Start-up inglesa utiliza machine learning no diagnóstico de doenças

Com o crescimento populacional, os sistemas de saúde pelo mundo fora estão a ficar sobrecarregados, com poucos recursos e pouco preparados para os desafios da atualidade. Contudo, algumas start-ups começam a criar soluções inovadoras recorrendo às potencialidades da tecnologia.
A start-up tecnológica britânica, Feebris, está a investigar uma forma de usar algoritmos de inteligência artificial para deteção de precisão de condições respiratórias complexas no mundo real. O sistema liga-se a sensores médicos existentes e pode ser manipulado por utilizadores não médicos para identificar problemas respiratórios precocemente, evitando complicações e hospitalizações. Este é um exemplo, citado pela Forbes, de como a tecnologia está a mudar a saúde em todo o mundo.
“Os cuidados de saúde são um direito. No entanto, devido à maneira como os nossos sistemas de saúde são organizados hoje, milhões de pessoas não conseguem o atendimento necessário quando precisam. Isso só vai piorar à medida que as populações aumentam e envelhecem. Criámos a Feebris para desenvolver Inteligência Artificial ética que melhora o acesso ao diagnóstico precoce para os pacientes mais vulneráveis”, afirma Elina Naydenova, CEO da empresa, inglesa.
“É inaceitável que em 2019 possamos usar um único dispositivo para comunicar, recorrer a serviços bancários, navegar e pesquisar informações, mas que ainda haja quase um milhão de crianças a morrer de doenças perfeitamente tratáveis, como a pneumonia, por ser diagnosticada tarde demais”, destaca a responsável da Feebris.
Uma nova geração de cuidados de saúde
Doutorada em Machine Learning para Inovação da Saúde, em Oxford, Elina Naydenova desenvolveu o conceito da Feebris durante um estágio na Organização Mundial da Saúde em 2014. Tem como missão criar uma nova geração de serviços de saúde acessíveis, precisos e personalizados. “Mundialmente, temos uma escassez de 7,2 milhões de profissionais de saúde; simplesmente não é possível formar profissionais de saúde suficientes para responder aos crescimento populacional”, alerta Elina Naydenova.
“Criamos ferramentas digitais de saúde que permitem que cuidadores e profissionais de saúde realizem exames regulares e detetem problemas de saúde. De seguida essas ferramentas traduzem volumes esmagadores de dados de saúde em conhecimento prático. Desenvolvemos algoritmos avançados que podem detetar marcadores de doenças e destacar os pacientes que precisam de cuidado médico mais urgente”, explica.
Assim, baseado numa aplicação móvel, o Feebris recebe os dados através de sensores disponíveis no mercado, como estetoscópios digitais e oxímetros de pulso. A CEO da start-up explica que seguindo a interface intuitiva desta ferramenta, um utilizador não médico pode captar as medições, que são analisadas pelos algoritmos da Feebris, para identificar diferentes marcadores de doenças e detetar um problema de saúde. Uma recomendação é emitida ao utilizador e um resumo do exame pode ser partilhado com um médico.”
Quando se trata de diagnosticar uma condição complexa, há muitos dados envolvidos e o uso de inteligência artificial pode acelerar este processo. “Nos cuidados primários, detetar um problema respiratório envolve um clínico geral usando um estetoscópio para ouvir os diferentes sons pulmonares, contando a frequência respiratória, verificando o oxigénio da pessoa, bem como uma série de outros sintomas que o paciente pode relatar”, diz a fundadora da start-up. “Uma grande parte deste método envolve o processamento de dados, utilizando máquinas. Por exemplo, a deteção de sons pulmonares com um estetoscópio pode ser um desafio e altamente dependente da perícia do clínico. Uma vez incluído um conjunto vasto de interpretações clínicas, os algoritmos de IA podem repetir esta atividade em segundos.”
Elina Naydenova acrescenta que os algoritmos de IA são bons a detetar padrões em grandes volumes de dados, permitindo uma avaliação holística e personalizada de um quadro clínico. “Quando desenvolvida de forma responsável e ética, a IA pode ser um assistente fiável para os médicos, aliviando a carga de processamento de dados e libertando tempo para uma interação médico-paciente de maior qualidade.”
Resultados comprovados
Embora a tecnologia seja nova, a Feebris já alcançou resultados significativos. Após testes clínicos que comprovaram a eficácia da IA na deteção de pneumonia infantil, a plataforma de origem inglesa já está a ser usada na Índia por profissionais de saúde para realizar 10 mil exames a crianças com menos de 5 anos, revela fundadora da start-up. “No ano passado, vencemos o concurso Big Ideas da RGA e uma bolsa do Social Tech Trust para começar a desenvolver um produto de ajuda a pacientes idosos no Reino Unido”, acrescenta.
Recentemente a start-up angariou 1,1 milhões de libras (1,2 milhões de euros) da 24 Haymarket e recebeu uma bolsa da Innovate UK. A CEO da Feebris diz que o financiamento irá alimentar a evolução da plataforma e dos testes junto das comunidades idosas no Reino Unido. Além disso, a start-up foi selecionada para o programa AI for Good, do Google for Startups. “O nosso objetivo é ser a primeira plataforma de inteligência artificial certificada pela CE para a saúde respiratória. Estamos a trabalhar com parceiros, e empenhados em gerar resultados revistos por pares de alta qualidade para avaliar totalmente o impacto económico da nossa inovação na saúde e garantir que melhoramos os resultados para os pacientes e reduzimos a pressão sobre os sistemas de saúde”, conclui.