Entrevista/ “O nosso apoio pode ser uma alavanca para resolver os desafios na saúde”

Inês Matias, EIT Health InnoStars Business Creation Project Manager

É um dos grandes programas europeus dedicado ao financiamento e mentoria de start-ups na área da saúde e das ciências da vida. O EIT Health quer dar o seu contributo para ajudar a resolver os problemas da saúde na Europa e, porque não, no mundo, confidenciou Inês Matias ao Link To Leaders.

Desde janeiro deste ano que Inês Matias, 30 anos, entrou no EIT Health como Innostar Bussiness Creation Project Manager. Licenciada em Biologia Celular e Molecular e com um mestrado em Economia e Gestão de Ciência, Tecnologia e Inovação, antes de se juntar à equipa EIT, Inês Matias era Program Director na Healthcare City, uma incubadora de start-ups focada na saúde e bem-estar, sediada em Lisboa.

Agora, conjuntamente com a equipa EIT Health, quer contribuir para que os empreendedores ponham as suas ideias em prática e ajudem a melhorar a saúde dos europeus.

O que é exatamente o EIT Health?
É uma rede de mais de 140 parceiros ao nível da Europa e o nosso grande objetivo é promover a vida saudável e o envelhecimento ativo dos cidadãos. Isto, sobretudo, ao nível do desenvolvimento da inovação e das novas tecnologias que possam contribuir e aportar valor para a saúde dos cidadãos europeus.

Em que áreas atuam?
Nós temos, sobretudo, três grandes pilares de atuação: inovação, a educação e a criação de novos negócios. No pilar da criação dos novos negócios, que é aquele que estou responsável, o nosso grande objetivo é promover o desenvolvimento de novos negócios na Europa. Nós queremos estimular empreendedores a criarem novos negócios, a criarem empresas e a gerarem empregos.

Qual das competições EIT Healt é a mais disruptiva?
Há três grandes competições que são as nossas bandeiras. O InnoStars Awards que é uma competição para ajudar quem está numa fase muito inicial de desenvolvimento de produto, o chamado MVP (Minimal Viable Product). E esta é uma oportunidade especial para a região InnoStars que engloba países como Portugal, Itália, Croácia, Hungria e Polónia. São mercados emergentes, no que diz respeito à inovação no setor da saúde, e esta é uma oportunidade que os nossos empreendedores deviam aproveitar se estão nessa fase inicial.

Além disso, temos o Headstart para quem está numa fase mais avançada, de protótipo, muito final e precisa de perceber quais são os próximos passos que tem que dar para ter o seu produto ou serviços no mercado.
É uma oportunidade muito semelhante, por exemplo, ao SME Instrument fase I do Horizonte 2020. Mas aqui a grande vantagem é que os empreendedores não só têm acesso a financiamento numa fase muito inicial, como também têm acesso a formação e à rede de parceiros do EIT Health que os pode ajudar a chegar a mais longe.

Por fim, temos o European Health Catapult e, esta sim, é uma oportunidade estrela porque muito mais do que ajudar as start-ups que precisam de financiamento, este programa expõe as melhores start-ups da Europa a investidores, aos parceiros do EIT Health, e quer ajudar estas start-ups a conseguirem clientes e a darem o próximo passo. Por isso, este é para start-ups numa fase um pouco mais avançada, que já tem produto e serviço, e que querem precisamente expandir e serem conhecidas como start-up de referência no seu setor.

Há quantos anos é que o programa existe em Portugal?
Começamos a atividade em 2015 e, desde então, já apoiamos várias start-ups na Europa e muitas em Portugal. Posso falar de algumas, que talvez sejam as mais conhecidas, como a Hydrustent, a NEUROPSYAI ou a Nu-Rise, entre muitas outras.

Qual o impacto que esperam conseguir no ecossistema português?
Sobretudo neste pilar da criação de negócios, temos oportunidades de formação e de financiamento para toda a gente. Desde a pessoa que só tem uma ideia inovadora no setor da saúde até para pequenas e médias empresas que andam à procura ou de grandes quantidades de financiamento, receber uma série A, por exemplo, ou que querem explorar outros mercados dentro da Europa ou fora da Europa.

E aqui o impacto que nós esperamos é precisamente deste o início, é estimular pessoas que querem criar negócios, mas não sabem como, e aí temos oportunidades de formação porque ensinamos estas pessoas a pensarem em negócio, sobretudo, porque os empreendedores na área da saúde, muitas vezes são pessoas mais técnicas, das áreas médicas ou de ciências da vida, e falta-lhes esta componente de business, de gestão e, portanto, nós temos oportunidades para estas pessoas.

Mas depois também temos pequenos investimentos que, sobretudo, em Portugal são muito importantes, que permitem à start-up poder estar durante um ano, ou durante aquela fase inicial, a sobreviver, a desenvolver o seu modelo de negócio, o seu produto para finalmente poder chegar aos primeiros clientes. Portanto, numa fase muito inicial, este é o impacto que esperamos ter no ecossistema de start-ups no setor da saúde em Portugal. Além disso, queremos ajudar também estas start-ups a crescerem e a explorar outros mercados.

O EIT Health faz essa ligação entre as empresas portuguesas e internacionais?
Sim. As equipas que participam nos programas de formação e financiamento do EIT Health têm não só acesso a essa formação e a esse financiamento, mas o que, na minha opinião, mais aporta realmente valor a estas equipas ao participarem nos programas é a rede a que passam a ter acesso. Ao tornarem-se Alumni do EIT Health, passam a ter acesso aos mais de 140 parceiros que fazem parte da rede e isto permite criar parcerias que muitas vezes são fundamentais para que possam desenvolver produtos ou serviços, mas também podem arranjar investidores, os seus primeiros clientes e parceiros que vão ajudar estas empresas que, muitas vezes são locais ou nacionais, a tornarem-se  as chamadas born global e a internacionalizarem.

Qual o envolvimento dos parceiros portugueses no projeto?
Os parceiros portugueses no projeto do EIT Health são fundamentais. É através dos parceiros que conseguimos apoiar as start-ups. São eles que implementam estas ações e para mencionar os parceiros portugueses temos o Instituto Pedro Nunes, a Universidade de Lisboa, a Universidade de Évora, do Porto, de Coimbra, o Centro Hospitalar de Lisboa Norte, o Centro Hospitalar da Universidade de Coimbra. Muitas vezes os programas acontecem nestes parceiros. No ano passado tivemos os botcamps dos programas Innostars Awards a acontecer no Instituto Pedro Nunes, em Coimbra, onde as equipas foram ter formação dada precisamente pela equipa do Instituto.  E isto é só um exemplo, porque o EIT Health existe pelos parceiros e são os parceiros que fazem o EIT Health, são eles que implementam as ações, que ajudam as start-ups e que as levam em conjunto para outros projetos e para o mercado. A juntar aos parceiros já mencionados temos também a Glintt e a Bluepharma.

Os portugueses estão atentos às potencialidades da área da saúde?
Achamos que sim. Mas também ainda há muito trabalho a fazer, de conseguirmos falar com os estudantes e com os investigadores e incentivá-los a criarem negócios. Muitas vezes, estas pessoas, estes empreendedores, ainda não sabem que o são e nós queremos mostrar-lhes que existem oportunidades, que existem apoios para que eles possam aventurar-se e que não precisam de ter receio. Por outro lado, temos já muitas start-ups que, entretanto, já se tornarem PMEs, empresas que têm vindo a batalhar e a contar com o apoio do EIT Health, e com outras oportunidades, e que têm vindo a crescer e a tornar-se casos de sucesso.

Os empreendedores portugueses têm potencial ajudar a revolucionar este setor da saúde?
Acredito que os empreendedores e os inovadores portugueses têm todo o potencial do mundo para conseguir melhorar a vida dos cidadãos europeus e, especialmente, no setor da saúde. Isto porque temos a melhor formação universitária do mundo, os melhores centros de investigação, portanto, não há desculpas para que os empreendedores portugueses, que são extremamente inteligentes, extremamente capazes de o fazer, não o possam ou não o consigam fazer. E é claro que podem contar com o apoio do EIT Health e das oportunidades que temos para os ajudar a seguir esse sonho.

O setor da saúde já está na mira dos empreendedores como deveria estar?
O setor da saúde é um bocadinho difícil e, por isso, talvez alguns empreendedores às vezes pensem em inovar, mas depois acabem por se retrair pelas dificuldades que o setor apresenta, nomeadamente em termos regulatórios. É uma área, sem dúvida, difícil de inovar e que normalmente acarreta grandes investimentos, por isso alguns empreendedores retraem-se. Mas a verdade é que também temos batalhado muito nesse sentido e as oportunidades que oferecemos são precisamente para poder ajudar esses empreendedores a, pelo menos, tentarem, não só a nível de financiamento em fases iniciais, mas para pôr os empreendedores e as start-ups em contacto com grandes indústrias, parceiros, académicos ou centros de investigação que podem depois ajudar nessas questões que são normalmente mais difíceis, por exemplo.

Quais os países em que têm mais expetativas de que surjam mentes brilhantes neste setor?
Temos várias regiões, sendo que a InnoStars e as regiões mentoradas engloba 13 países no Oeste, Sul e Centro-Leste europeu. E é aqui que temos mais expetativas porque é a região emergente, é aquela onde é preciso um bocadinho mais de investimento, não só em termos financeiros, mas também de formação para que consigamos chegar ao nível dos grandes países da Europa, como Alemanha ou França, em termos de inovação.

É aqui, na região InnoStars, que a nossa atenção está concentrada e é aqui que queremos ajudar as mentes brilhantes que possam ter medo de arriscar, ou que não tenham confiança nas suas skills de negócio. São estas pessoas que queremos ajudar para que possam vir a ser os unicórnios dos próximos anos.

O que é que estes programas de financiamento e mentoria podem fazer pela saúde e bem-estar mundiais?
Nós contamos que este apoio de financiamento e de mentoria possa ser a faísca ou a alavanca que vai contribuir para a melhoria da saúde europeia e, consequentemente, mundial. Nós sabemos que é um setor difícil, muitas vezes faltam financiamentos, falta mentoria ou formação porque as pessoas que mais inovam, ou que têm as ideias, são pessoas mais técnicas no setor da saúde e das ciências da vida. Portanto, nós acreditamos muito que o nosso apoio pode ser a alavanca de que os inovadores precisam para resolverem os desafios na saúde europeia e mundial.

Comentários

Artigos Relacionados