Europa investe em “Tech for Good”. Conheça a estratégia dos fundos de capital de risco.
As start-ups de tecnologia e os investidores europeus querem provar que o lucro e o fim social podem andar lado a lado e fazer parte de um plano de negócio.
A Europa assiste a uma tendência entre as start-ups tecnológicas: estas querem tornar-se líderes de um tipo diferente de tecnologia, a “tech for good”. Como o velho continente ficou de fora da primeira vaga de grandes empresas tecnológicas, como a Amazon, o Facebook, entre outras, os empreendedores e investidores acreditam que esse distanciamento está a permitir aos europeus questionar os valores e a ética da tecnologia de uma forma que outras nacionalidades não podem, avança o Shifted.
Cada vez mais empreendedores e investidores estão a tentar provar que a Europa pode criar modelos alternativos para a inovação tecnológica, que sejam ao mesmo tempo lucrativos e bons para a sociedade. Estes empreendedores acreditam que a Europa pode estabelecer um novo padrão global, mostrando que as melhores práticas de impacto ambiental, diversidade e privacidade são um factor determinante para o desempenho financeiro.
Várias start-ups estão a surgir na Europa, que prometem ser mais amistosas com o planeta, com os clientes e com os empregados do que as empresas das gerações anteriores.
No entanto, o que se pode definir como “Tech for good” ou “tecnologia para o bem”? Não existe uma definição concreta. Porém, de um modo geral, o conceito está relacionado com start-ups que usam a tecnologia para dar resposta a grandes problemas sociais e ambientais que visam melhorar a vida de milhões de pessoas. Ora isto pode relacionar-se com o desenvolvimento de serviços ou produtos para saúde mental, educação, envelhecimento, pobreza, desigualdade, isolamento social ou o ambiente.
O conceito “Tech for good” é aplicado a empresas que pretendem resolver (ou já resolveram) uma necessidade real e com consequências positivas para o mundo. Essa é a razão pela qual mais investidores estão a interessar-se por estas start-ups.
Tecnologia para bons investidores
Fundos de investimento como a Fundação Norrsken de Estocolmo e a Bethnal Green Ventures (BGV) de Londres (um fundo de capital de risco que aposta em start-ups em fase inicial) estão atentos às propostas dos empreendedores que estão a desenvolver soluções para resolver os desafios de amanhã e simultaneamente obter grandes retornos. Estes fundos procuram modelos empresariais em que o impacto social seja incorporado à proposta de negócio, onde é equacionado o valor comercial e também social que a start-up cria.
Um exemplo no portfólio da BGV é a “How Do I?”, uma aplicação sobre demência criada no Reino Unido e desenvolvida com as autoridades locais de Essex. Nos próximos 10 anos, 3 mil pessoas serão diagnosticadas com demência em Essex. A aplicação “How Do I?” calculou que, se apenas metade dessas pessoas usarem a ferramenta, elas poderão viver em casa com a doença por mais três semanas – e economizar às autoridades locais até 10 milhões de libras (10,85 milhões de euros) num ano.
As start-ups “tech for good” não têm necessariamente menos receitas, apenas porque têm um impacto mais positivo do que a empresa média. E a prova disso é que há empreendedores que estão a desenvolver negócios que não só impactam positivamente a vida de milhões de pessoas, mas que também valem mais de 50 a 100 milhões de libras (54,1 a 108,3 milhões de euros). Esta é a estratégia da BGV que tem como objetivo atingir retornos elevados, mesmo quando comparados com outros fundos de capital de risco de fase inicial com uma abordagem mais tradicional.
Vários empreendedores também consideram que as start-ups que enfrentam os maiores problemas do mundo – por exemplo, as alterações climáticas ou cancro – têm não só o potencial de ter um impacto enorme na sociedade e obter lucros substanciais. Ao desenvolver soluções para problemas mundiais o potencial de receita também é global. Por exemplo as alterações climáticas e o envelhecimento da população são desafios que afetam todas as nações, as start-ups que podem oferecer produtos e serviços nessas áreas podem ser muito relevantes não só no mercado doméstico e internacional.
Os investidores estão a testar formas de avaliar o desempenho comercial destas start-ups. A empresa de investimentos Gaia Capital Partners, sediada em França, não é um fundo de impacto, mas tenta vincular variáveis como impacto ambiental, administração, práticas de contratação e criação de empregos nos seus modelos de avaliação. O fundo mede e acompanha a forma como as empresas estão a melhorar nesses pontos, bem como os principais indicadores de desempenho (KPIs), e orienta as start-ups no sentido que considera ser mais proveitoso para as ajudar a aumentar os rendimentos.
A empresa de financiamento quer ter start-ups no seu portfólio que tenham práticas de crescimento responsáveis. A Gaia Capital Partners acredita que isto é a chave para garantir que as melhores práticas se espalhem entre as start-ups. O fundo pretende partilhar a sua metodologia com outros investidores, com o objetivo de poder iniciar um debate sobre a construção de um método de medição padrão para ser utilizado em todo o ecossistema. A Sycomore Asset Management apoia esta iniciativa de partilha.
A BGV usa os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU como uma estrutura para avaliar e medir o impacto no seu portfólio. A BGV pede às empresas do portfólio que relatem trimestralmente o seu impacto. Para uma empresa do portfólio, a LettUs Grow que projetou sistemas de irrigação aeropónica para produção agrícola em estufa, isso significa medir quanto menos água e fertilizantes o sistema usa em comparação à agricultura tradicional e à tecnologia hidropónica (uma metodologia usada por muitas start-ups de agricultura em estufa).
As start-ups socialmente responsáveis não vão desaparecer, nem a tecnologia para bons negócios. Há esperança de que haja um crescente pool de capital para as apoiar. A próxima oportunidade pode vir do “capital mainstream”, que está à procura do caminho para o impacto social, conclui o Shifted.








