Entrevista/ “A indústria é cada vez mais internacionalizada e a competição global”
A Palbit está no mercado há mais de um século. A empresa conta com 260 funcionários e produz ferramentas de metal duro, que exporta para mais de 70 países. Em entrevista ao Link To Leaders, Jorge Ferreira, CEO da Palbit, revela que está otimista e que a previsão de vendas, para este ano, é de 26 milhões de euros, “o que representa novamente um crescimento de 30%”.
A Palbit é uma empresa portuguesa, de Albergaria-a-Velha, com mais de 100 anos de experiência na produção de ferramentas de alto desempenho. Essencialmente exportadora, com mais de 90% da sua produção a destinar-se ao mercado internacional, atua em três áreas de negócio – ferramentas de corte, ferramentas para tratamento da pedra e peças de anti-desgaste.
Atualmente, fornece várias indústrias, desde a automóvel à aeroespacial e metalomecânica, entre outras, com o mercado EMEA a ter um peso relevante nas suas vendas. E continua a apostar na inovação, uma estratégia que lhe corre nas veias desde a fundação, mas que se tem vindo a tornar cada vez mais evidente, sobretudo nas últimas duas décadas, a reboque da evolução tecnológica.
Segundo o CEO da Palbit, Jorge Ferreira, a empresa investiu no ano passado 1 milhão de euros em I&D, o que equivale a 4% do seu volume de negócios, e tem, atualmente, um núcleo de I&D com 18 profissionais altamente qualificados e dedicados à inovação.
A Palbit está no mercado há mais de um século. Qual o segredo para se continuar “a manter de pé” e a apresentar bons resultados?
A Palbit iniciou a sua atividade na exploração mineira em meados do Séc. XVIII. Nessa época eram as Minas do Palhal, evoluindo na cadeia de valor para fabricante de metal duro em 1916 (Minas e Metalurgia, SA). Em 2002, ocorreu um MBI que relançou o crescimento da empresa (Palbit, SA). A capacidade de adaptação da organização às alterações de mercado e às diferentes exigências está no seu ADN.
Estamos certos da importância de manter e reforçar uma estratégia centrada no cliente que potencie a necessidade de resposta ao mercado, através do desenvolvimento de novas ferramentas e novas linhas de produto. A longevidade da Palbit é, também, fruto da permanente aposta na inovação ao longo dos anos, uma estratégia intrínseca desde a fundação, mas que se tem vindo a tornar cada vez mais evidente, sobretudo nas últimas duas décadas. É motivada essencialmente por uma estratégia de forte industrialização com base na diferenciação pelo valor acrescentado, aposta em know-how especializado e Investigação e Desenvolvimento (I&D). Somos uma empresa de alto valor acrescentado, de base tecnológica e com capacidade técnica disruptiva para atender a desafios exigentes.
“As diversas alterações de contexto socioeconómico e geopolítico são um desafio para uma empresa que possui uma estratégia de expansão internacional”.
Quais têm sido os maiores desafios ao longo destes cerca de 106 anos?
As diversas alterações de contexto socioeconómico e geopolítico são um desafio para uma empresa que possui uma estratégia de expansão internacional. Dessa forma, aliado à constante auscultação dos novos requisitos dos clientes, procuramos promover a constante adaptação às novas tendências digitais e garantir a evolução tecnológica dos nossos processos de industrialização como fonte de diferenciação.
Estamos certos de que a inovação é a principal fonte de diferenciação para que possamos competir no mercado do valor acrescentado e garantir o posicionamento da marca à escala global, alicerçada por uma forte perceção de qualidade, valor e excelência de serviço.
A Palbit tem utilizado os fundos comunitários para acelerar o seu crescimento e a inovação de produtos, processos, serviços e conceitos. De que forma esta ajuda tem contribuído para o vosso crescimento?
Os fundos comunitários são uma ferramenta importante, enquanto acelerador da economia e das empresas. Direcionamos os investimentos para o reforço de valor da marca, através de parcerias sólidas com centros de investigação, academia, associações e clusters, bem como através de um sólido e contínuo investimento em industrialização e especialização do conhecimento técnico da equipa.
Quanto investe a Palbit por ano em novos equipamentos e em I&D?
Estrategicamente canalizamos, todos os anos, montantes que se situam entre os 4% e os 5% do volume de negócios para processos associados a investimentos com foco na inovação. Paralelamente temos consecutivamente feito um esforço de investimento no aumento da capacidade de produção e das tecnologias empregues, na ordem dos 25% do nosso volume de negócios. Como complemento ao investimento em tecnologia, temos atualmente um núcleo de I&D com perto de 20 profissionais altamente qualificados e dedicados exclusivamente a processos de inovação.
A título de exemplo, a Palbit lidera a agenda mobilizadora do programa PRR, Hi-Rev, consórcio com mais de 20 instituições e empresas, que promove a inovação no setor dos componentes automóvel, com o principal objetivo de potenciar uma mobilidade mais sustentável e oferecer resposta às necessidades imediatas de descarbonização, através de processos industriais disruptivos.
É esta aposta contínua em inovação tecnológica e a vontade de liderar a mudança que permite nos competir pelo valor acrescentado, através de mais-valias proporcionadas pela eficiência, em que simultaneamente conseguimos oferecer soluções mais sustentáveis e competitivas para os mais variados setores industriais.
O que vos distingue atualmente da concorrência? O que vos torna um fornecedor altamente competitivo em várias indústrias?
Procuramos acrescentar uma camada extra de personalização ao nosso serviço, através da valorização das parcerias com os nossos clientes. Estamos certos que esta parceria é uma mais-valia para uma resposta a mercados cada vez mais exigentes, em que existe uma híper especificação em cada processo, o que obriga a uma flexibilidade que estamos prontos a oferecer.
A personalização oferecida é alavancada pela capacidade tecnológica potenciada pelo investimento em investigação e desenvolvimento, que permite manter uma cadência de inovação adequada às exigências de mercado. Além do mais somos das empresas mais céleres no desenvolvimento de novos produtos e tecnologias, fator muito apreciado pelos clientes.
Quais os desafios que encontram na contratação de quadros qualificados para as áreas das tecnologias? Como têm contornado os obstáculos?
As pessoas são o principal ativo da nossa empresa. Procuramos criar as condições para que possam dispor de todos os meios para evoluir, desempenhar o seu trabalho de forma diferenciada e valorizar o processo. O recurso a tecnologia é uma consequência da valorização do próprio processo, apresentando novas ferramentas que oferecem escala e/ou qualidade ao conhecimento especializado que existe nas pessoas, permitindo que estas se foquem cada vez mais na otimização dos processos, em redução da não qualidade e com isso garantir a total satisfação dos requisitos dos clientes.
Com igual importância, as parcerias com instituições de ensino são, para nós, da maior relevância como forma de garantir o alinhamento entre as necessidades de mercado e a academia, adicionando valor tanto pela ligação que permite a captação de novos talentos, bem como pela transferência de conhecimento resultante da investigação académica.
“Em 2002 projetámos um MBI da empresa, que ofereceu à Palbit uma nova visão estratégica de mercado focada na inovação”.
Em 2002, avançaram com um Management Buy In. Quais foram os maiores desafios e lições aprendidas?
Em 2002 projetámos um MBI da empresa, que ofereceu à Palbit uma nova visão estratégica de mercado focada na inovação. A inovação dos produtos e processos permitiu alicerçar a estratégia global e potenciar um crescimento acumulado superior a 6,5 vezes do volume de negócios, quando comparados os resultados atuais com os de 2001.
Que conselho deixa às empresas que querem passar por um processo semelhante de MBO/I?
Estudem bem os mercados, certifiquem-se de apostar fortemente nos fatores críticos de sucesso e ver o mercado alvo a nível mundial e não apenas local. A indústria é cada vez mais internacionalizada e a competição global. Têm de se projetar no mundo.
Em 2021, a empresa registou um volume de negócios de 20 milhões de euros, mais 30% em relação a 2020. Quais as expetativas para este ano?
A previsão de vendas de 2022 é de 26 milhões de euros, o que representa novamente um crescimento de 30% e alinhado com os objetivos de crescimento definidos até 2030.
Qual o peso das exportações na faturação da empresa atualmente e qual os mercados mais representativos para a Palbit?
Trabalhamos diariamente para reforçar a nossa rede de distribuição e parcerias à escala global. Como resultado dessa estratégia, mais de 90% do nosso volume de negócios é efetuado em mercado externo. Os mercados de destino são muito diversificados, com uma diversificação de setores abrangidos que vão do Automóvel, Moldes, Ferrocarril, Indústrias Metalomecânicas, etc. Todavia o mercado EMEA possui uma relevância significativa nas nossas vendas.
“O nosso foco é aumentar o impacto dos projetos de I&D, otimizar o seu time to market, de forma a atingir os objetivos dos nossos clientes”.
Planos para o futuro da Palbit?
O ponto central do presente e futuro será garantir o cliente como centro de toda a definição estratégica. O nosso foco é aumentar o impacto dos projetos de I&D, otimizar o seu time to market, de forma a atingir os objetivos dos nossos clientes.
Respostas rápidas:
O maior risco: A evolução económica num contexto de guerra e novos desenhos da internacionalização das economias.
O maior erro: Apostar nos mercados e produtos de baixo valor, via mais fácil no curto prazo, mas que impede as empresas de progredir.
A maior lição: A inovação e desenvolvimento ditam as taxas de crescimento futuras.
A maior conquista: Espírito de equipa formidável.