitar todas as vantagens que o mesmo oferece, visando o desenvolvimento do potencial e o estabelecer de um comportamento autodidata. Neste ponto, o aluno já não precisará do seu orientador. O aluno será o protagonista da sua aprendizagem, porque o centro Kumon ter-lhe-á proporcionado ferramentas e valores vantajosos para a vida inteira.
Qual é neste momento a vossa oferta formativa?
Em Portugal o método tem dois programas: o Kumon Matemática e o Kumon English. Mais do que boas notas num exame ou teste, o método Kumon pretende formar alunos autodidatas que demonstrem uma atitude positiva perante o estudo e aprendam conteúdos novos por eles próprios.
Tem sido fácil lutar contra padrões de ensino? Os portugueses estão abertos a novas formas de aprender?
Temos uma rede de 25 mil centros, em todo o mundo, mais de 4 milhões de alunos e estamos em mais de 62 países, como tal, o conhecimento do nosso método, mesmo quando entramos em novos países, facilita a nossa aceitação por parte das famílias. Obviamente é necessário esclarecer as diferenças que existem no nosso método com outro tipo de atividades extracurriculares, assim como é importante apresentar os múltiplos benefícios que pode trazer, contrariando a perspetiva de procurar soluções educativas para os nossos filhos apenas quando surgem os problemas.
“O ensino deve ser cada vez mais personalizado e focado no desenvolvimento das soft skills de cada aluno, tal como fazemos todos os dias nos nossos centros (…)”.
Nas empresas ainda se olha muito para as notas e currículos antes de contratar. O que é preciso para mudar este paradigma de recrutamento?
O paradigma terá forçosamente que mudar através da educação, que serve como base estrutural da nossa sociedade. O ensino deve ser cada vez mais personalizado e focado no desenvolvimento das soft skills de cada aluno, tal como fazemos todos os dias nos nossos centros, pois, além das competências técnicas, estas são cada vez mais valorizadas no mercado de trabalho que, consequentemente, terá que adaptar-se à mudança.
De que forma o modelo de ensino da Kumon poderá contribuir para preparar futuros empreendedores?
Temos em todo o mundo inúmeros exemplos de antigos alunos com carreiras de sucesso em diferentes áreas profissionais. No entanto, acima de tudo, gostaria de referir que todos aqueles que acabaram por concluir o método referem algo em comum – terem sido alunos do método Kumon proporcionou-lhes não sentirem dificuldades, ao longo do seu processo de aprendizagem, em vários contextos da sua vida.
Projetos para o futuro do grupo no mundo e em Portugal?
Neste momento está a ser implementada a introdução do método Kumon em formato digital, replicando exatamente o que acontece em papel, mas agora através de tablets, não excluindo a continuidade da utilização do material no seu formato tradicional utilizado até agora.
Respostas rápidas:
O maior risco: Mesmo sendo uma atividade educativa, não podemos beneficiar da isenção do IVA em Portugal, algo que não acontece em muitos outros países.
O maior erro: Não termos contemplado a expansão para Portugal alguns anos antes.
A maior lição: Mesmo em contextos adversos como o da pandemia, a maioria das famílias portuguesas preocupa-se com a educação, colocando-a como prioritária nas suas vidas.
A maior conquista: A difusão da nossa marca em Portugal e os bons resultados que temos obtido com muitos dos nossos alunos.