Aceleradoras dão dicas a start-ups tecnológicas de moda
Os líderes por detrás dos principais programas de incubadoras como a Y Combinator, La Maison des Startups LVMH e a Farfetch Dream Assembly partilharam com a Vogue Business o que procuram nas start-ups de moda e o que os fundadores destas devem evitar.
Quando em 2017 a fundadora da start-up de compras imersivas Obsess, Neha Singh, foi aceite no New York Fashion Tech Lab (NYFTLab), um programa que liga as start-ups tecnológicas de moda ao grande retalho, a sua start-up chamou a atenção da marca de carteiras Vera Bradley – esta insígnia, patrocinadora do NYFTLab, trabalhou posteriormente com a Obsess.
“A Vera Bradley não é uma marca que se pense ser ultra tecnologicamente avançada, mas foi um grande sucesso para as duas”, explicou à Vogue Business Jackie Trebilcock, managing director da NYFTLab. Neha Singh, que estudou no Instituto de Tecnologia de Massachusetts e trabalhou na Google e na Vogue americana, e mais tarde obteve a sua primeira ronda de financiamento, fez parceria com a Farfetch, a Levi’s, a Tommy Hilfiger e a Ulta Beauty.
Passar por uma aceleradora ou incubadora de topo pode ser tão decisivo para a carreira do fundador de uma start-up como ter o diploma de uma universidade de elite. Os programas intensivos, que costumam durar apenas alguns meses, ajudam as start-ups a aprimorar e a crescer antes de um dia de pitch junto de potenciais investidores e da imprensa. E fornecem orientação, dinheiro e networking, geralmente em troca de uma participação na start-up.
Com as empresas há muito instituídas a procurarem cada vez mais as start-ups para uma injeção de inovação, os incentivos para se unirem a uma start-up são ampliados – mas também a concorrência aumenta. A Vogue Business falou com os líderes das principais incubadoras, que revelam como as start-ups tecnológicas de moda podem destacar-se neste ecossistema.
“Quanto mais claro o seu pitch, melhor.”
– Dalton Caldwell, head of admissions e partner na Y Combinator, que investiu na Zyper e na Spate.
O responsável explica que “estamos à procura de duas coisas realmente importantes. Uma é a capacidade técnica para criar o produto sem a necessidade de terceiros, porque contratar fornecedores ou empresas em outsourcing acaba por consumir tempo. A segunda é uma perspetiva única daquilo que querem construir. Muitas equipas não fizeram trabalho de casa.
Recomendamos ter um cofundador em vez de fazerem tudo sozinhos. Evitem o jargão – quanto mais simples o discurso, melhor. E mostrar ações concretas, como entrar em contacto com os consumidores ou criar um protótipo, mostra que não estão a brincar. Para muitos, a ideia é 100% teoria. O software que permite a criação de novos negócios – plataformas como a Etsy ou a Shopify – tende a funcionar bem.
“Seja sincero com os potenciais investidores.”
– Aaron Blumenthal, venture partner na 500 Startups, que investiu na The RealReal, na Le Tote e na Mejuri.
Há muitos fatores que vão mudar ao longo do ciclo de vida da start-up. Mas o que não muda é o fundador e a sua visão de como vai criar disrupção. Como tal, procuro fundadores que sejam sinceros sobre o que sabem e duas vezes mais sinceros sobre o que não sabem. Quanto mais tempo demorar a dizer-me que algo está errado, mais tempo vou demorar a tentar remediar a situação, e o problema fica maior, mais complexo e caro de resolver.
Uma tendência que me fascina é as empresas juntarem plataformas de pagamento aos seus produtos. Por exemplo, algumas companhias estão a fornecer planos de pagamento integrados nas suas plataformas. A concessão de crédito, pagamentos e transações está a tornar-se normal para o retalho.
O meu conselho é garantir que a tecnologia com a qual trabalha faz sentido para si e a sua empresa, e que tenha as competências necessárias a nível interno para dar suporte à plataforma. Caso contrário, vai dar consigo em águas turbulentas. Se não estiver no seu ADN, não o faça apenas porque é o que todos estão a fazer.
“Pesquise e inscreva-se no programa certo.”
– Jackie Trebilcock, managing director na NYFTLab, que trabalhou com a start-up de software Eon e a plataforma Narrativ.
Estamos à procura de start-ups tecnológicas de moda B2B e retalho lideradas por mulheres, e não vestuário físico, empresas de comércio eletrónico DTC ou designers emergentes. Estamos interessados em tecnologia proprietária de terceiros que usa pesquisa visual, análise, realidade aumentada/realidade virtual e fit-tech.
Somos mais uma catalisadora de negócios que uma aceleradora, porque ajudamos as start-ups a ligarem-se a grandes retalhistas multimarca e monomarca. Muitas das start-ups com as quais trabalhamos já estão a lidar com marcas diretas ao consumidor. Mas as grandes organizações são mais difíceis para elas. Os investidores não entram no capital; o laboratório é financiado por patrocínios de empresas como a PVH e a Macy’s.
Também estamos a olhar para além do estágio de ideias para, no mínimo, as fases beta, e para empresas prontas para o mundo dos negócios. Os retalhistas querem ver tudo, então normalmente não identificam bem uma tecnologia na qual querem focar-se. A pesquisa visual e fit-tech são definitivamente tendência.
“Se algo for excelente, mas apenas num país, não terá o impacto de que precisamos.”
– Laetitia Roche-Grenet, diretora de inovação aberta na LVMH, cuja La Maison des Startups LVMH investiu na Heuritech e na Alcméon.
Tentamos encontrar start-ups que possam funcionar com muitas das maisons do nosso universo. Uma start-up tem de ser capaz de responder aos tópicos que nos interessam, como experiência do cliente, sustentabilidade, dados, omnicanais, personalização, logística e entrega. Não somos um grupo de tecnologia, somos um grupo de luxo. O que importa para nós, ao trabalhar com uma start-up, é o que podemos obter para o cliente, e não a ferramenta em si.
Se algo for ótimo, mas apenas por uma maison ou país, não terá o impacto de que precisamos. Por exemplo, temos vindo a trabalhar na previsão de tendências através das redes sociais e a usar inteligência artificial capaz de reconhecer imagens. Quando se tem um desfile de moda, a tecnologia pode antecipar as tendências de imediato. É realmente útil do ponto de vista do negócio antecipar o que precisa encomendar.
As ideias que vão longe são aquelas em que as pessoas por detrás das mesmas estão a ouvir e são recetivas a serem desafiadas. Organizamos conversas entre as maisons e as start-ups, e, por norma, estas apresentam uma solução e começam a colaborar connosco. Nenhuma destas conversas está planeada. Na segunda temporada, tivemos mais de 57 colaborações.
“Pode ter o pré-lançamento, mas não pré-dados.”
– Kirsten Horning, diretora da XRC Labs, que investiu na Hemster e na ShopShops.
Procuramos fundadores que percebam qual é o perfil do comprador e como o alcançar. Não basta dizer que o nosso target são homens dos 18 aos 65 anos. Eu quero que ligue para os consumidores e pergunte por que ficaram consigo durante dois anos, e como pode obter mais dois.
Também é importante ser honesto sobre a concorrência. A pergunta número um que faço é: “Como vai vencer?”. E eles devem saber a resposta de trás para a frente. Diga-me como vai ser maior e as etapas para chegar lá. Eu quero saber que eles pensaram bem nos passos a dar.
Os fundadores também devem ter uma boa visão do marketing e saber movimentar-se por entre os dados iniciais. Podem ter o pré-lançamento, mas não os pré-dados – mostrem-nos que as pessoas querem o produto. A Stryx, uma marca de corretores e hidratantes para homem, lançou um blog antes dos produtos em si. Na altura do lançamento sabiam no que os consumidores estavam a clicar e tinham uma grande lista de clientes.
“Teste a ideia – e mostre resultados.”
– Carol Hilsum, diretora de inovação na Farfetch, cuja Dream Assembly apoiou a Second Life e a Thrift+.
Procuramos o estágio pré-seed a seed, o que, geralmente, quer dizer que a start-up já construiu um produto minimamente viável. Procuramos não só uma excelente visão e ideias interessantes, mas também alguma noção da realidade – testaram a ideia e tiveram alguns resultados com base nesse teste?
Um erro que vejo é as empresas usarem o processo de entrada numa incubadora como uma oportunidade de vendas, com o responsável de vendas a tratar do conteúdo. Precisamos de saber o que se passa por baixo do capot – não a versão cintilante.








