Ironia da facilidade dos investimentos das start-ups europeias

Olhando para o número de iniciativas que são lançadas todos os dias na Europa, na área do empreendedorismo, não há dúvida que a Europa está a “surfar a onda” do empreendedorismo.

É quase impossível escolher entre toda a oferta disponível – espaços de coworking, incubadoras, aceleradoras, fundos públicos e privados, eventos, anúncios, folhetos e outras ferramentas que magicamente transformam pessoas comuns em empreendedores de sucesso.

As organizações mais avançadas hoje em dia esforçam-se para ser um balcão único que abarca tudo o que foi mencionado acima, oferecendo cerveja grátis, festas depois do trabalho às sextas-feiras e outras “vantagens” para atrair potenciais clientes (empreendedores). O mercado está saturado com os chamados especialistas, que na maioria dos casos não têm sequer a experiência básica de criar uma empresa. Tudo o que importa é a construção da comunidade, quantas secretárias foram alugadas e, naturalmente, a cobertura dos média.

Então, onde estão os verdadeiros especialistas? Eles não têm tempo para tomar conta de candidatos a empreendedores, ou decidir sobre a cor da fonte usada nas apresentações ou sobre a postura do corpo durante o pitch. Infelizmente, isso é o mais longe que one stop shop consegue na maioria dos casos. Conselhos substanciais, relevantes e específicos sobre modelos de negócios ou finanças são pura alquimia. Apresentação dos empreendedores a potenciais clientes relevantes é uma miragem. Os empreendedores são deixados sozinhos, mesmo tendo tanta oferta à sua volta…

Por outro lado, levantar fundos tornou-se um objetivo em si. O sucesso empresarial agora é igual a financiamento, mas muitas vezes pára por aí. Obviamente, até que o dinheiro seja gasto. Mas, novamente, quem pode culpar os empreendedores por quererem um escritório sofisticado e um enorme salário, listados como custos misteriosos de marketing e vendas quando apresentam as suas necessidades de financiamento. Por mais raro que seja encontrar especialistas profissionais que realmente saibam sobre o que falam é igualmente raro encontrar empreendedores maduros.

Mesmo com tantas ferramentas diferentes feitas à medida para os empreendedores, em muitos casos gratuitas, as start-ups ainda reclamam que não há investidores na Europa. Não há capital. Não há suporte. Será que outra plataforma de TI de turismo realmente precisa de 100, 200, 500K para ser desenvolvida? Acha realmente que não existe um projeto “inovador” similar ao seu que um investidor médio já não tenha visto na sua carreira, no mínimo 10 vezes?

O mundo da política chama a este fenómeno facilidade de investimentos. Existe um verdadeiro desafio para as start-ups em colmatarem o fosso entre o seu limitado conhecimento e experiência, combinados com o apoio de especialistas limitados, até que alguns atinjam o nível para estarem prontos para o investimento e a sustentabilidade do negócio. Falta aí toda uma estrutura de camada intermédia, mas também cabe aos empreendedores descobrir essa camada com base nas informações que possuem.

Não há sucesso fácil caído do céu. O mundo não lhe deve nada. Acreditar no sucesso não é suficiente. Mesmo se ganhar na lotaria, você terá de pagar impostos por isso. Haverá sempre pessoas a tentar tirar vantagem de si, em qualquer etapa do seu projeto. Mas também haverá sempre algo para aprender. Fazer o “trabalho de casa” e ser modesto é uma receita que nunca falha, especialmente se uma alternativa ao seu projeto puder ser encontrada em menos de um minuto no Google.

* E diretora geral da Global Entrepreneurship Network em Portugal