Entrevista/ “Como empresa de logística temos a responsabilidade de abrir caminho ao desenvolvimento profissional e à progressão de mais mulheres”

“O segredo para navegar com êxito em mercados diferentes é ter flexibilidade, adaptabilidade e vontade de aprender com o contexto local”, afirma Romina Lorenzo, Finance Coordinator & Controller para o Sul da Europa, Turquia, Médio Oriente e África da UPS, em entrevista ao Link to Leaders.

Menos de dois anos depois de ter assumido a função de Country Manager da UPS para Portugal e Espanha, Romina Lorenzo decidiu aceitar um novo desafio. A argentina, que, no cargo anterior, tinha como principais focos a diversidade, a sustentabilidade e o apoio a pequenas e médias empresas, assumiu o compromisso de ser a nova Finance Coordinator and Controller para o Sul da Europa, Turquia, Médio Oriente e África da UPS.

Com mais de 18 anos de experiência na empresa de logística, Romina Lorenzo revela que as suas novas funções “incluem assegurar a exatidão das demonstrações financeiras, bem como recomendar alterações para melhorar o desempenho financeiro. No fundo, sou a guardiã das operações financeiras da empresa no Sul da Europa, Turquia, Oriente Médio e África”.

E fala da aposta da UPS no reforço da liderança feminina. “Na UPS, estamos empenhados em promover a diversidade de género e a inclusão no local de trabalho. A empresa definiu a meta de ter 30% dos cargos de liderança a tempo inteiro em todo o mundo preenchidos por mulheres até 2025. Temos ainda a sorte de ter Carol Tomé como CEO, uma das poucas mulheres CEO na lista da Fortune 500, que compreende o poder da diversidade, o qual se reflete em toda a organização“, detalha.

Qual a sua missão enquanto Finance Coordinator and Controller para o Sul da Europa, Turquia, Médio Oriente e África da UPS?

Como Finance Coordinator & Controller para o Sul da Europa, Turquia, Médio Oriente e África da UPS, tenho um papel fundamental na manutenção da saúde financeira da empresa nesta região. Com a minha equipa, somos responsáveis pelo planeamento financeiro, previsão, orçamentação e garantia do cumprimento da legislação governamental. As minhas funções incluem assegurar a exatidão das demonstrações financeiras, bem como recomendar alterações para melhorar o desempenho financeiro. No fundo, sou a guardiã das operações financeiras da empresa no Sul da Europa, Turquia, Oriente Médio e África.

“A tecnologia está a evoluir rapidamente e é importante manter o compromisso de continuar a aprender”

Quais os principais desafios deste novo cargo?

Eu diria que os principais desafios são, por um lado, transmitir informações financeiras complexas a departamentos que podem não estar familiarizados com certos conceitos e, por outro lado, a proficiência em novas tecnologias. A tecnologia está a evoluir rapidamente e é importante manter o compromisso de continuar a aprender. A UPS tem uma cultura de aprendizagem contínua e fornece todas as ferramentas para ajudar os colaboradores a desenvolverem as suas competências e confiança, de modo que se mantenham a par das últimas tendências e possam assumir novos desafios e responsabilidades dentro da organização.

Como consegue adaptar-se a mercados tão distintos? Qual o segredo?

Na UPS, acreditamos no poder do trabalho em equipa. Cada membro da nossa equipa traz a sua experiência para a mesa, o que nos ajuda a adaptar-nos a mercados diversos. Compreender as subtilezas culturais, sociais e geopolíticas de cada região é decisivo para o nosso sucesso.

O segredo para navegar com êxito em mercados diferentes é ter flexibilidade, adaptabilidade e vontade de aprender com o contexto local. Ao abraçarmos a diversidade destes mercados e estarmos abertos a novas ideias, ligamo-nos melhor a todas as equipas e, em última instância, criamos ligações profundas com os nossos clientes. E tudo isto é possível devido ao ambiente multicultural e inclusivo da UPS.

Como avalia a liderança feminina nas empresas hoje em dia?

Nos últimos anos, temos assistido a um aumento da liderança feminina dentro das empresas, um desenvolvimento verdadeiramente positivo. No entanto, ainda existem desafios e barreiras para as mulheres chegarem a altos cargos de liderança. Precisamos de garantir que as mulheres têm oportunidades de progredir e desempenhar funções de liderança e que as organizações fornecem o apoio e os recursos necessários para a sua progressão na carreira. É fundamental que as empresas deem prioridade à igualdade de género e criem oportunidades para que as mulheres se destaquem em cargos de liderança. Na UPS, estamos empenhados em promover a diversidade de género e a inclusão no local de trabalho. A empresa definiu a meta de ter 30% dos cargos de liderança a tempo inteiro em todo o mundo preenchidos por mulheres até 2025. Temos ainda a sorte de ter Carol Tomé como CEO, uma das poucas mulheres CEO na lista da Fortune 500, que compreende o poder da diversidade, o qual se reflete em toda a organização.

Além de apoiarmos as mulheres no âmbito da nossa organização, também promovemos vários programas globais em que partilhamos a nossa experiência com empresárias. Por exemplo, o nosso Programa Mulheres Exportadoras, que, desde 2018, ajudou mais de 12 000 empresas comandadas por mulheres.

“(…) trabalhámos com a Comissão Europeia para promover a emancipação das mulheres no setor dos transportes em toda a região”.

O que é ainda preciso fazer para que as mulheres conquistem a independência financeira e melhorem a qualidade de vida no setor da logística e transporte?

Embora a UPS tenha vindo a fazer progressos significativos na igualdade de género, o setor da logística e transporte ainda enfrenta um desequilíbrio de género. Por exemplo, na Europa, apenas 22% dos trabalhadores do transporte e logística são mulheres. É por este motivo que trabalhámos com a Comissão Europeia para promover a emancipação das mulheres no setor dos transportes em toda a região, aderindo à iniciativa “As Mulheres e os Transportes ‑ Plataforma para a Mudança”.

Estamos a assistir a um ligeiro aumento do número de mulheres em cargos de liderança, particularmente nos departamentos de logística, compras e exportação. No entanto, o desequilíbrio nos papéis operacionais ainda é notório, principalmente devido aos estereótipos existentes e à falta de consciência das mulheres quanto às especificidades desta profissão.

Como empresa de logística temos a responsabilidade de abrir caminho ao desenvolvimento profissional e à progressão de mais mulheres. A criação de um ambiente de trabalho favorável e isento de discriminação é decisivo. Uma cultura de diversidade e inclusão garante que as mulheres se sentem valorizadas e respeitadas. O acesso à formação e ao desenvolvimento pode também melhorar as competências e a progressão na carreira.

Os empregadores devem apostar em programas de desenvolvimento profissional. Programas de mentoria e oportunidades de networking podem ajudar as mulheres a estabelecerem contacto com líderes do setor e construírem relações. Ao abordarmos estas áreas chave, podemos melhorar a qualidade de vida das mulheres na logística e no transporte. Internamente, estamos a ver cada vez mais mulheres nas nossas operações na UPS, o que nos dá uma perspetiva otimista quanto ao futuro. É essencial que empregadores, decisores políticos e líderes da indústria criem um ambiente mais inclusivo nesta indústria dominada pelos homens.

“Em Portugal e noutros países, a UPS continua empenhada em acelerar a digitalização dos negócios (…)”.

Quais os objetivos da UPS para este ano em Portugal? E nos mercados que representa?

Em Portugal e noutros países, a UPS continua empenhada em acelerar a digitalização dos negócios. Construir resiliência nas cadeias de abastecimento globais e criar uma economia verdadeiramente hipocarbónica são primordiais para ajudar os nossos clientes, especialmente as pequenas e médias empresas (PME), a prosperar. As PME representam 99% de todas as empresas da UE e, em muitos setores, de acordo com a Comissão Europeia, representam mais de 50% do total das exportações.

Queremos que, para eles, o transporte internacional se torne tão fácil quanto o transporte doméstico. Para isso, continuamos a melhorar a experiência de brokerage dos nossos clientes, digitalizando-a, simplificando-a e integrando-a nos nossos serviços de transporte.

As soluções de tecnologia de brokerage não só contribuem para que as encomendas sejam desalfandegadas mais rapidamente, como também podem poupar dinheiro. Por exemplo, com a nossa fatura eletrónica, as PME poupam tempo, reduzem erros, simplificam os processos da cadeia de abastecimento e reforçam as suas referências de sustentabilidade, mantendo as informações aduaneiras confidenciais.

A UPS tem a missão de se tornar o fornecedor número um mundial de logística complexa de cuidados de saúde. A procura de cuidados de saúde tem vindo a crescer, e empresas de todas as dimensões estão a inovar rapidamente para acompanhar as necessidades de uma população envelhecida e os desafios das doenças crónicas. 55% do pipeline de medicamentos são biológicos, e sempre que falamos de biológicos, quer dizer que são necessários serviços de frio e de monitorização de temperatura.

Estas áreas exigem uma logística de ponta a ponta de precisão, e estamos bem posicionados para crescer ainda mais, apoiados pelos nossos vastos portefólio e rede globais. Fizemos grandes progressos através de investimentos em instalações e tecnologia, além de aquisições estratégicas como a Bomi, que tem sólida presença em Itália e Espanha.

Se um cliente está à procura de alguém para fazer a gestão de tudo, do campo clínico ao comercial, somos realmente a única solução que pode encarregar-se de toda a cadeia de abastecimento de ponta a ponta. A isso chamamos vantagem One UPS, pois estamos a criar uma solução perfeita para os nossos clientes em cada etapa da viagem com a confiabilidade da nossa rede global.

Conta com mais de 18 anos de experiência na UPS e desempenhou funções na área das finanças e contabilidade em diversas cidades europeias, como Bruxelas ou Milão. O que destaca como experiências/situações mais marcantes do seu percurso profissional? Quer pela positiva, quer pela negativa?

Ao longo dos meus 18 anos de carreira na UPS, tive muitas experiências memoráveis, tanto positivas como negativas. Uma das mais desafiadoras foi, sem dúvida, a pandemia de covid-19. O primeiro surto na Europa foi perto de Milão, onde estávamos sediados, e entrámos em confinamento numa altura em que o mundo estava impreparado e em estado de pânico.

Durante esses meses incertos e temerosos, a força, a humanidade e a generosidade demonstradas por todos na nossa equipa foram verdadeiramente notáveis. Fomos levados ao limite, mas todos nós, na UPS, aceitámos o desafio e demos o nosso melhor. Essa experiência de resiliência e união perante as adversidades é algo de que me vou lembrar para sempre.

Que conselhos daria a um jovem que quer fazer carreira na área da logística e transporte?

Convidava-o a abraçar oportunidades em logística e transporte e a mergulhar num setor empolgante e em constante evolução que compreende áreas como o comércio eletrónico, automóvel e saúde. Desde a pandemia, passámos de invisíveis a essenciais. Ao juntar-se a nós, vai poder sentir a emoção de fazer parte de uma equipa unida com o compromisso de mover o mundo para entregar o que importa. Há ainda a oportunidade de crescer e de se desenvolver em toda a organização e, simultaneamente, contribuir para a nossa missão.

“Aprendi que, ao não abraçarmos novas possibilidades, mesmo que pareçam incertas, podemos perder oportunidades valiosas”.

Respostas rápidas :
Maior risco: mudar a minha família para um país estrangeiro sobre o qual pouco sabíamos, e acabou por ser uma experiência incrivelmente gratificante e transformadora para todos nós.
Maior erro: aprendi que, ao não abraçarmos novas possibilidades, mesmo que pareçam incertas, podemos perder oportunidades valiosas.
Maior lição: o trabalho árduo dá sempre frutos.
Maior conquista: tenho perseverado consistentemente no meu desenvolvimento pessoal e profissional, abraçando desafios como oportunidades de crescimento e aprendizagem.