Entrevista/ “A Worldcoin tem o maior cuidado em assegurar a implementação das medidas de segurança necessárias”

Ricardo Macieira, diretor regional para a Europa da Tools for Humanity

A cumprir uma pausa temporária imposta pela Comissão Nacional de Proteção de Dados, a Tools for Humanity está a preparar todos os detalhes para quando estiver novamente operacional e já anunciou duas novas atualizações do World ID, explicou Ricardo Macieira, diretor regional para a Europa da Tools for Humanity.

As “organizações e empresas devem ver e tratar os dados das pessoas como a sua propriedade e respeitá-los como tal”, defende o diretor regional para a Europa da Tools for Humanity, empresa que atualmente está a cumprir com a pausa temporária, solicitada pela Comissão Nacional de Proteção de Dados, devido à recente atuação da Worldcoin.

Em entrevista ao Link to Leaders, Ricardo Macieira fala dos objetivos para o mercado português, do que está a ser feito para ultrapassar a recente polémica em torno da empresa, e da privacidade e transparência dos projetos tecnológicos. “A nível global, a Worldcoin tem como objetivo tornar-se a maior e mais inclusiva rede de identidade e utilidade pública financeira do mundo”, assegurou o diretor regional para a Europa da Tools for Humanity, que salienta ainda que, “em última instância, os dados digitais devem ser propriedade dos indivíduos e estes devem ter o poder para controlar o fluxo de dados que partilham”.

O que faz exatamente a Tools for Humanity?
A Tools for Humanity (TFH) é uma empresa tecnológica global criada para acelerar a transição para um sistema económico mais justo. A TFH liderou o desenvolvimento inicial da Worldcoin e opera a World App, mas não tem outra afiliação e é governada de forma totalmente independente da Worldcoin Foundation. Neste momento, estamos a construir ferramentas que levem tecnologias e identidade digital às pessoas, contribuindo diretamente para o desenvolvimento e crescimento do protocolo Worldcoin e de outros projetos.

Quais os seus objetivos para o mercado português?
Atualmente, estamos a cumprir com a pausa temporária solicitada pela Comissão Nacional de Proteção de Dados. Estamos já a preparar todos os detalhes para quando estivermos novamente operacionais e é com esse intuito que também anunciámos duas novas atualizações do World ID: a verificação presencial de idade e a possibilidade de apagar a verificação do World ID através da eliminação permanente do código da íris.

A nível global, a Worldcoin tem como objetivo tornar-se a maior e mais inclusiva rede de identidade e utilidade pública financeira do mundo, e é nesse sentido que continuamos a trabalhar para alargar a comunidade Worldcoin, tanto em Portugal como nos restantes países onde o serviço de verificação de humanidade da Worldcoin está disponível.

“(…) este é também um excelente momento para trabalharmos junto das entidades reguladoras para reforçarmos a privacidade e segurança de dados (…)”.

Como é que a Tools for Humanity está a lidar com a recente polémica em torno da Worldcoin em Portugal, e não só?
Vemos este momento como uma oportunidade, não só para desmistificar o nosso projeto e dar a conhecer todos os aspetos do protocolo, mas também para educar a comunidade e entidades sobre este tipo de tecnologias e o papel importante que desempenham à medida que a Inteligência Artificial (IA) avança.
Para além disso, este é também um excelente momento para trabalharmos junto das entidades reguladoras para reforçarmos a privacidade e segurança de dados, compreendendo todas as regiões em que estamos inseridos e assegurando a conformidade com os regulamentos de privacidade locais.

Como planeiam ultrapassar esta crise?
Queremos continuar a manter um diálogo aberto não só com as entidades reguladoras, mas também com especialistas em privacidade e segurança de terceiros para avaliarmos continuamente a nossa tecnologia e os processos de conformidade. Por exemplo, as novidades do World ID que a Worldcoin apresentou recentemente são fruto deste trabalho de ouvir o feedback que nos é apresentado e desenvolvermos um processo mais robusto para que os utilizadores do World ID e da World App tenham cada vez mais controlo sobre os seus dados e sobre a forma como os utilizam.

“A segurança e privacidade de todos os participantes da comunidade Worldcoin são de extrema importância e as medidas de segurança são aplicadas em todas as fases do nosso projeto (…)”.

Como ficam a privacidade e a segurança na vossa agenda de prioridades empresariais?
A segurança e privacidade de todos os participantes da comunidade Worldcoin são de extrema importância e as medidas de segurança são aplicadas em todas as fases do nosso projeto, desde a verificação e autenticação com o World ID até à utilização da World App. Uma das bases da comunidade Worldcoin é que os dados pessoais sejam controlados pelos próprios indivíduos, e não por uma única entidade, o que comprova o compromisso com estes temas essenciais.

Como tal, e atentando a todas as preocupações e desafios que atualmente envolvem as questões de privacidade, a Worldcoin continuará a trabalhar para garantir que os utilizadores possam participar de forma segura e autêntica.

Como é que avalia a evolução desta área [biometria] em Portugal?
Nos dias de hoje, a tecnologia biométrica acaba por estar omnipresente no nosso dia a dia, sendo utilizada para identificar a singularidade de indivíduos com base em características físicas únicas e uma das formas mais seguras de distinguir entre pessoas e máquinas. À medida que novos sistemas biométricos como utilização de impressões digitais, reconhecimento facial e de íris são implementados, estes desempenham um papel fundamental na resolução de diversos desafios a nível global, desde o reforço da cibersegurança até à facilitação de acesso a serviços públicos.

E Portugal não é diferente, querendo também fazer parte desta evolução em diversas áreas e tendo um papel ativo no desenvolvimento de tecnologias que sejam soluções para a verificação segura de um ser humano.

As empresas portuguesas estão a saber usar os dados que recolhem?
Portugal tem estado, por diversas vezes, na vanguarda da inovação. Muitas empresas e profissionais portugueses são líderes nas suas respetivas áreas, especialmente no espaço tecnológico, onde vemos uma inovação significativa vinda de Portugal.

Mas a principal questão que temos de nos colocar é se as empresas estão a respeitar e a minimizar os dados que recolhem e a dar aos consumidores a possibilidade de escolherem e controlarem a forma como esses dados são utilizados.

Os dispositivos biométricos são o futuro?
Claramente os dispositivos biométricos já têm um impacto enorme na sociedade, tendo sido, para a Worldcoin, a solução mais segura e uma resposta para a validação da singularidade de um indivíduo à escala de mais de mil milhões de pessoas. Aliás, foi com este propósito que a Worldcoin nasceu: como forma privada e descentralizada de comprovar que as pessoas são reais na Internet.

“(…) os dados pessoais recolhidos no projeto são controlados pelos próprios indivíduos, e não por uma única entidade”.

E como é que se assegura a privacidade e a transparência dos projetos tecnológicos hoje em dia? Como se conquista a confiança dos cidadãos e dos diferentes players do mercado?
As preocupações e desafios que envolvem as questões de privacidade nos projetos tecnológicos são, hoje em dia, muitas. Como pretendemos garantir que os utilizadores participem na missão do projeto Worldcoin de forma segura e autêntica, os dados pessoais recolhidos no projeto são controlados pelos próprios indivíduos, e não por uma única entidade. Anteriormente já era possível os utilizadores apagarem informações partilhadas na World App, como o número de telefone ou outras imagens que fossem voluntariamente partilhadas com a Worldcoin para ajudar a melhorar os seus sistemas, e agora é possível terem ainda mais controlo com a nova opção de cancelamento da verificação do World ID e a eliminação permanente do código de íris.

Como tal, a Worldcoin tem o maior cuidado em assegurar a implementação das medidas de segurança necessárias com o intuito de garantir que estamos em conformidade com as leis e regulamentos que regem a recolha e transferência de dados, incluindo o Regulamento Geral de Proteção de Dados (RGPD) da Europa.

Os dados digitais são realmente o “novo petróleo”?
Esta analogia é frequentemente utilizada com o objetivo de destacar o valor e a importância que os dados digitais têm atualmente na economia. Porém, é importante referir que os dados têm características únicas que necessitam de abordagens específicas para a sua gestão, utilização e proteção.
Na minha opinião, esta premissa está a mudar e nós temos de mudar com ela. Organizações e empresas devem ver e tratar os dados das pessoas como a sua propriedade e respeitá-los como tal. E é nesse sentido que a Worldcoin não pretende armazenar ou rentabilizar dados – é um projeto tecnológico que rejeita a tendência das grandes empresas de tecnologia.

“(…) os dados digitais devem ser propriedade dos indivíduos e estes devem ter o poder para controlar o fluxo de dados que partilham (…)”.

O que é que estes podem fazer pelo sucesso de uma empresa?
Em última instância os dados digitais devem ser propriedade dos indivíduos e estes devem ter o poder para controlar o fluxo de dados que partilham – não apenas a sua eliminação, mas qualquer futura utilização. Por exemplo, a Worldcoin está a implementar no seu protocolo uma característica denominada custódia pessoal que possibilita ao utilizador ter o controlo dos seus dados de uma forma que não é ainda possível com outras experiências online. Isto significa que as informações (imagens, metadados e dados derivados) geradas na Orb e utilizadas posteriormente para criar o código da íris durante a verificação do World ID serão mantidas no dispositivo do utilizador e eliminadas da Orb.

Na sua opinião, e num mundo cada vez mais movido a IA, a comunidade tecnológica está atenta aos riscos que algumas inovações digitais envolvem? As questões éticas estão a ser devidamente contempladas?
À medida que nos tornamos mais dependentes da inteligência artificial (IA), existe também uma maior consciencialização na comunidade tecnológica sobre os riscos associados a inovações digitais como privacidade e segurança de dados, automatização ou manipulação de informações. E para isso, a comunidade tecnológica deve trabalhar junto de entidades reguladoras para que as questões éticas e sociais sejam contempladas no desenvolvimento de projetos transparentes, justos e responsáveis, bem como junto do público em geral para esclarecer vantagens e possíveis riscos associados à IA.

E os países estão preparados para os novos desafios que estas novas tecnologias encerram?
É muito interessante ver como a tecnologia continua a evoluir e a abrir portas para novas possibilidades no espaço tecnológico. Atualmente, as empresas demonstram ser cada vez mais proativas e dinâmicas na integração das últimas tendências, mas também na procura da capacitação de recursos humanos ou até mesmo no aproveitamento de oportunidades colaborativas com outros profissionais/empresas para construir um futuro tecnológico com impacto significativo na vida de todas as pessoas.

Quais as grandes metas da Tools for Humanity a médio prazo?
O objetivo é continuar a construir ferramentas para apoiar a maior rede de seres humanos únicos e trabalhar para garantir que todos tenham acesso à economia global e digital, preservando ao mesmo tempo a sua privacidade.

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