Opinião

Tirando os casos excecionais daqueles que têm um emprego, nós comuns mortais que lidamos no dia a dia com um trabalho sabemos bem a importância que a gestão do tempo tem na nossa vida profissional.

Gerir o trabalho diário é, acima de tudo, um exercício muitas vezes inglório de gestão de expetativas – nossas, dos nossos chefes, das nossas equipas, dos nossos clientes – de modo a garantir que, na impossibilidade de fazer um milagre da multiplicação dos ponteiros do relógio (que tanto jeito por vezes daria), ou não conseguindo ainda aplicar na prática e de forma corriqueira a teoria da relatividade, aquele tempo que temos disponível é, em si mesmo, suficiente e adequado para o trabalho que nele teremos de desenvolver.

Ora, se não podemos controlar o tempo – ainda, ainda… –, essa fera que corre sem qualquer limitação, avançando inexoravelmente em frente (até que provem que anda para o lado, para trás, ou outra qualquer direção que não consigo por ora imaginar), resta-nos então tentar controlar o outro fator desta equação, o trabalho. E se pensarem que é mais fácil do que gerir o tempo, vão provavelmente ter uma surpresa muito desagradável.

Ainda assim, e como diz a famosa oração, temos de aceitar o que não conseguimos mudar (tempo) e tentar fazer a diferença naquilo onde efetivamente podemos vir a ter algum impacto (gestão do trabalho). É por esse motivo que sou um feroz defensor da domesticação desse animal selvagem a que chamamos trabalho, ou das suas crias, as tarefas!

Em tempos tive uma colega, que muito respeito, que me dizia que as urgências só aconteciam quando alguém não tinha feito o que devia em tempo útil e esperava agora que outrem – ela – fizesse o inalcançável em tempo impossível. Nunca me esqueci desse ditado que tinha na parede por detrás da sua secretária, e da quantidade de vezes que apontava para o mesmo quando eu lhe dizia que tinha uma urgência.

Foi talvez motivado por esse sábio ensinamento que sempre tentei disciplinar o trabalho, evitar as urgências e gerir antecipadamente as tarefas. Sei que disciplinar o trabalho é uma tarefa muito complicada, tanto mais que por vezes implica saber disciplinar chefias ou clientes, mas acredito piamente que com planeamento e organização conseguimos sempre mitigar os efeitos nefastos das urgências e imprevistos ou, um pouco à laia de um governo, conseguir excedentes orçamentais temporais que acomodem uma despesa – temporal – extra para qualquer situação que não tinha sido considerada à partida.

É fundamental sermos profissionais, sermos diligentes e conseguirmos cumprir prazos. Mas também é fundamental reconhecermos que tem de existir um equilíbrio entre esses valores e o nosso bem-estar físico e mental, cada vez mais incompatível com a ansiedade e stress que o trabalho “nos tenta colocar” diariamente. Por isso, o conselho que deixo é mesmo este. Viver a vida, domesticando o trabalho, mas sempre assumindo um compromisso profissional, pessoal e familiar que seja exequível e não contraditório. E com isso ganhamos tempo, afinal de tudo.

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Nuno Madeira Rodrigues

Nuno Madeira Rodrigues

Nuno Madeira Rodrigues é atualmente coordenador do Departamento de Direito Imobiliário na Pinto Ribeiro Advogados. Anteriormente, foi Country Manager PT Arnold Investments, Chairman da BDJ S.A, Chairman da Lusitano SAD, Administrador do Grupo HBD e Presidente do Conselho de Administração da Lusitano, SAD, e do Conselho Fiscal da Associação Lusófona para as Energias Renováveis. É ainda Vice-Presidente do Conselho Fiscal da Associação Portuguesa de Promotores e Investidores Imobiliários, Membro do Conselho Consultivo da Plataforma Sustentar e Presidente da Direção da... Ler Mais..

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