Opinião

Cadeia de Valor: da regulação à vantagem competitiva

Pedro Amaral Frazão, vice-presidente do GRACE – Empresas Responsáveis*

Num contexto empresarial cada vez mais regulado e exigente, a cadeia de valor deixou de ser um tema “de bastidores” para se tornar um importante desafio estratégico das empresas.

Conhecer a fundo quem fornece o quê, em que condições, com que impactos e em que geografias implica recolher e cruzar dados complexos, muitas vezes dispersos por vários níveis de fornecedores e por origens remotas da cadeia logística.

Este desafio aplica-se tanto ao fornecimento de bens como de serviços, desde a produção e distribuição de matérias-primas até à prestação de serviços essenciais como o transporte marítimo, rodoviário e a distribuição de “last mile”, cuja conformidade e desempenho ambiental e social passam a integrar a mesma análise de risco e responsabilidade.

Este esforço de apuramento de informação exige investimento de tempo, recursos humanos e tecnologia, mas é hoje decisivo para a competitividade. A digitalização e a rastreabilidade desempenham aqui um papel central, permitindo monitorizar cada etapa da cadeia de fornecimento e de serviços, desde a origem da matéria-prima até à entrega final ao cliente.

Sistemas digitais integrados, plataformas colaborativas e soluções baseadas em blockchain tornam possível recolher e validar dados em tempo real, garantindo transparência, fiabilidade e monitorização contínua do desempenho dos operadores que participam na cadeia, sejam produtores, distribuidores ou prestadores de serviços.

Sem dados fiáveis e facilmente rastreáveis sobre a cadeia de valor, é impossível responder com segurança a clientes, reguladores, investidores ou financiadores, e cada vez mais também aos consumidores, que se afirmam como um dos elos mais determinantes desta cadeia. Os hábitos de consumo estão a mudar profundamente: cresce a procura por produtos e serviços sustentáveis, éticos e transparentes quanto à sua origem, pegada ambiental e impacto social.

As empresas que conseguem demonstrar responsabilidade e rastreabilidade, não apenas nos seus produtos, mas também nos serviços que contratam, ganham vantagem competitiva junto de um público mais informado, exigente e consciente.

Ao mesmo tempo, muitas empresas europeias confrontam-se com uma questão estratégica:

Como cumprir um quadro regulatório cada vez mais exigente, como o europeu, sem perder competitividade face a concorrentes de outras geografias que não estão sujeitos aos mesmos critérios? A resposta passa, em grande medida, por transformar a conformidade numa vantagem competitiva, usando a regulação, e a digitalização, como motores de eficiência, inovação e criação de valor.

É neste contexto que o GRACE – Empresas Responsáveis se posiciona como parceiro estratégico das empresas. Para além da reflexão e da partilha de boas práticas, o GRACE oferece ferramentas concretas que ajudam a transformar obrigações regulatórias em vantagens competitivas.

A Matriz de caracterização da cadeia de valor permite mapear e classificar parceiros e fornecedores, de produtos e serviços, identificar riscos e impactos críticos, priorizar intervenções, definir planos de ação e monitorizar resultados. Na prática, ajuda as empresas a saber onde concentrar recursos, com que parceiros é necessário aprofundar diálogo, que condições contratuais podem ser revistas e que oportunidades existem para inovação, eficiência e redução de custos.

A Checklist de aplicação da Diretiva de Due Diligence sobre Sustentabilidade (CSDDD) constitui um roteiro prático para garantir a conformidade com esta nova exigência europeia. Orienta, de forma estruturada, a integração dos requisitos legais nas políticas internas, nos processos de avaliação de fornecedores e prestadores de serviços, e nos mecanismos de monitorização, permitindo às empresas reduzir riscos de incumprimento, prevenir sanções e proteger a sua reputação.

Ao disponibilizar estas ferramentas, sessões de capacitação e uma rede de empresas que enfrentam desafios semelhantes, o GRACE permite acelerar o caminho de adaptação, evitar erros isolados, partilhar soluções e transformar informação dispersa em conhecimento acionável. A conjugação entre digitalização, rastreabilidade e colaboração empresarial traduz-se em decisões mais rápidas e fundamentadas, melhor capacidade de resposta a pedidos de informação e maior transparência perante clientes, autoridades e consumidores.

Gerir de forma responsável a cadeia de valor deixou de ser um imperativo ético ou regulatório.

É uma poderosa alavanca de diferenciação e liderança. As empresas que dominam o conhecimento da sua cadeia, abrangendo tanto o fornecimento de bens como os serviços logísticos e energéticos, e que recorrem a tecnologias digitais para garantir rastreabilidade e visibilidade total, não apenas cumprem a lei, mas antecipam o futuro. Transformam exigência em oportunidade, transparência em confiança e conformidade em inovação.

Num mercado global onde a pressão regulatória europeia é mais intensa, e onde os consumidores e clientes institucionais valorizam práticas responsáveis em toda a cadeia de fornecimento e prestação de serviços, são estas empresas que convertem a responsabilidade em vantagem competitiva, fortalecem a sua reputação e ganham acesso preferencial a clientes, investidores e mercados de maior valor.

Conhecer, medir, digitalizar e gerir a cadeia de valor, em todas as suas dimensões, de produtos e serviços, é, hoje, o verdadeiro teste à capacidade das empresas para prosperar num mundo onde a sustentabilidade, a rastreabilidade e a confiança são condições essenciais para continuar a competir.

*Em representação do Grupo Sousa e líder do Cluster Cadeia de Valor do GRACE

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