Opinião

Empresa portuguesa que vende tecidos para a Louis Vuitton cria área de healthcare

José Carlos Oliveira, CEO do Elastron Group

Em atividade há mais de quatro décadas e com exportações para mais de 90 países, o grupo Elastron teve de reinventar-se nos últimos meses.  Apostou na investigação de produtos de alto consumo relacionados com a pandemia, criou uma divisão de Healthcare e prepara-se para lançar uma plataforma B2B. José Carlos Oliveira, CEO do grupo, explicou ao Link To Leaders como a Elastron está a ultrapassar crise.

Louis Vuitton, Prada, Carolina Herrera e Hugo Boss fazem parte da carteira de clientes da Elastron, um dos maiores fornecedores de revestimentos para a indústria dos estofos na Europa. Com mais de 40 anos de história, a empresa dedica-se ao desenvolvimento e comercialização de artigos – que vão desde a pele natural aos tecidos e microfibras -, sendo também uma referência no mercado nacional da indústria do calçado.

Em 2017, a Bolsa de Valores de Londres distinguiu a empresa nortenha e incluiu-a na lista das dez empresas mais inspiradoras de Portugal. O estudo foi realizado com base no ritmo de crescimento no triénio de 2013 a 2016.

Nos últimos meses, a pandemia levou a empresa a reinventar-se: “detetámos logo que a máscara seria um produto de grande consumo. Só no grupo Elastron seriam necessárias 4.200 máscaras. Considerámos um consumo de duas máscaras por dia por funcionário para os nossos cerca de 200 funcionários e concluímos que precisávamos 4.200 máscaras descartáveis por mês só para o nosso grupo. Nessa altura, este bem era escasso e caro no mercado, e tínhamos a oportunidade de desenvolver, comprar e distribuir máscaras com qualidade aos preços mais competitivos do mercado”, referiu José Carlos Oliveira, CEO da Elastron, em entrevista ao Link To Leaders.

Com a venda de máscaras, a Elastron formou uma nova divisão, a divisão Healthcare, através da qual está a desenvolver vários produtos para lançar nos próximos meses.

Em mais de 40 anos de atividade, e tendo ultrapassado outros ciclos de crise, como é que a Elastron está a sobreviver a 2020, com o cenário de pandemia instalado?
Apesar desta grande tragédia para toda a humanidade, o grupo Elastron está em contraciclo, reinventou-se e superou-se na adversidade. Toda a indústria dos estofos, relacionada com a decoração do lar, está a passar um momento alto, devido ao novo perfil dos consumidores, menos virados para viagens ou vida social e mais preocupados com o bem-estar nas suas casas. O restauro, recuperação e decoração passaram a estar no topo das suas prioridades. No setor do calçado, apesar de adversidade do momento, aprofundamos as parcerias através das marcas com alta componente digital.

“Vivemos o drama de não saber o que iria acontecer e quanto tempo iria demorar a pandemia”.

Tiveram, portanto, de reinventar-se?
Sim. Em abril e maio deste ano foi um momento muito difícil. Vivemos o drama de não saber o que iria acontecer e quanto tempo iria demorar a pandemia. Rapidamente, tivemos de criar um plano B que nos permitisse ultrapassar o risco em tempo de pandemia. Assim, decidimos fazer investigação de produtos de alto consumo relacionados com a pandemia.

“Temos empresas detidas a 100% em Portugal, China, Alemanha, Polónia e Espanha e já vendemos os nossos produtos com marca Elastron para mais de 90 países”.

Juntaram a venda de máscaras à vossa oferta de produtos. Porquê esta opção e o que tem o vosso produto de distintivo?
Detetámos logo que a máscara seria um produto de grande consumo. Só no Grupo Elastron seriam necessárias 4.200 máscaras. Considerámos um consumo de duas máscaras por dia por funcionário para os nossos cerca de 200 funcionários e concluímos que precisávamos 4.200 máscaras descartáveis por mês só para o nosso grupo.

Nessa altura, este bem era escasso e caro no mercado, e tínhamos a oportunidade de desenvolver, comprar e distribuir máscaras com qualidade aos preços mais competitivos do mercado. Claro que à escala que o fizemos, só poderia ser possível com a estrutura multinacional e know-how acumulado da Elastron que nos permite visibilidade e capacidade negocial. Temos empresas detidas a 100% em Portugal, China, Alemanha, Polónia e Espanha e já vendemos os nossos produtos com marca Elastron para mais de 90 países. Estes mercados foram eleitos dentro de uma estratégia comercial que teve em conta a escala e a proximidade dos mesmos aos grandes clusters.

A qualidade e performance das nossas máscaras descartáveis foram e são a nossa maior preocupação. Contudo, a nossa preocupação é a de uma marca que inspire fiabilidade, segurança, uma utilização confortável e um look distinto, vendidas num packaging atrativo – são os maiores fatores de distinção.

Como é que se consegue atingir o patamar de ser considerado um dos maiores fornecedores europeus de revestimentos para a indústria de estofos?
Só com muita paixão, determinação e resiliência. Uma boa equipa e um pouco de sorte nos momentos críticos são fatores essenciais. Conquistar o mercado internacional, não é fácil. Muitas vezes ser muito melhor que a concorrência não é suficiente. Criar uma boa rede de contactos é um fator crítico de sucesso.

“Fazemos investigação e desenvolvimento de produtos com parceiros globais na Europa, América e Ásia (…)”.

Onde estão atualmente as vossas unidades de produção?
É importante salientar que a Elastron não produz a mercadoria que vende. Fazemos investigação e desenvolvimento de produtos com parceiros globais na Europa, América e Ásia, com os quais temos acordos comerciais que protegem os nossos desenvolvimentos de produto, marca e conceitos. Com presença física de Portugal à China, com empresas e stock permanente em cinco países, a abrangência da marca e produto Elastron é global.

Qual o target que procuram atingir?
A regra é comercializar produtos com qualidade reconhecida nos mercados. Gostamos de diversificar e criar produtos com a premissa de maior valor acrescentado. Os produtos podem ser encontrados em muitas das maiores marcas mundiais, tanto pela dimensão como pela reputação das mesmas. Sejam estas marcas europeias, norte-americanas ou chinesas, das mais diversas nacionalidades e de distintos targets e áreas de atuação, da decoração e projeto à Indústria, do indoor ao outdoor e segmento automóvel.

Quais os setores predominantes na vossa lista de clientes?
Na indústria do estofo fornecemos produtores de sofás e cadeiras para o setor residencial, hotelaria, restauração, lugares públicos, outdoor e automóvel. Na indústria do calçado fornecemos os diversos componentes para os produtores de todos os segmentos de mercado, do estilista e designer de produto ao mass market. No mercado das máscaras, vendemos para os maiores players de mercado. Estes são transversais a vários setores e vão do pequeno comércio à grande distribuição e venda a retalho.

“A nossa estratégia é continuarmos a surpreender com novos produtos e argumentos de venda e de promoção de artigo”.

Recentemente foram distinguidos com o Prémio de Mérito Empresarial pelo investimento na China. Quais os vossos objetivos em termos de apostas internacionais? Para onde se direcionam os vossos holofotes?
Após a grande expansão do grupo nos últimos anos, este é o momento de consolidação da nossa posição no mercado. A nossa estratégia é continuarmos a surpreender com novos produtos e argumentos de venda e de promoção de artigo. Continuamos a apostar na notoriedade do grupo com uma marca cada vez mais forte no mercado. A aposta em melhorarmos o serviço, ajustando-o a cada mercado é também uma preocupação constante e um grande desafio.

Qual o peso da exportação no volume de negócios do grupo?
Até ao momento, neste ano, o volume de negócios feito fora de Portugal equivale a 56%. Os nossos principais mercados internacionais são Espanha, Itália, China, Alemanha e Polónia. Contudo, já exportamos para mais de 90 países e destes temos vários mercados emergentes em vários pontos do mundo.

A Elastron é também uma referência no mercado nacional da indústria do calçado. Como tem evoluído este setor?
Este setor é um verdadeiro case study mundial. Um exemplo a seguir para vários setores nacionais, que ambicionam ganhar reputação e mercado internacional. A indústria portuguesa de calçado é a segunda mais reputada do mundo, a seguir à italiana. Exporta a esmagadora maioria do que produz em Portugal com uma qualidade e um preço muito superior aos diversos concorrentes mundiais.

Mais alguma área de atividade em que pretendam entrar a médio prazo?
Com a venda de máscaras, a Elastron formou uma nova divisão: a divisão Healthcare. Estamos a desenvolver vários produtos nesta área para lançarmos nos próximos meses.

Que peso têm a investigação e desenvolvimento (I&D) na vossa estratégia de negócios?
É difícil quantificar objetivamente este valor pois podemos aplicar vários critérios. Diria cerca de 5% do nosso volume de negócios.

“Vamos investir no próximo ano no departamento de  IT e em ferramentas digitais”.

Como estão a lidar com o processo de transformação digital que está a chegar às empresas nacionais, este ano acelerado devido à pandemia?
Esta aposta está a ser levada muito a sério. Vamos investir no próximo ano no departamento de  IT e em ferramentas digitais. Será crítico para o sucesso das empresas estarem adaptadas a este novo mundo.

A transição para o digital, lojas online, ecommerce… já é uma realidade no vosso caso?
Sim, já é uma realidade. Contudo, o investimento e o desenvolvimento nesta área vai acelerar no próximo ano, apresentando uma plataforma B2B inovadora, que se encontra atualmente em fase de teste com clientes reais e nos diversos segmentos de negócio.

Qual o segredo para que uma empresa nacional consiga ter projeção internacional para chegar a marcas como a Louis Vuitton, por exemplo?
Curiosamente, a Louis Vuitton foi alcançada de várias formas. Diretamente nas feiras internacionais, europeias e asiáticas. Também indiretamente, através de clientes aos quais vendemos alguns produtos para serem incorporados nas produções destes para serem vendidas à Louis Vuitton.

“Portugal, através dos organismos públicos competentes, tem feito um esforço considerável nos apoios à internacionalização das PMEs (…)”.

Portugal está a apoiar as empresas portuguesas da forma que seria desejável?
Portugal, através dos organismos públicos competentes, tem feito um esforço considerável nos apoios à internacionalização das PME, nomeadamente e de forma mais visível no apoio do Portugal2020 à presença nas principais feiras internacionais do setor.

No ano passado, a London Stock Exchange incluiu a Elastron na lista das 10 empresas mais inspiradoras em Portugal. O que significa esta distinção para o grupo?
Ser considerada uma empresa inspiração pela segunda Bolsa de Valores mais importante do mundo é um grande orgulho. Reconheceu um crescimento notável num período de três anos. Nesse mesmo período fomos também distinguidos pela ANJE e pela Câmara Municipal do Porto no programa ScaleUp.

Temos tido muitos outros reconhecimentos. Podemos destacar, por exemplo, o prémio 2019 para a Empresa Portuguesa a investir na China, atribuído anualmente pela Câmara de Comércio e Indústria Luso-Chinesa. Nos últimos dias, fomos informados que somos uma das três empresas nomeadas para o Prémio AICEP “Melhor PME Exportadora”. Nomeação que premeia o bom desempenho das empresas nacionais no estrangeiro.

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