Opinião
Prognósticos? Só no fim!
Os longos tempos de confinamento forçado pela pandemia da Covid-19 acentuaram a importância do digital e determinaram a reconfiguração de realidades como o teletrabalho, as telereuniões e a educação online, originando uma verdadeira “indústria” de webinars e de lives um pouco por todo o lado, o que se saúda.
Grande parte desses eventos online permitiram confrontar na hora ideias e pontos de vista diversos sobre muitos e variados temas que, de outro modo, não seria possível concretizar. Tendo assistido a um número significativo de webinars e lives sobre os temas que, por motivos profissionais, mais nos interessam, como sejam as relações internacionais, políticas e económicas, constatamos em muitos casos posições que resultam, não de uma análise serena e isenta, mas que transformam desejos em realidades futuras, segundo as ideologias perfilhadas pelos intervenientes.
Com desmedida facilidade se “decreta”, por exemplo, o fim da União Europeia e a fragmentação política do velho continente, a extinção dos blocos regionais existentes, o fim do multilateralismo e o novo normal do bilateralismo, fruto mais do incontido desejo de que o amanhã tenha os contornos definidos pela doutrina trumpista do que de uma análise serena e imparcial das várias hipóteses em jogo, rumo ao futuro, num tempo em que a situação muda quase que ao segundo.
A uns e outros, profissionais, consultores e académicos, exigir-se-ia bem mais do que a simples manifestação de convicções arreigadas ao longo dos tempos e do que entendem ser o melhor para os seus interesses: a evidência de uma análise minimamente fundamentada que sustente as suas previsões. Porque, assim sendo, não só prestam um mau serviço a quem os ouve como correm o risco de serem apontados como meros adivinhos do pós-covid e não como analistas credíveis, perspetivando cenários futuros!
Felizmente que se encontram também nesses webinars outros tipos de analistas que preferem traçar vários cenários alternativos para o futuro, ponderando diferentes probabilidades de concretização. Não por terem receio de tomar posição, mas pela dificuldade de encontrar uma que objetivamente se destaque com grande relevo das outras. Como Susana Costa e Silva, em artigo recentemente publicado no Jornal Económico, que afirmava “não ser de esperar que nos próximos tempos se volte a assistir a uma globalização sem precedentes como aquela a que se assistiu até há pouco tempo atrás, com todos os prós e contras que lhe estão associados. O que sucederá após a pandemia, só o tempo o dirá”.
Sábias palavras finais, porque embora previsível o cenário que a ilustre docente aponta, efetivamente “o que sucederá após a pandemia, só o tempo o dirá”. À semelhança, muitos anos atrás, de um célebre jogador de futebol, quando perguntado sobre qual o resultado que previa para um clássico que a sua equipa iria disputar no domingo seguinte, respondeu: “Prognósticos? Só no fim!”.








