Opinião
À vida para ser perfeita falta sempre alguma coisa
Recentemente, li um livro que me fez refletir sobre como a perfeição parece sempre escapar-nos. Tanto na vida pessoal como na profissional, parece que há sempre algo que falta, algo que nos impede de alcançar aquele estado ideal de perfeição ou felicidade que imaginamos.
Será que estamos constantemente insatisfeitos porque procuramos algo que, no fundo, nunca conseguiremos alcançar? Será que estamos constantemente insatisfeitos porque não sabemos bem o que queremos? Ou será que a verdadeira felicidade reside em apreciar e valorizar o que já temos? Talvez seja um pouco de cada uma…
Na vida pessoal, essa sensação de falta pode manifestar-se de várias formas. Queremos a casa perfeita, o carro dos sonhos, a viagem ideal. Queremos corpos mais saudáveis, relações mais harmoniosas, tempo para hobbies e descanso. No entanto, mesmo quando atingimos alguns desses objetivos, muitas vezes descobrimos que a felicidade que esperávamos não é tão duradoura quanto pensávamos e a sensação de insatisfação continua.
A comparação com os outros amplifica e muito esta insatisfação. O surgimento e crescimento das redes sociais contribuiu imenso para intensificar essa sensação. Vemos amigos, conhecidos e influenciadores a viver vidas aparentemente perfeitas, e a nossa própria vida parece ficar sempre muito aquém. O Instagram, por exemplo, é uma vitrine de vidas perfeitas, onde cada imagem é cuidadosamente escolhida para mostrar o melhor ângulo, a melhor luz, o melhor momento. E a verdade é que por vezes, somos mais felizes na ignorância, desconhecendo todo este mundo ilusório que nos faz sentir pequenos e infelizes.
No entanto, não nos podemos esquecer que essas são apenas imagens editadas e momentos escolhidos. Nem sempre conseguimos relativizar e avaliar as coisas pelo que realmente são. Estamos constantemente conectados e expostos a uma enxurrada de informações, opiniões e julgamentos que nos pressiona e nos angustia. A realidade é que todos enfrentamos desafios e frustrações que não são partilhados publicamente. Mas também não defendo que tenhamos de o ser. Cada um deve partilhar o que lhe faz mais sentido. Partilhar momentos genuínos nas redes sociais, sem filtros ou edições exageradas, pode ajudar a criar uma cultura de autenticidade e conexão real. Celebrar as pequenas vitórias, os momentos de fraqueza superados, e as coisas simples que trazem alegria podem inspirar outros a fazerem o mesmo.
O segredo pode estar mesmo em aprender a querer o que já temos. Em vez de focarmos no que nos falta, por que não celebrarmos as pequenas vitórias diárias e apreciarmos as pessoas e as coisas que já fazem parte das nossas vidas? Talvez a vida nunca seja perfeita, mas pode ser plena e satisfatória se mudarmos a nossa perspetiva. É tudo uma questão de expetativas!
No mundo profissional, a insatisfação pode ser ainda mais palpável. A pressão para ser bem-sucedido, para subir na carreira, para obter reconhecimento e recompensas financeiras pode ser avassaladora. Trabalhamos arduamente, muitas vezes sacrificando o nosso tempo pessoal e a nossa saúde, em busca daquela promoção, daquele aumento, daquele projeto que nos poderá levar ao próximo nível. A pressão e a competição dentro das organizações pode ser avassaladora e fazer tremer o mais confiante dos profissionais.
Com o desenvolvimento das comunicações e a constante conexão proporcionada pelo mundo digital, essa pressão só aumentou. Estamos sempre “ligados”, recebemos e-mails, mensagens e notificações a qualquer hora do dia. A linha entre o tempo pessoal e o tempo de trabalho tornou-se cada vez mais tênue, contribuindo para a sensação de que nunca fazemos o suficiente.
É aqui que a ideia de “querer o que temos” também se aplica. Valorizar o nosso trabalho, os colegas que nos apoiam, as habilidades que desenvolvemos e as oportunidades que já tivemos. A gratidão pelo presente pode ser um poderoso antídoto para a constante sensação de falta.
Enquanto o contexto digital amplifica a sensação de insatisfação, também nos oferece ferramentas para redescobrir a importância das coisas mais simples. Apps de mindfulness, redes sociais focadas em bem-estar e plataformas de autoajuda podem ser usadas para nos reconectar com o que realmente importa. A gratidão e a atenção plena são práticas que nos ajudam a focar nas pequenas coisas que trazem alegria e contentamento. Tomar um café com um amigo, desfrutar de um livro, passear ao ar livre, brincar com os nossos filhos – são momentos simples, mas que podem ter um impacto profundo na nossa sensação de bem-estar.
Ao longo da minha vida, vi muitas pessoas, incluindo eu própria, lutarem com essa sensação de insatisfação. Partilhar estas experiências e refletir sobre elas tem sido uma forma de encontrar um certo equilíbrio. Reconhecer que é normal sentir que falta algo e que essa sensação pode ser um motor para o crescimento, mas que não deve dominar as nossas vidas, é essencial.
A vida nunca será perfeita, e sempre haverá algo que parece faltar. Mas talvez isso não seja uma maldição, mas uma característica intrínseca da condição humana. Talvez seja essa busca constante que nos faz crescer e evoluir. O segredo pode estar em aprender a valorizar o que temos, a encontrar alegria nas pequenas coisas e a ser gratos por cada passo do caminho.
Se pudermos aceitar que a perfeição é um mito e que a felicidade é uma escolha que fazemos diariamente, talvez possamos encontrar um maior senso de paz e realização. Afinal, a vida é uma jornada, não um destino. E nesta jornada, a verdadeira perfeição pode estar em apreciar cada momento e cada conquista, por menor que seja.
A vida pode nunca ser perfeita, mas pode ser maravilhosa se aprendermos a querer o que já temos.
P.S. – Nunca deixem que a busca pela perfeição vos impeça de apreciar as imperfeições que tornam a vida única e bela.
Susana Duro tem mais de 20 anos de experiência no desenvolvimento e implementação de estratégias de marketing para marcas líderes de mercado e um sólido percurso profissional construído em empresas nacionais e multinacionais de referência dentro do mercado de FMCG.
É licenciada em Marketing e Publicidade pelo IADE, pós-graduada em Retail Management e em Direção Comercial no Indeg/Iscte e mestre em Marketing pela mesma instituição. Iniciou a sua carreira de marketing na Henkel Ibérica como gestora de produto, passando depois para brand manager na Dan Cake. Em 2004 entrou para a Nestlé onde esteve durante 11 anos. Aqui desempenhou a função de brand manager da categoria de Culinários, de trade marketing manager na categoria de chocolates e de head of trade marketing na categoria de Cereais de pequeno-almoço. Em 2017 entrou para a Coca Cola Europacific Partners como responsável pela equipa de Customer Development do Canal Alimentar. Em 2022 foi convidada para assumir a função de National Account manager ficando com a responsabilidade de várias contas no canal Horeca Organizado.