Opinião
A importância de um Plano
A arquitetura portuguesa como setor de actividade é um caso excecional, no contexto da economia nacional, por motivos díspares e, aparentemente, contraditórios numa primeira análise.
Poucos sectores de atividade em Portugal têm o reconhecimento e qualidade da arquitetura e dos arquitetos portugueses. O produto é de excelência, os profissionais têm uma formação de elevada qualidade e uma ética de trabalho, que os permite destacarem-se em qualquer lugar do mundo. As premiações a nível internacional sucedem-se, ano após ano, para arquitetos de variadas gerações e existe, inclusive, uma ideia de marca que se reflecte na atractividade, que a arquitetura portuguesa tem exercido na cativação de talentos e clientes internacionais para o seu seio ao longo do último quarto de século.
No entanto esta situação, que seria o prenúncio de um desempenho económico invejável, encerra em si uma realidade desafiante. Rendimentos em queda, um mercado interno reduzido para uma concorrência intensa que contrai preços, uma escala reduzida das organizações para internacionalizar, custos de contexto decorrentes da actividade, como os associados à submissão de processo, e uma miríade legislativa relacionada com mais de 1600 entradas entre portarias e decretos de lei, demonstram que o modelo organizacional e económico do sector está desajustado das necessidades.
Só que as anteriores tentativas de análise, de reflexão e delineamento de estratégias para fazer face a uma situação palpável por todos, embatiam sempre numa muralha que geralmente confina a nossa economia.
A ausência de um diagnóstico aprofundado com dados mensuráveis, passíveis de serem monitorizados no futuro, que libertem a estratégia de suposições e experiências individuais tomadas como um todo, a ações condicionadas por ciclos internos das instituições. A informação assimétrica entre os vários actores do setor impede a apropriação e alinhamento com objectivos comuns e induz a uma consequente atomização dos profissionais e empresas.
Foi com essa consciência da necessidade inadiável de elaborar uma estratégia global para a definição do futuro do Setor da Arquitctura em Portugal, que a Seção Regional Norte da Ordem dos Arquitectos encomendou à Escola de Economia e Gestão da Universidade do Minho o PESA – Plano Estratégico para o Sector da Arquitectura.
Dividido em três grandes capítulos – Diagnóstico; Planeamento Estratégico e Operacional e Análise de Custos – o PESA analisa do acesso à profissão, à caracterização do sector em Portugal comparativamente com a realidade Europeia, ao trabalho e rendimento do Arquitecto, passando por um planeamento estratégico assente em 16 dezasseis eixos de actuação, que vão do apoio à internacionalização até à melhoria das condições de trabalho, à explanação dos factores determinantes da rendibilidade das empresas de arquitectura.
Sobretudo, estabelece um rumo ao sector, com este instrumento de orientação e acção que integra indicadores que permitirão avaliar o impacto de medidas e afinar estratégias ao longo da operacionalização do Plano e cuja pertinência acresceu face ao impacto que um acontecimento inesperado da escala da pandemia tem e terá na Sociedade e na economia.
Face aos desafios que o setor da Arquitetura em Portugal enfrenta o sinal que emerge, apesar da parcimónia e pragmatismo que a realidade impõe, é de optimismo por três simples razões:
Temos as Pessoas. Temos o Produto. Finalmente, temos um Plano.
Alexandre Ferreira nasceu em 1980, na cidade do Porto. Licenciado em Arquitectura pela Universidade Lusíada do Porto, em 2003. O seu percurso profissional iniciado em 2004, levou-o a desenvolver uma actividade profissional multidisciplinar, disseminada em concursos, projectos e obras de várias escalas por Portugal, Espanha, Itália e Islândia. Complementou a sua formação de base com o Curso Geral de Gestão da Porto Business School, em 2013. Tem colaborado e participado na concepção de conferências e concursos na área da Arquitectura. Para lá do âmbito profissional, envolve-se desde 2008 na génese e na participação activa em movimentos cívicos e políticos. É Vice-Presidente do Conselho Directivo da Secção Regional do Norte da Ordem dos Arquitectos desde 2014.