Entrevista/ “O nosso foco são empresas portuguesas de e-commerce”

Mais de 150 mil clientes finais e 30 mil empresas recorrem à Eurosender regularmente. Destes, cerca de 15% são portugueses, revelou Tim Potočnik, CEO da empresa, em entrevista ao Link To Leaders.
Pensada por dois jovens – Tim Potočnik e Jan Štefe – que sentiam dificuldade em encontrar um serviço acessível, a Eurosender agrega algumas das mais importantes empresas de distribuição na Europa como DHL, DPD, GLS e Kuehne Nagel.
Presente desde o primeiro ano de atividade em Portugal, a empresa tem visto o negócio crescer quase de forma orgânica e os últimos resultados mostram uma tendência crescente da utilização dos serviços de e para Portugal.
O maior volume de encomendas que sai de Portugal segue para Itália, Reino Unido, Alemanha, Polónia e Holanda. Fatores como a emigração temporária, nomeadamente através do programa Erasmus para diversas cidades italianas e alemãs, e a de longo prazo, com especial incidência em Inglaterra, explicam este fenómeno.
Como e quando surgiu a Eurosender?
A Eurosender foi fundada em 2014 depois de ter sentido na pele a dificuldade em enviar alguns pacotes da Polónia, onde estive a estudar, para a Eslovénia, o meu país de origem. Lembro-me de como os serviços de logística eram caros e confusos naquela época. Era impossível fazer um pedido de envio online. Em vez disso, tive que ligar e enviar e-mail para empresas de distribuição individualmente. Escusado será dizer que levei imenso tempo.
Nesse momento pensei que provavelmente não seria o único a ter que enfrentar este tipo de problemas. Liguei para o meu amigo Jan Stefe e juntos começámos a desenvolver a Eurosender – uma plataforma online onde as pessoas podem enviar os seus pertences em três minutos ou menos, com preços até 70% mais baratos do que a oferta habitual. Tivemos o nosso primeiro grande empurrão quando nos juntamos ao acelerador Pro Sieben Sat 1 em outubro de 2014.
De que forma este acelerador ajudou a Eurosender?
O acelerador – parte de uma empresa de media multinacional alemã – ajudou-nos com consultoria, sobretudo, de marketing e vendas, com as questões legais e de administração, mas acima de tudo apresentou-nos executivos em quase todas as principais empresas de logística europeias (DPD, DHL, Kuehen + Nagel, GLS). Nos meses e anos seguintes estreamo-nos em 30 novos mercados, fizemos novas parcerias (entre outras, com o grupo alemão de seguros Ergo e a rede britânica de pontos de recolha Parcelly) e aumentámos investimentos de business angels, venture capitals e corporações – sendo a mais recente a POST Luxembourg.
A Eurosender está em Portugal quase desde o início, já que se tem revelado um mercado perfeito para constatar se a Eurosender é realmente interessante para um público europeu mais amplo.
Como se deu a entrada no mercado português?
A Eurosender está em Portugal quase desde o início, já que se tem revelado um mercado perfeito para constatar se a Eurosender é realmente interessante para um público europeu mais amplo. No início de 2015, fomos para Lisboa, comprámos um bilhete de avião apenas de ida e dissemos que iríamos ficar o tempo que fosse necessário para gerar a primeira venda. Em apenas algumas semanas, conseguimos fazer exatamente isso.
Como carateriza o tipo de clientes que procura a Eurosender?
De um modo geral, os nossos clientes são indivíduos e empresas que não são utilizadores avançados de logística, mas sim que enviam alguns pacotes ou paletes por mês ou por ano. Falamos de estudantes, expatriados, desportistas que precisam de transportar equipamentos volumosos e pequenas empresas.
Somos especialmente populares em empresas que têm volumes de remessa pequenos (alguns pacotes ou paletes por dia) e não possuem pessoas especializadas na área da logística. Esse tipo de empresas costuma ter problemas em realizar bons negócios com as distribuidoras, já que não se tornam tão interessantes para elas quanto as grandes empresas, tornando-se por isso importantes para nós.
Quantos clientes têm neste momento em Portugal? E na Europa?
Mais de 150 mil clientes finais e 30 mil empresas recorrem à Eurosender regularmente – cerca de 15% deles são portugueses.
Atualmente, a Eurosender emprega cerca de 40 pessoas. São provenientes de 10 países e falam 16 idiomas.
Para assegurar os vossos serviços, contam com quantas pessoas?
Atualmente, empregamos cerca de 40 pessoas. São provenientes de 10 países e falam 16 idiomas. Estamos a contratar mais e acreditamos que, até ao final do ano, haverá mais de 70 pessoas a trabalhar para a empresa.
Qual a estratégia de expansão da empresa?
Nos próximos meses aumentaremos significativamente a equipa. Como estamos muito satisfeitos com o desempenho dos colegas portugueses, lançamos o convite a todos os portugueses ambiciosos para se juntarem a nós. Atualmente, estamos à procura de especialistas em conteúdos e SEO, profissionais de TI e membros para a equipa de vendas.
Do ponto de vista comercial, aumentaremos ainda mais as nossas ações nos mercados da União Europeia. Planeamos solidificar a nossa posição como prestadores de serviços de transporte confiáveis e acessíveis, que acompanham as melhorias na plataforma. Isso significa que os clientes terão uma experiência ainda mais personalizada, dependendo do perfil do cliente (expatriado, estudante, negócios, turista) e das suas necessidades de envio.
Especialmente numerosos são os utilizadores que enviam encomendas de Portugal para o Reino Unido, Alemanha, França e Itália.
No ano passado, a Eurosender cresceu 40% no mercado português. O que contribuiu para este crescimento?
Existem vários fatores que contribuem para o crescimento em Portugal. Há muitos portugueses a viver noutros países europeus – mais de 400 mil portugueses vivem apenas no Reino Unido, por exemplo. Especialmente numerosos são os utilizadores que enviam encomendas de Portugal para o Reino Unido, Alemanha, França e Itália.
O mesmo é válido para os alunos. Portugal é um dos destinos mais populares entre os estudantes. Recebeu 12.600 estudantes em 2016 – a maioria de todos os países. Esses são todos os nossos potenciais clientes. Já nos encontramos a trabalhar com eles e a oferecer serviços cada vez melhores e a preços acessíveis.
Também nos estamos a focar em empresas portuguesas – aquelas que começaram a experimentar o e-commerce, por exemplo. Apenas cerca de 30% das empresas portuguesas utilizam o comércio online como canal de vendas adicional, o que significa que ainda há muita margem para crescer. E uma vez que um transporte eficiente e acessível é fundamental para o sucesso de uma empresa ao nível de e-commerce, a Eurosender tem uma solução que pode ser útil para este tipo de empresas.
Quanto preveem faturar este ano em Portugal?
Tal como em 2017, planeamos pelo menos duplicar os resultados. De acordo com as previsões atuais, estamos no caminho certo para atingir os nossos objetivos.
Em comparação com outros mercados na Europa, os portugueses enviam 10 a 15% de pacotes mais pesados.
Quais as grandes diferenças na vossa atuação em Portugal em comparação com os países europeus onde estão presentes?
Portugal tem sido o nosso melhor mercado até agora. O tipo de clientes é, de certa forma, semelhante ao de outros mercados europeus, mas registamos mais clientes estudantes, bem como um crescimento maior no segmento B2B. Em termos de encomendas, os clientes portugueses enviam, em média, 1,6 pacotes por encomenda, com cerca de 41 kg. Em comparação com outros mercados na Europa, os portugueses enviam 10 a 15% de pacotes mais pesados. Há também mais uma coisa interessante sobre Portugal: é de longe o maior ponto de envio de encomendas de e para o Luxemburgo.
Disse que o negócio de entrega de encomendas na Europa é uma indústria multibilionária. Quer comentar?
A logística na Europa é um sistema enorme que permite o transporte e o armazenamento de biliões de embalagens, paletes e contentores a cada ano. E como as empresas de manufatura estão a aumentar as suas produções e o comércio eletrónico (B2B e B2C) está a crescer a pouco e pouco todos os anos, é importante que esses enormes sistemas se tornem automatizados e, portanto, mais eficientes. Eu acredito que a digitalização é a chave neste processo.
Quais os maiores desafios que têm encontrado?
Em Portugal, os utilizadores são um pouco céticos numa fase inicial (querem saber como o serviço funciona), mas quando vamos ao encontro das suas expectativas, tornam a recorrer ao serviço – a taxa de retenção entre os portugueses está entre as mais altas para nós.
De um modo geral, o setor da logística está sob enorme pressão devido ao crescimento massivo do comércio online B2C e dos novos modelos de logística, enquanto as empresas tradicionais (provedores de logística “tradicionais”) são desafiadas por novos players, desde as operadoras de correios e a Amazon, até concorrentes como a Eurosender.
Outro desafio importante para eles é reestruturar a infraestrutura criada outrora para responder melhor às necessidades e expetativas dos clientes de hoje. As empresas de logística precisarão de melhores ferramentas de TI para melhorar não só as interações com o cliente, mas também o processo interno de forma a compreenderem melhor os clientes.
Que iniciativas têm em carteira?
Atualmente, estamos especialmente focados em melhorar a plataforma. Há apenas algumas semanas, por exemplo, redesenhamos o serviço online, que agora é mais rápido e intuitivo. Pretendemos continuar a adicionar novas funcionalidades no futuro.
Como vê a Eurosender dentro de cinco anos?
Em cinco anos, a Eurosender tornar-se-á não só líder digital europeia, mas também a nível mais global no setor da logística. A nossa ambição é oferecer às pessoas e empresas uma solução na qual poderão enviar qualquer coisa para qualquer lugar do mundo com apenas alguns cliques e sem pagar muito dinheiro – basicamente tornando-se seu operador de logística pessoal ou comercial.
Respostas rápidas:
O maior risco: Más decisões de contratação.
O maior erro: Não aprender com os erros.
A melhor ideia: Foguetes que são capazes de voar de volta à terra intactos.
A maior lição: Vem do atletismo: não comece muito rápido, caso contrário irá perder a resistência necessária para terminar.
A maior conquista: Ser capaz de trabalhar com (pelo menos) 40 pessoas que partilham da mesma visão.