Opinião

Como a Power Dot vê a mobilidade elétrica nos próximos anos

José Sacadura, CEO da Power Dot

A Power Dot desenvolve soluções de carregamento para veículos elétricos, instaladas em parques e zonas de estacionamento, com um modelo de negócio baseado em parcerias. José Sacadura explica como funciona a oferta da empresa e como pretende que a Power Dot contribua para aumentar a mobilidade elétrica em Portugal.

A Power Dot começou a sua atividade em dezembro de 2018 e, um ano depois, já tem mais de 30 carregadores instalados e 60 em instalação. Em apenas um ano, realizou milhares de carregamentos nos seus equipamentos, sendo a eletricidade consumida nos carregadores da Power Dot o equivalente a mais de 1 milhão de quilómetros, ou seja, “duas viagens e meia da Terra-Lua”, como explicou ao Link To Leaders José Sacadura CEO da empresa.

Contribuir para uma maior adesão à mobilidade elétrica, ajudando desta forma a reduzir a dependência de combustíveis fósseis na mobilidade são propósitos que este profissional quer alcançar.

Que balanço faz de um ano de atividade da Power Dot?
O primeiro ano de atividade é fundamental para qualquer empresa. É um ano de conquistas e de grande aprendizagem. Tendo em conta o trabalho que desenvolvemos, conseguimos atingir os objetivos propostos. Por isso as perspetivas para 2020 são animadoras.

De que forma a Power Dot revolucionou o mercado português na área da mobilidade elétrica?
O mercado da mobilidade elétrica em Portugal ainda está numa fase embrionária e a Power Dot nasceu com o objetivo de contribuir para o desenvolvimento da mobilidade sustentável. No entanto, fomos criativos na forma como abordámos o mercado e na aposta num modelo de negócio inovador. A Power Dot investe, instala e opera os carregadores para VEs. O cliente cede o espaço para a instalação dos carregadores. A Power Dot partilha uma parte da receita com o proprietário do espaço de estacionamento sem que este tenha qualquer custo com esta operação.

Ou seja, qualquer proprietário de um parque de estacionamento que queira ter um carregador elétrico, apenas tem que entrar em contacto com a Power Dot e, sem qualquer contrapartida além da cedência do espaço, vai conseguir oferecer um serviço de carregamento aos seus clientes sem custos ou riscos.

(…) para 2020 temos como objetivo chegar aos 100 parques de estacionamento (…).

Quanto faturaram no ano passado?
Por política interna não revelamos este tipo de dados. No entanto, podemos dizer que para 2020 temos como objetivo chegar aos 100 parques de estacionamento, sendo que cada parque pode ter mais do que um carregador.

Quantos clientes têm neste momento?
Já estamos em 13 distritos, com maior foco em Lisboa e Porto, e em mais de 40 parques de estacionamento, como o centro comercial Amoreiras, escritórios da Vieira de Almeida, IPO do Porto, etc. No entanto, em Portugal, qualquer utilizador que tenha um cartão de carregamento de um comercializador de energia pode carregar nos nossos carregadores. O que significa que todo o universo de utilizadores de VEs pode ser nosso cliente.

Como surgiu a parceria entre a Power Dot e a Uber e em que é que consiste?
O parque para veículos elétricos em Portugal ainda é reduzido, e uma vez que existem cada vez mais veículos elétricos a funcionar é fundamental oferecer soluções que respondam a todo o tipo de necessidades. Foi assim que surgiu a ideia de ter espaços de carregamento rápidos, especialmente concebidos para os motoristas Uber, onde estes, além de carregarem o seu veículo, podem descansar, ver televisão, aspirar o carro, etc.
Estamos muito satisfeitos com a adesão dos motoristas e parceiros Uber que desde o primeiro dia abraçaram esta parceria e começaram a utilizar os nossos Power Hubs. Contamos com milhares de carregamentos já efetuados por parceiros e motoristas e estamos confiantes que esta parceria ainda agora começou.

“A nossa estratégia passa por pensar no consumidor final, na sua rotina, e antecipar as suas necessidades (…)”

Qual tem sido a vossa estratégia de marketing?
A nossa estratégia passa por pensar no consumidor final, na sua rotina, e antecipar as suas necessidades, de modo a oferecer uma solução que se enquadre no seu dia a dia. Neste primeiro ano estabelecemos contactos com os principais pontos de paragem, como centros de escritórios, centros comerciais, hospitais, restaurantes. Mas o objetivo é estar em todos os parques de estacionamento. Ou seja, os donos dos parques de estacionamento podem contactar-nos, porque, desde que exista um parque de estacionamento, a Power Dot quer estar lá para oferecer soluções de carregamento integradas e sem custos para os donos dos parques.

Em paralelo, também desenvolvemos soluções de carregamento para veículos elétricos para frotas, como é exemplo a parceria estabelecida com a Uber, adaptando  o tipo de carregamento às necessidades do utilizador do veículo elétrico.

“(…) são necessários mais incentivos para o desenvolvimento da mobilidade elétrica que deem ao consumidor a confiança que ainda lhe falta para optar por um veículo elétrico”.

Como carateriza o setor da mobilidade elétrica em Portugal e quais os grandes desafios que enfrenta?Portugal tem sido pioneiro na adoção deste tipo de mobilidade sustentável. É o 4.º país da Europa com maior percentagem de vendas de veículos elétricos e em 2019 houve um aumento de 69% das vendas dos veículos elétricos. Tem sido também pioneiro na forma como tem criado uma regulação específica para o setor. Apesar do modelo existente trazer vantagens e desvantagens, tanto para os operadores como para os utilizadores, acreditamos que com este modelo é possível desenvolver a mobilidade elétrica em Portugal.

As bases estão lançadas e o consumidor português está consciente da necessidade de mudar, mas são necessários mais incentivos para o desenvolvimento da mobilidade elétrica que deem ao consumidor a confiança que ainda lhe falta para optar por um veículo elétrico. Ou seja, a existência de uma forte rede de carregamento de modo a garantir que não lhe vai faltar a energia. O elevado preço dos veículos que existem hoje em dia no mercado também é um desafio, embora o custo de utilização já compense esta diferença.

Considera que um maior conhecimento do que são os veículos elétricos e das suas vantagens tem contribuído para o aumento da venda destes carros?
Sem dúvida. Um maior conhecimento, uma maior consciencialização, uma melhor oferta, uma rede de carregadores maior e melhor, tudo isto tem contribuído para que Portugal seja 4.º país da Europa com maior percentual de carros elétricos, com as vendas a aumentarem de ano para ano.

“(…) nos últimos anos, o Governo tem vindo a aumentar a verba disponível para incentivar a aquisição de veículos elétricos (…)”

Como carateriza o apoio do Estado neste aspeto?
Muito tem sido feito, mas reforçamos que este ainda é um mercado embrionário e, por isso, há ainda muito por fazer. No entanto, nos últimos anos, o Governo tem vindo a aumentar a verba disponível para incentivar a aquisição de veículos elétricos, sejam automóveis, motas e bicicletas, que já atingiu um total de 4 milhões de euros.

A rede pública de carregamento também tem vindo a crescer e o recente concurso da Mobi.e é um momento importante para a mobilidade elétrica em Portugal. Para além de serem concessionados mais de 600 postos que estarão ativos ainda este semestre, os carregamentos passarão a ser pagos o que é essencial para que haja um modelo de negócio que garanta a operação dos mesmos.

Portugal trata bem o cluster da mobilidade elétrica?
Portugal tem sido pioneiro na adopção deste tipo de mobilidade sustentável e também na forma como tem criado uma regulação específica para o setor. O modelo existente traz vantagens e desvantagens tanto para os operadores como para os utilizadores. No entanto, estamos certos que com este modelo é possível desenvolver a mobilidade elétrica em Portugal.

Também verificamos que um pouco por todo o país se multiplicam ações de informação, como conferências, feiras e exposições, de modo a promover as vantagens dos veículos elétricos e benefícios a nível ambiental e sonoro. Tudo isto somado à elevada recetividade que a aquisição de veículos elétricos está a ter, faz-nos acreditar que este desenvolvimento não é apenas uma moda.

O que vai trazer o futuro no que diz respeito às diferentes formas de mobilidade?
A evolução é notória e está a ser muito rápida. As cidades e as pessoas vão perceber que, mais cedo do que esperam, a mobilidade vai ser elétrica, partilhada e até autónoma.

As cidades portuguesas estão preparadas para abraçar o desafio da mobilidade elétrica?
Acreditamos que sim. Às vezes são necessários incentivos e no fundo a Power Dot quer ser esse incentivo. Acreditamos que o nosso modelo de negócio é vantajoso para todas as partes e, uma vez que não tem custos para o nosso parceiro, é a peça que faltava para algumas cidades darem o passo em frente.

Quais as apostas e estratégia da empresa para este ano?
Em 2020 queremos estar em pelo menos 100 parques de estacionamento diferentes. O nosso objetivo é estar na rota do consumidor, de modo a que este possa carregar o seu veículo sem sair da sua rotina ou sem desvios. Queremos contribuir para a redução da dependência de combustíveis fósseis na mobilidade e queremos ajudar os donos dos parques de estacionamento e as suas marcas a reduzirem o seu impacto de CO2.

Está nos planos da empresa apostar na internacionalização?
Neste momento, estamos focados em criar soluções de carregamento para veículos elétricos em Portugal, que é um dos países da Europa com maior adesão a este tipo de veículo. Mas quem sabe…

Respostas rápidas:
O maior risco:
Burocracia
O maior erro: Até agora tivemos sorte e ainda não houve nenhum erro relevante
A maior lição: Tudo demora mais tempo do que pensamos
A maior conquista: Número de carregadores Power Dot

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