Entrevista/ “O empreendedorismo não vive apenas nos grandes centros urbanos”

Com cerca de três meses de existência, a StartUP Torres Novas, projeto integrado no programa Torres Novas + da autarquia, acolhe já 14 novas empresas incubadas. As candidaturas a esta incubadora de empresas continuam abertas.

Inaugurada em outubro passado, a StartUp Torres Novas ultrapassou o objetivo inicialmente definido de alcançar os dez projetos incubados até ao final de 2016. Na incubadora de Torres Novas, estão ideias de negócio de áreas tão diversificadas como cultura, tecnologia, saúde, turismo, retalho ou agricultura.

Uma empresa que aposta na produção de produtos de hidroponia, num projeto que alia tecnologia e agricultura e que dá por nome de Horta D’Água, uma aplicação chamada AppyFans que pretende ligar o comércio local aos seus clientes através dos dispositivos móveis, ou a web série ficcional “Os Foragidos” que visa levar o espetador numa viagem sobre o património natural do interior de Portugal, são alguns exemplos de projetos já instalados na StartUp Torres Novas.

Com a maioria das empresas a optarem pela modalidade de incubação física, dos 14 projetos, dois encontram-se já em fase de aceleração e os restantes estão ainda no estágio de incubação. Para Nuno Valente, coordenador da StartUp Torres Novas, o balanço destes primeiros meses é “muito positivo”.

Porquê uma incubadora em Torres Novas? O que os levou a seguir este caminho?
Em primeiro lugar, a enorme procura que identificámos nos últimos anos por parte de muitos torrejanos que expunham as suas ideias e que acabavam por não ter consequências efetivas de concretização, ou seja, um potencial existente a ser desaproveitado. Além disso, a enorme capacidade do concelho em captar investimento, pela sua centralidade e oferta de recursos e serviços, e também pelas empresas que podem ser a ponte para a alavancagem das start-ups que se estão a criar.

Quais os maiores desafios que se colocaram na sua criação e primeiros meses de atuação?
A criação do ecossistema ideal. Foi um desafio enorme, porque queríamos conjugar os melhores player’s nas diferentes vertentes que consideramos necessárias, como o mundo académico, as instituições, outras incubadoras, financiadores, os mentores mais adequados, etc.. O projeto arrancou com 21 parceiros e, no final, todos partilharam a nossa visão de que o empreendedorismo não vive apenas nos grandes centros urbanos.

Os maiores desafios nos primeiros meses estiveram ligados à operacionalização da incubadora, principalmente em gerir as necessidades de cada incubado e as suas expetativas.

Qual o balanço que faz destes cerca de três meses de existência?
Muito positivo. Atualmente, já temos 16 projetos incubados, o ritmo de chegada de candidaturas continua a aumentar, assim com a qualidade dos projetos e verifica-se que temos candidaturas não só da região de Torres Novas, mas de todo o país. Começamos a comprovar que estamos a construir e a contribuir para uma maior dinamização do ecossistema empreendedor no centro do país.

Quais as mais-valias da StartUP Torres Novas para a região?
Acima de tudo, estamos a contribuir para uma cultura de empreendedorismo e a construir um ecossistema de partilha de conhecimento, no fundo uma rampa de lançamento para ideias se transformarem em negócios. Queremos que, com a StartUp Torres Novas, os empreendedores se centrem nas ideias, sintam que fazem parte de um ecossistema e que isso venha a traduzir-se em negócios de sucesso, criação de emprego, criação de serviços e produtos que são necessários às pessoas e empresas da região e não só.

Que papel tem a Câmara Municipal de Torres Novas na incubadora?
Trata-se de um projeto municipal. A StartUp Torres Novas está integrada na Unidade de Projeto Torres Novas + e é a face mais visível, atualmente, da estratégia de empreendedorismo e inovação do Município. O papel do Município será dar continuidade ao projeto e promover o seu crescimento.

Quantas start-ups integram já a incubadora e de que setores de atividade?
Neste momento, temos 16 projetos incubados, entre ideias e empresas. Temos já dois comités de avaliação de candidaturas agendados para avaliar mais 20 projetos.

Qual a modalidade de incubação mais procurada e em que fase de aceleração estão estas empresas?
A fase mais expressiva é a pré-incubação, sendo que a maioria dos projetos estão a passar para a fase de incubação. Dos 16 incubados, 3 são já empresas em fase de angariação de financiamento.

Como caracteriza as start-ups já incubadas?
Acima de tudo, inovadoras. São, na maioria dos casos, projetos únicos e, creio, com potencial para chegarem ao mercado até ao final do ano.

Quais os maiores desafios e necessidades da incubadora neste momento?
Capacitar convenientemente os incubados, preparando-os para os desafios do mercado e a criação de um fablab de referência. Em termos de necessidades e dada a procura da incubadora, mais recursos humanos.

E as start-ups? Por onde tem de passar o futuro de Portugal para se afirmar internacionalmente como um pólo de incubação de start-ups?
O caminho está traçado e o alinhamento nacional é notório. É evidente que Portugal conseguiu posicionar-se como região empreendedora e inovadora na Europa e no mundo. Temos de continuar a dar palco às start-ups, para cativar investidores que possibilitem o salto global.

O que procura Paulo Pereira da Silva (CEO Renova), Rui Leitão (CEO Digidelta), Victor Figueiredo (CEO Univeg), Carlos Marçal (CMO GresTejo S.A.) e Miguel Cunha (Director Casal das Flores, Lda), do comité de seleção, nas start-ups a incubar em Torres Novas?
Como torrejanos procuram, desde logo, contribuir com a experiência e o know how que têm para o desenvolvimento do concelho que os acolheu. Depois, tendo a consciência de que estamos a atrair massa crítica e cérebros para o concelho, isso significa oportunidades de desenvolvimento conjunto de projetos e de resposta a necessidades do mundo empresarial.

Tem o interior do país uma palavra a dizer no estímulo ao empreendedorismo e em casos de sucesso?
Esse foi um dos mitos que, desde o início, quisemos desmistificar, que o empreendedorismo só estava reservado para os grandes centros urbanos, situados no litoral principalmente. A nossa resposta foi o “centra-te” e a adesão à StartUp é prova de que, aqui, além de estarmos perto de tudo, com mais qualidade de vida, com acesso a equipamentos fantásticos, oferta cultural de excelência, todo o tipo de serviços e comércio, constitui fator de diferenciação único. Torres Novas é tudo isto.

Respostas rápidas:
O maior risco: Não arriscar!
O maior erro: Devia ter pedido mais espaço para a incubadora.
A melhor ideia: StartUp Torres Novas.
A maior lição: Sem perseverança, dificilmente se passa da ideia ao negócio.
A maior conquista: Os 16 projetos incubados na StartUp Torres Novas nestes primeiros meses.

As 14 start-ups incubadas StartUp Torres Novas: