Opinião

O efeito oculto do Web Summit

Sérgio Ribeiro, CEO e cofundador da Planetiers

Porquê mais dez anos de Web Summit? Mais dez anos de eventos, mais dez anos de inovação e start-ups, mais dez anos de turistas, mais dez anos de comunicação social e investimentos, mais dez anos de infinitos posts e comentários nas redes sociais, tanto a elogiar como a rasgar o evento. Mas o que raio significa exatamente ter o Web Summit em Lisboa e em Portugal?

Fiz inclusive esta pergunta a mim mesmo e não foi fácil chegar a uma resposta. Foram precisos alguns momentos de introspecção e de ouvir muitas opiniões para chegar a algumas conclusões.

Em primeiro lugar, apercebi-me de que a reação mais natural do ser humano nunca ultrapassa o óbvio. Tudo o que está para lá do horizonte de curto espaço de tempo, o ser humano tem muita dificuldade em processar e a reagir de acordo. E este fenómeno está presente desde a nossa perceção da realidade em temas que vão desde as alterações climáticas à perceção de plano pessoal de vida – é extremamente difícil aceitarmos anos de grande esforço, sem retorno imediato, porque é difícil visualizar retornos a longo prazo, mesmo que sejam superiores. No entanto, com a nossa história, poucas desculpas temos para não combater esta tendência natural. Perguntemos aos nossos antepassados que, apesar de todos os riscos, sabiam que o futuro era para além do horizonte. E assim foram…

Todos queremos maiores salários, melhores condições de vida, maiores investimentos em infraestruturas e serviços. No entanto, sem criação de valor, não conseguiremos alavancar a nossa economia. Isto é, sem investimento, não se aumenta riqueza. Sem aumento de riqueza, não conseguiremos todas as melhorias que a sociedade exige (e deve exigir!). Mas não podemos ambicionar novos mundos sem querer navegar pelos riscos de alto mar.

Claro que também me preocupo com a falta de investimento noutros setores. Devemos garantir serviços básicos e de qualidade na saúde, na educação e todas as outras áreas críticas a uma civilização evoluída. Mas para isso temos que fazer mais. E diferente. Senão continuaremos a corresponder à definição que Einstein deu para “insanidade” – continuaremos a fazer sempre a mesma coisa e a esperar resultados diferentes”.

O nosso presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, disse algo na receção às start-ups portuguesas, durante o evento Road 2 Web Summit, que reforçou ainda mais a minha ideia de que os portugueses estão a adoptar opiniões de extremos. Disse, e passo a citar:
“Não podemos achar que o Web Summit vem resolver tudo. Mas também não podemos repudiar ou ignorar tudo o que o Web Summit representa ou traz de valor para o país.”

E é isto. A realidade na maioria dos casos é esta. Vemos uma enchente de pessoas ou a chamar nomes ou a idolatrar cegamente o evento. Para mim, extremos nunca resultam, e apercebi-me que neste caso a minha posição deveria ser a mesma.

Eventos como o Web Summit são uma oportunidade, não uma garantia. E como qualquer oportunidade, ou é bem aproveitada ou bem desperdiçada. Só depende de nós. Acho que temos que começar a pensar que tipo de pessoa queremos ser quando nos é entregue uma oportunidade.

Ao estarmos presos numa ilha, se nos derem um bote, reclamamos por não vir com remos ou agradecemos e improvisamos uns?

Nesta nova era global apenas teremos as oportunidades caso existamos para o mundo. E para existir precisamos de comunicar. Soube que a comitiva do governo que visitou Silicon Valley, ainda durante este ano de 2018, ouvia dois pares de palavras sempre que falavam de Portugal: Cristiano Ronaldo e Web Summit.

Sim, o Web Summit não trará tudo o que queremos e não nos levará por si só aos nossos objetivos como país e sociedade. No entanto, é uma prova dada da nossa capacidade. É um exercício importante de comunicação e afirmação de Portugal como referência em áreas críticas para o desenvolvimento. É hora de aproveitar e a apostar não só neste, mas noutros grandes projetos internacionais para Portugal!

Não, o resultado pode não ser óbvio ou imediato. Mas e se um jovem português que vá ao Web Summit fique inspirado a criar algo enorme? E se ele realmente criar daqui a uns anos uma mega empresa ou um produto revolucionário? Isto é apenas um exemplo e resultados destes são difíceis de contabilizar, mas estão lá. E só existem se nos pusermos a jeito de acontecer.

Uma das maiores parcerias que temos na Planetiers é o departamento de informação das Nações Unidas. Surgiu de uma mensagem no Linkedin. E esta surgiu de uma conversa num café. E este café veio de um contacto totalmente ao acaso. Podia continuar infinitamente com esta engenharia inversa e iríamos perceber que, mesmo neste pequeno exemplo, o butterfly effect é real – é o principio que tem por base que o simples bater de asas de uma borboleta poderia desencadear uma série de acontecimentos capazes de criar um furacão no outro lado do planeta. Imaginem agora este efeito numa escala coletiva, nacional e com dinâmicas internacionais, como é o caso de um evento como o Web Summit.

É por este princípio de butterfly effect que acredito que Portugal vai colher excelentes resultados ao se posicionar como país, e marca, de referência mundial nos temas de maior potencial para o futuro da humanidade.

Agora… ainda muito temos por fazer. Bora lá aproveitar todas as oportunidades!

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