Entrevista/ “Com os “novos” modelos de trabalho é inevitável o afastamento entre as pessoas e empresas”

Tiago Santos, responsável pelo projeto Wellbeing Games

“Tal como numa equipa desportiva, como é que se alcançam bons resultados se não se conhecerem os colegas, se não se confiar uns nos outros?” O alerta é de Tiago Santos, responsável pela iniciativa Wellbeing Games, um evento de team bulding que reúne empresas e colaboradores para promover a cultura empresarial.

A primeira edição dos Wellbeing Games em Portugal realiza-se já na próxima sexta-feira, dia 2 de junho, no Estádio Universitário, em Lisboa. O evento, explica Tiago Santos, responsável pelo projeto, tem como foco estimular uma cultura empresarial assente em valores como cooperação, trabalho de equipa, empatia, sentimento de pertença, superação e forte responsabilidade social.

Numa altura em que “as organizações enfrentam tremendos desafios na gestão de pessoas” e em que “os novos modelos de trabalho afastam as pessoas das empresas, criar laços e espírito de equipa é mais urgente que nunca”, assegura Tiago Santos ao Link to Leaders.

Com o surgiu a ideia de trazer para Portugal um evento que se assume como um misto entre Jogos Olímpicos e Jogos Sem Fronteiras, e que promete proporcionar experiências sociais, emocionais e físicas com impacto no bem-estar das empresas?
Os Wellbeing Games surgem de uma pesquisa que a Workwell desenvolveu em 2022, no âmbito dos prémios Wellbeing Awards 2022, onde foram avaliadas as práticas de bem-estar de mais de 100 empresas em Portugal. Nessa pesquisa, as dimensões de bem-estar mais afetadas e em pior estado, foram a dimensão de bem-estar social e emocional. E não é de estranhar! As organizações enfrentam tremendos desafios na gestão de pessoas. Os novos formatos de trabalho trazem a tão agradecida flexibilidade e autonomia, mas também a diminuição de laços entre equipas e baixa identificação com a empresa, causando impacto no engagement, bem-estar e produtividade. Foi com base nestas necessidades que a nossa equipa decidiu desafiar as empresas para uma primeira edição dos Wellbeing Games.

“As equipas estão menos tempo em contato físico, partilham menos experiências, estabelecem menos laços entre elas, tendem a isolar-se mais (…)”.

De que forma esperam que esta iniciativa ajude a estimular a felicidade organizacional e criar laços emocionais entre empresas, colaboradores…?
Não tenho dúvidas da importância que este tipo de iniciativas tem hoje na gestão das equipas e do seu espírito de grupo! Com os “novos” modelos de trabalho é inevitável o afastamento entre as pessoas e empresas. As equipas estão menos tempo em contato físico, partilham menos experiências, estabelecem menos laços entre elas, tendem a isolar-se mais e vestem menos a camisola da empresa. O que pode e será problemático! Como é que as empresas irão lidar com este crescente afastamento e continuar a assistir à descida dos níveis de engagement, com os custos que isso acarreta?! Parece-me essencial a criação de experiências que desenvolvam laços emocionais e afetivos entre as pessoas, de momentos de interação com significado para as suas equipas, dentro ou fora do escritório e que contribuam para um maior bem-estar.

Quais as expetativas da organização para esta primeira edição dos Wellbeing Games?
As expetativas estão altas, até pelo feedback que fomos recebendo das empresas ao longo destes últimos meses. Foi praticamente unânime a necessidade de um evento com este objetivo. Tivemos feedback de clientes com situações em que as participações foram esgotadas em poucas horas. Outra prova desta expetativa foi a forma como instituições como a Fundação do Desporto, a Associação dos Atletas Olímpicos de Portugal e outras empresas referência se associaram ao mesmo. No entanto, sabemos que estamos apenas a lançar a primeira pedra desta construção e que existe uma margem enorme de progressão para as próximas edições.

O que é que o evento vai contemplar? Que tipo de ações vão fazer?
Este evento foi pensado de forma a conseguir chegar a um grande número de preferências no que diz respeito ao bem-estar individual. Preparámos três áreas diferenciadas para pessoas diferentes. Uma área mais desportiva, para os atletas das empresas, com várias modalidades mais tradicionais, como a corrida, o futebol, o padel, o voleibol, o basquetebol e ténis de mesa.
Uma área mais desafiante, Jogos sem fronteiras, para os colaboradores competitivos, que gostam de se superar, mas para quem o desporto não é o seu forte. Aqui terão de competir em equipa, superando os vários jogos de cooperação e estratégia, pondo à prova o seu físico e a sua mente.
E uma outra zona mais calma, mais relaxante, para todos aqueles para quem o bem-estar é algo mais relacionado com a dimensão emocional, com atividades de yoga, meditação, várias talks de Bem-estar e massagens. Além disto, e porque queremos que seja uma experiência divertida, temos uma área fun com vários desafios que irão pôr à prova o espírito de equipa das pessoas. Queremos acima de tudo que seja uma experiência rica em emoções.

Qual o papel dos embaixadores Wellbeing Games?
Os embaixadores e atletas olímpicos têm um papel fundamental. Estes atletas de alto nível são um excelente exemplo de compromisso, de ambição, de performance e de resiliência. Tudo temas tão necessários às empresas em particular, e à sociedade civil no geral. Portanto, estes campeões, além de serem um exemplo forte do ponto de vista do desporto e das suas soft skill, são também promotores de um estilo de vida saudável, outra grande necessidade em Portugal. Quero agradecer toda a sua disponibilidade para poderem participar neste movimento.

Que lacunas identificou na cultura empresarial portuguesa que o motivaram a implementar este projeto?
Não foi uma questão nacional! Foram lacunas, ou necessidades mais globais e do mundo corporativo que vivemos hoje. Foram questões relacionadas com o isolamento das pessoas relacionada com o trabalho híbrido, questões relacionadas com a falta de ligação entre as equipas. Tal como numa equipa desportiva, como é que se alcançam bons resultados se não se conhecerem os colegas, se não se confiar uns nos outros? Temos a convicção que este tipo de iniciativas são necessárias e seriam também bem acolhidas em outros países e realidades corporativas.

“Esta experiência (…) e outras idênticas têm o potencial de conectar as pessoas (…)”

De que forma este tipo de iniciativas pode ajudar a ultrapassar essas mesmas lacunas?
Esta experiência que estamos a trazer pela primeira vez e outras idênticas têm o potencial de conectar as pessoas, de poderem conhecer-se melhor, de poderem partilhar momentos em conjunto e de as aproximar. Portanto, na nossa ótica, parece-nos fundamental estes momentos de team building.

Como gostaria que no futuro as empresas portuguesas olhassem para conceitos como team building, bem-estar no emprego ou felicidade organizacional?
Sou suspeito. Andamos, na Workwell, a evangelizar o tema há mais de 15 anos, sempre com a preocupação de levar às empresas as melhores e mais inovadoras práticas de bem-estar. Mas achamos que este tipo de trabalho deve ser desenvolvido de uma forma estrutural na empresa, acoplado à sua cultura e de uma forma longitudinal. Em Portugal temos vindo a intensificar a aposta nestas práticas e o exemplo disso será uma nova norma que irá ser brevemente lançada relativa a um sistema de gestão do bem-estar e felicidade organizacional, que irá ajudar as empresas a orientar o seu trabalho.

Acreditamos numa forma de estar enquanto empresa em que existe uma preocupação genuína com as pessoas e que o sucesso das empresas será tanto maior quanto for o das pessoas.

Os Wellbeing Games também têm uma vertente de apoio social. Como funciona?
Sim, verdade. Afinal bem-estar é também ajudar quem precisa. No nosso caso o apoio social divide-se em dois âmbitos. Por um lado, uma parte das receitas reverterá para três associações de solidariedade social ou sem fins lucrativos, como é o caso da Associação Romã Azul, Associação dos Atletas Olímpicos de Portugal e a Associação para a Gestão e Inovação em Saúde. Por outro lado, através de uma recolha de bens alimentares a decorrer no dia, em que cada participante poderá também contribuir.

Como tem sido a aceitação dos Wellbeing Games internacionalmente?
Esse é um tema bastante interessante e indicador do que estamos a trazer às empresas. Primeiramente, porque como ano zero da iniciativa, tínhamos em mente um evento mais pequeno, com menos adesão, mas à medida que fomos apresentando, fomos percebendo através dos feedbacks e entusiamo das empresas que este desafio podia ser lançado a equipas de outros países. Nesse campo, estamos convictos que em próximas edições iremos ter a adesão de inúmeras equipas internacionais.

Vamos ter uma segunda edição nacional dos Wellbeing Games? Onde e quando?
Essa é também outra convicção nossa. Irá certamente existir uma segunda edição dos Wellbeing Games. Neste momento, queremos apenas que seja uma experiência enriquecedora para os participantes e que sirva de energia para os seus desafios diários.

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