Opinião
Mais de 100 dias no Benfica

Antes de mais, um disclaimer – sou Administradora Não Executiva Independente do Sport Lisboa e Benfica Futebol, SAD. Por opção, entendendo que se sou Administradora independente não posso ser sócia do acionista maioritário da sociedade, pelo que não sou sócia do Sport Lisboa e Benfica, e nas eleições que se aproximam não vou poder votar. Mas se pudesse, o meu voto ia para Rui Costa!
Admito que o que escrevo abaixo possa ter algum enviesamento decorrente da minha proximidade com ele, mas não posso deixar de relatar um pouco do que vivi na SAD nestes mais de 3 anos.
Não conhecia o Maestro, exceto como admiradora do fantástico jogador que foi. Há época, dividíamo-nos entre “sou do Figo” ou “sou do Rui Costa”.
Eu “era” do Rui Costa… e o meu conhecimento a isso se limitava!
Um dia no início de 2022 recebi um telefonema completamente inesperado – um convite para integrar o Conselho de Administração da SAD do Benfica.
Tenho de confessar que embora tenha pedido tempo para pensar e pedido para saber algumas informações, a minha decisão estava tomada no momento em que recebi o telefonema.
Apetecia-me demais aceitar para pôr a hipótese de recusar. E assim começou uma aventura que dura há mais de 3 anos.
Não sei o que vai acontecer, não sei o que o futuro reserva ao Benfica, mas sei o que fizemos nestes anos, e fica-me difícil ouvir constantes referências à nossa incompetência sem mostrar o que, na minha opinião, foi conseguido, para alem dos títulos ou taças.
Primeira reunião de Conselho, alguns nervos e uma interrogação – como iria ser o papel de mulheres (eramos 3) num mundo governado por testosterona e emoções?
Um espanto perante a enorme empatia do Presidente e a clareza do seu discurso. As primeiras lições de futebol, a ambição de vencer e conquistar títulos, as razões pelas quais nos queria a bordo – a vontade de dotar a SAD de uma Governance exemplar, e a noção do pouco que à data sabia do que era o universo em que estava a entrar.
Os meses foram passando, e as coisas acontecendo.
Constituição de uma Comissão Executiva, elaboração de Regulamentos do Conselho de Administração e da Comissão Executiva, criação de uma Comissão de Controlo Interno e Partes Relacionadas, implementação de um Canal de Denuncias.
O papel das duas outras mulheres, juristas, que também integraram a Administração nesta altura, determinante e fundamental.
O Presidente sempre a querer perceber o porquê das coisas e a apoiar as iniciativas, que podiam parecer apenas burocracias, mas que compreendia eram fundamentais para a transformação que queria fazer na SAD.
Os momentos de alegria com a conquista do Campeonato, e a sempre presente noção de que as vitórias eram de todos, mas os desaires responsabilidade sua.
Os momentos difíceis, com saídas de pessoas relevantes no Conselho e do treinador escolhido para concretizar um projeto desportivo ambicioso, a redução de um plantel demasiado extenso e a procura de talentos para garantir o futuro.
A descoberta de novos ídolos, e a tristeza de ver a saída de alguns deles, as explicações sempre claras e lógicas dos próximos passos e das decisões a tomar no que respeita ao futebol (área em que reconheço ainda nada sei, mas muito aprendi!).
O duro abandono de um amigo num momento difícil, e a coragem de seguir em frente em cenários complicados, a entrada de novas pessoas no Conselho e os desafios da sua integração.
A execução de processos de orçamentação e controlo orçamental, rigorosos, com objetivos claros e elaborados bottom up com o envolvimento de todos os responsáveis de Direções e Departamentos, a procura incessante da melhor forma de defender a SAD dos vários processos judiciais em que estava envolvida.
O apoio a iniciativas no âmbito da Sustentabilidade, com a elaboração de um relatório reconhecido como exemplar, a realização de um Inquérito de Partes Relacionadas a todos os órgãos sociais e colaboradores com poder de decisão e de um Inquérito de Conflito de Interesses a todos os órgãos sociais.
Tudo isto (e mais…) aconteceu com avanços e retrocessos, com o contributo de todos os membros do Conselho e a paciência necessária para fazer avançar uma grande organização, que, como todas, tem os seus hábitos e os seus vícios.
Contámos com um Presidente sempre presente, sempre curioso em saber mais, sempre a procurar envolver todos de forma consensual nas decisões a tomar, sempre interessado em fazer mais e melhor.
Vi a SAD desenvolver-se nos vários parâmetros de ESG, convivo com uma estrutura tão preparada e profissional como as das multinacionais ou grandes empresas em que trabalhei, acompanho uma gestão financeira exemplar, assisto a decisões sobre futebol que percebo e concordo, tenho orgulho de fazer parte do Conselho que nos trouxe até aqui.
E tenho a certeza de que, hoje, a Sport Lisboa e Benfica Futebol SAD está muito mais preparada para o futuro do que estava há 4 anos!
Tem sido mais uma das lições da minha Vida.
Nem tudo se consegue depressa, dificilmente se consegue à bruta, mas com a certeza de que estamos a fazer o certo e uma grande dose de resiliência, lá chegamos!
A que tive a sorte de acrescentar o privilégio de ter conhecido um Rui Costa grande fora de campo, elegante a gerir como foi a jogar, carismático e de enorme inteligência emocional, que me foi conquistando ao longo destes anos e de quem hoje me orgulho de ser amiga!
Obrigado, Presidente, pela experiência que tem proporcionado.