Opinião

Humor – uma excelente ferramenta de gestão

Diogo Alarcão, gestor

Rio-me sempre que vejo alguém levar-se demasiado a sério ou a dar-se demasiada importância. Rio-me quando dou por mim a levar-me demasiado a sério ou a dar-me demasiada importância.

As nossas organizações estão cheias de pessoas que se levam demasiado a sério ou que se dão demasiada importância. Este tipo de comportamento leva a situações que não desejamos. Quem se leva demasiado a sério tende a fechar-se sobre si mesmo porque cai frequentemente na armadilha do seu próprio ego, agarra-se às suas certezas e entrincheira-se nas suas verdades. Quem se dá demasiada importância fica refém do seu ego ao deixar-se deslumbrar pelas suas ideias e maravilhar-se com os seus feitos.

Infelizmente, a liderança ainda é demasiadas vezes um exercício de poder narcísico. O “chefe” vê-se a si mesmo como o iluminado ou, pelo menos, como aquele que está mais bem preparado para tomar as decisões certas para e pelos outros. Infelizmente, muitas vezes as dinâmicas das organizações criam movimentos que reforçam e alimentam esse narcisismo. O chefe que gosta demasiado de si tende a rodear-se daqueles que lhe dizem o quão bela é a sua liderança. Vemos avolumarem-se nesses modelos organizacionais hordas de seguidistas e bajuladores que matam a liberdade de pensar, asfixiam a criatividade, aniquilam a inovação e perpetuam modelos que, por não se renovarem, tendem a fechar-se sobre si próprios.

Ora, a liderança não pode ser um exercício cego, fechado e autocentrado. Antes pelo contrário, a liderança tem que assentar na visão larga, na abertura e no serviço aos outros. Um líder que se fecha sobre si mesmo está menos preparado para se confrontar com as suas fragilidades. Um líder que cultiva o “seguidismo” está menos predisposto a deixar-se interpelar pelos sinais de mudança. Um líder que pensa mais em si e nos seus interesses está menos atento às necessidades dos outros, sejam eles colaboradores, fornecedores ou clientes.

Enquanto líder tenho muitas vezes observado como são nefastas, para as pessoas e para as organizações, as lideranças narcísicas e autocentradas. Mas, também tenho podido testemunhar com alegria como florescem e se desenvolvem as pessoas e organizações lideradas com base no sentido do serviço e no respeito pela diversidade de opiniões e de experiências.

A questão que se pode colocar é, pois: Como posso, enquanto líder, escapar à armadilha do meu próprio ego?

É aqui que o humor pode ser uma poderosa ferramenta de gestão. Aquele que consegue rir-se das suas incertezas, dos seus erros e das suas contradições está mais bem preparado para “dar a volta” ao seu ego. Podemos ter uma de duas atitudes perante uma decisão errada ou uma incoerência na forma como agimos:

a) Não reconhecer o erro ou negar a incoerência do meu comportamento porque, como líder, tenho sempre razão e não posso fragilizar a imagem de perfeição que construi de mim próprio;

b) Reconhecer humildemente que errei, rir-me da minha incoerência e pedir desculpa porque, como líder, tenho as minhas debilidades.

O líder que se sabe frágil, é forte e constrói organizações fortes. O líder que se diz forte, é frágil e constrói organizações frágeis.

Quando temos a capacidade de superar uma dificuldade, com um sorriso na cara, fazemos bem a nós próprios porque não nos deixamos consumir pelo medo, para além de fazermos bem às nossas equipas porque lhes transmitimos confiança. O humor ajuda-nos a relativizar o que nos é apresentado como uma impossibilidade, um obstáculo insuperável ou uma fatalidade à qual não podemos fugir.

Se pensarem no vosso dia a dia certamente já viveram ou testemunharam situações em que, quando tudo parecia perdido ou um caos, alguém disse uma piada que desanuviou a situação e que permitiu encontrar uma solução. O humor abre-nos muitas vezes a janela para resoluções mais simples e de mais fácil implementação do que alguma vez pensámos. Quando estamos cheios de nós próprios e nos levamos demasiado a sério, fechamos essas janelas.

Aquele que consegue rir de si próprio está mais bem preparado para liderar os outros porque sabe que não é nem mais nem melhor do que a sua equipa, apenas ocupa temporariamente um lugar diferente.

Não sei se rir é o melhor remédio, mas sei que rir de mim mesmo faz-me bem e tem-me ajudado a perceber e a estar mais próximo daqueles que comigo trabalham. Sinto-me grato por me aceitarem como sou.

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Diogo Alarcão

Diogo Alarcão

Diogo Alarcão tem feito a sua carreira essencialmente na área da Gestão e Consultoria. Atualmente é Vogal do Conselho de Administração da Autoridade de Supervisão de Seguros e Fundos de Pensões. Foi Chairman da Marsh & McLennan Companies Portugal e CEO da Mercer Portugal. Foi Diretor da Direção de Investimento Internacional do ICEP, de 1996 a 2003. Foi assessor do Presidente da Agência Portuguesa para o Investimento de 2003 a 2006. Licenciado em Direito, pela Universidade de Lisboa, concluiu posteriormente... Ler Mais..

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