Entrevista/ “O futuro é colaborativo, é sustentável, e pode ser português”

Carlos Silva, presidente e CEO da AlmaScience

Em apenas cinco anos, a AlmaScience consolidou-se como uma referência em inovação sustentável, transformando a ciência de ponta em soluções práticas e ecológicas. Liderada por Carlos Silva, a associação público-privada aposta em materiais naturais e tecnologias de “vida útil apropriada”, criando pontes entre universidades, centros de investigação e empresas para gerar impacto real no mercado e no planeta.

A AlmaScience nasceu da vontade de ligar a academia e a indústria, para responder a um desafio central: como transformar investigação científica em valor económico e soluções sustentáveis concretas.

“A nossa missão e aquilo que nos distingue é a criação de soluções tecnológicas com base em materiais naturais, que são abundantes, renováveis e versáteis, e empregando métodos de produção de reduzido impacto ambiental”, explica Carlos Silva, presidente e CEO do laboratório colaborativo de inovação e I&D, que também funciona como incubadora tecnológica para materiais funcionais e de eletrónica verde.

Atualmente, o ecossistema da AlmaScience reúne nove associados, incluindo a Universidade Nova de Lisboa, NOVA.ID, FCT, Fraunhofer Portugal, Raiz, The Navigator Company, Imprensa Nacional – Casa da Moeda, Grupo Clara Saúde, Firmo e o Município de Almada.

Ao Link to Leaders, Carlos Silva revela que são vários os projetos em curso, quer a nível nacional, quer internacional, mas destaca três que “refletem muito bem o posicionamento da AlmaScience como um centro de inovação colaborativo com impacto real”. Entre eles estão: o PaperWeight AI, sensor de papel que transforma prateleiras em centrais de dados e que já foi distinguido com o Prémio Nacional de Inovação; o PetriTag, sensor biodegradável para deteção precoce de contaminação em embalagens; e o GELA, rótulo de arrefecimento rápido para bebidas que acelera a refrigeração de forma sustentável.

Como surgiu a ideia de criar a AlmaScience e qual a missão?

A AlmaScience nasceu há cinco anos com o objetivo de fazer a ponte entre a academia e as empresas, como parte do esforço nacional para aumentar a competitividade e promover a adoção de tecnologias por parte do tecido empresarial do país.

A nossa missão e aquilo que nos distingue é a criação de soluções tecnológicas com base em materiais naturais, que são abundantes, renováveis e versáteis, e empregando métodos de produção de reduzido impacto ambiental. Todas as nossas soluções são personalizadas e sustentáveis e visam responder às necessidades das diversas indústrias, ajudando-as a prosperar de forma sustentável neste mundo altamente competitivo.

“(…) mais do que desenvolver tecnologia, na AlmaScience desenvolvemos tecnologia com propósito e com tempo contado – no bom sentido”.

Em apenas alguns anos, já conseguiram reunir nove associados de peso no vosso ecossistema. O que é que distingue a AlmaScience de outros laboratórios de inovação?

A resposta é simples: somos um parceiro estratégico e não um fornecedor passivo. Entregamos inovação científica com foco total em resultados de negócio. Trabalhamos de forma muito próxima com os nossos parceiros, conhecemos as suas necessidades e por isso desenvolvemos soluções concretas para as necessidades reais de forma ágil e objetiva. Isto só é possível com uma equipa altamente qualificada, com especialistas em várias áreas de especialização científica – incluindo química, tecnologia de papel e impressão, ciência dos materiais e eletrónica –, quer em desenvolvimento de negócios, o que nos permite responder a desafios técnicos e operacionais com uma abordagem integrada.

Temos orgulho em afirmar que atuamos como um laboratório de inovação interno à empresa, com flexibilidade, sentido de urgência e alinhamento com os objetivos estratégicos de cada parceiro. Outro fator diferenciador é o nosso compromisso com a sustentabilidade, apoiado numa abordagem holística a que chamamos de “Vida Útil Apropriada”. Isto é, em vez de seguir a lógica tradicional de “quanto mais durável, melhor”, trabalhamos com a premissa de que a tecnologia deve durar exatamente o tempo que for útil. Isto é particularmente relevante em áreas como a eletrónica, onde o excesso de durabilidade muitas vezes significa mais resíduos, mais custos e mais impacto ambiental.

Por isso, mais do que desenvolver tecnologia, na AlmaScience desenvolvemos tecnologia com propósito e com tempo contado – no bom sentido. Uma tecnologia que respeita o ciclo de vida dos produtos, evita desperdício e é pensada para encaixar num futuro circular. Isso é o que nos torna verdadeiramente diferentes.

A AlmaScience tem vindo a desenvolver soluções que respondem a necessidades muito concretas do mercado. Quais destacaria como os maiores marcos até agora?

São vários os projetos que temos em curso, quer a nível nacional, quer internacional, mas destacaria três que refletem muito bem o posicionamento da AlmaScience como um centro de inovação colaborativo com impacto real. O PaperWeight AI que são sensores de papel para prateleiras inteligentes em retalho. A PaperWeight AI é a primeira spin-off da AlmaScience e a primeira spin-off originada por um CoLab nacional. Neste momento tem projetos-piloto a decorrer e/ou a iniciar em breve com diversos retalhistas em Portugal e no estrangeiro.

O PetriTag é um sensor biodegradável integrado em embalagens para deteção precoce de contaminação bacteriana. E o GELA que é um rótulo de arrefecimento rápido à base de hidrogel celulósico. Acelera significativamente o processo de arrefecimento, de modo que uma garrafa de cerveja fica fria em poucos minutos. O projeto piloto está em curso com um grande produtor de bebidas nacional.

“(…) mais do que acelerar a adoção da solução pelo mercado, é fundamental para nós demonstrar aos nossos potenciais parceiros que vamos além da investigação e da prova de conceito“.

A vossa tecnologia PaperWeight AI acabou de ser distinguida com o Prémio Nacional de Inovação. Que significado tem este reconhecimento e de que forma pode acelerar a adoção da solução pelo mercado?

Este reconhecimento é importantíssimo para validar para o exterior aquilo que na AlmaScience não temos qualquer dúvida: que a inovação pode ser economicamente sustentável e que é na simplicidade que muitas vezes reside a diferença. A PaperWeight AI é exemplo disto mesmo. Contudo, mais do que acelerar a adoção da solução pelo mercado, é fundamental para nós demonstrar aos nossos potenciais parceiros que vamos além da investigação e da prova de conceito: a nossa equipa, composta pelos melhores cientistas e especialistas em desenvolvimento de produtos e desenvolvimento de negócio, cria conceitos tecnológicos inovadores e transforma-os em produtos e soluções comercialmente viáveis.

Como é que se dá, na prática, esta transição rápida da inovação laboratorial para o impacto comercial? Quais são os maiores desafios nesse processo?

Somos um laboratório de inovação aplicada. Ou seja, tudo o que desenvolvemos é para ser usado. Por isso, para nós, é tão importante trabalhar com foco na aplicabilidade e escalabilidade industrial desde a fase de conceção. Ou seja, quando chegamos à fase da implementação, estamos 100% preparados para o fazer. Em termos de desafios, diria que o maior passa pelo investimento necessário durante as diferentes fases do processo em si.

Criaram o conceito de Ecossistema de Inovação Sustentável. Pode explicar-nos como funciona este modelo de codesenvolvimento e qual tem sido a reação dos parceiros e líderes de mercado?

O nosso Ecossistema de Inovação Sustentável é uma resposta direta a um problema que identificámos no mercado: a distância entre a investigação de ponta e as necessidades reais da indústria. O nosso modelo funciona de forma muito pragmática. Começamos sempre com um workshop de inovação com cada novo associado, onde mapeamos os seus desafios estratégicos e oportunidades de negócio. A partir daí, construímos uma agenda de inovação e um roadmap de I&D completamente personalizados. Isto não é consultoria teórica – é o início de um processo de cocriação ativo.

O que torna este ecossistema único é a sinergia entre os diferentes atores. Os nossos nove associados – que incluem empresas como a The Navigator Company, a Imprensa Nacional-Casa da Moeda ou a FIRMO e associados de natureza académica e de investigação como a Fraunhofer Portugal e a Universidade Nova de Lisboa – trabalham connosco e entre si, partilhando conhecimento, desafios e recursos. Cada associado contribui com a sua perspetiva de mercado, investimento e acesso a cadeias de valor específicas.

Na prática, oferecemos três níveis de adesão, adaptados às necessidades de cada parceiro. Os associados podem converter o seu investimento – que é elegível ao abrigo do SIFIDE – em horas de desenvolvimento tecnológico com a nossa equipa. Mais importante ainda: podem obter direitos comerciais sobre as tecnologias desenvolvidas e direitos preferenciais na criação de spin-offs.

“Os investigadores envolvidos nos nossos projetos não estão isolados em laboratórios a perseguir publicações (…)”.

Que papel têm as universidades e centros de investigação neste ecossistema? 

As universidades e centros de investigação são pilares fundamentais do ecossistema, mas não da forma tradicional. Não estamos a falar de projetos académicos com objetivos puramente científicos. Estamos a falar de investigação aplicada, orientada para resolver problemas comerciais reais. A Universidade Nova de Lisboa e o Fraunhofer Portugal, por exemplo, trazem excelência científica, acesso a equipamentos de ponta e uma rede internacional de conhecimento. Depois procuramos trabalhar esse conhecimento e capacidades dentro de uma lógica empresarial: prazos definidos, entregas mensuráveis, foco no mercado.

Esta abordagem quebra as barreiras habituais entre academia e indústria. Os investigadores envolvidos nos nossos projetos não estão isolados em laboratórios a perseguir publicações – estão integrados em equipas multidisciplinares que incluem especialistas em produto, negócio e desenvolvimento industrial. Isto acelera drasticamente a transferência de conhecimento.

E como é que o setor privado responde a este tipo de abordagem colaborativa?

Quanto ao setor privado, a resposta tem sido de genuíno entusiasmo, especialmente por parte de empresas que enfrentam pressão crescente para inovar de forma sustentável, mas não têm capacidade interna para o fazer. O que oferecemos é algo que muitas organizações não conseguem construir sozinhas: um laboratório de inovação ágil, com competências científicas profundas e uma rede colaborativa que multiplica oportunidades.

As empresas valorizam particularmente três aspetos: primeiro, a possibilidade de aceder a tecnologias disruptivas antes da concorrência, através dos direitos preferenciais; segundo, a partilha de risco – o investimento é distribuído e os custos de falha são menores; terceiro, o acesso a uma comunidade de prática, onde podem trocar experiências com outros líderes de mercado em workshops, masterclasses e eventos executivos.

Acredita que o país pode ter um papel de liderança na inovação sustentável a nível global?

Portugal tem vantagens competitivas naturais para liderar nesta área. Primeiro, temos uma base florestal extraordinária. Somos um dos maiores produtores mundiais de pasta de celulose e papel, com uma indústria madura, tecnologicamente avançada e já comprometida com práticas sustentáveis. Isto dá-nos uma matéria-prima renovável abundante e conhecimento profundo sobre como transformá-la. Ainda na mesma base, um dos outros materiais naturais que estamos a explorar é a cortiça e há outros que começamos a explorar. Quando falamos de substituir plásticos ou eletrónica convencional por soluções à base de celulose, não estamos a importar tecnologia – estamos a valorizar um recurso nacional estratégico.

Segundo, temos um ecossistema científico de qualidade reconhecida internacionalmente. As nossas universidades e centros de investigação – muitos deles parceiros da AlmaScience – produzem ciência de primeiro nível em áreas como química, ciência dos materiais ou engenharia. O problema nunca foi falta de talento ou conhecimento; foi a dificuldade em traduzir essa excelência científica em valor económico. Mas isso está a mudar. Estruturas como os CoLabs, as Agendas Mobilizadoras financiadas pelo PRR e organizações como a AlmaScience estão finalmente a construir as pontes necessárias entre laboratório e mercado.

Terceiro, temos dimensão e agilidade ideais para testar e validar soluções. Portugal não é pequeno demais para ser irrelevante, nem grande demais para ser inflexível. Portugal é o laboratório perfeito para pilotos industriais: conseguimos implementar projetos-piloto em setores inteiros – do retalho à saúde, da logística à alimentação – de forma rápida e controlada, antes de escalar para mercados maiores. As Agendas Mobilizadoras em que participamos – como a PT Smart Retail, Embalagem do Futuro ou From Fossil to Forest – são exemplos concretos de como o país está a organizar-se em consórcios estratégicos para liderar transições setoriais.

Mas há também desafios. A inovação sustentável exige mudanças profundas em cadeias de valor globais, modelos de negócio estabelecidos e até comportamentos de consumo. Isto requer não apenas tecnologia, mas também visão política, coragem empresarial e coordenação entre setores. Portugal tem demonstrado essa capacidade de coordenação. O facto de termos conseguido mobilizar empresas, universidades e Estado em torno de agendas como a bioeconomia circular ou a digitalização sustentável do retalho mostra que existe vontade política e alinhamento estratégico. Mas é preciso ir mais longe.

“Para que Portugal se afirme verdadeiramente como líder europeu em inovação sustentável, precisamos de ação política e investimento estratégico”.

Que políticas ou investimentos considera essenciais para reforçar esta posição de liderança?

Para que Portugal se afirme verdadeiramente como líder europeu em inovação sustentável, precisamos de ação política e investimento estratégico. Precisamos de financiamento focado em scale-up. Temos programas excelentes para investigação fundamental e para apoio a start-ups nas fases iniciais. Mas existe um “vale da morte” no meio: tecnologias validadas em laboratório que não conseguem chegar ao mercado por falta de capital para demonstrações industriais, certificações ou linhas-piloto. É aqui que muita inovação portuguesa morre. Precisamos de instrumentos específicos, como financiamento ou incentivos fiscais reforçados para empresas que invistam em scale-up de tecnologias verdes, que permitam atravessar esta fase crítica.

Precisamos de mobilidade e captação de talento internacional. Portugal tem excelentes cientistas, mas para competir ao mais alto nível precisa de atrair e reter talento global. Isto exige condições competitivas: salários dignos para investigadores, vistos facilitados para profissionais altamente qualificados, benefícios fiscais para especialistas estrangeiros em áreas estratégicas.

Finalmente, há uma dimensão cultural. Precisamos de celebrar e comunicar melhor os sucessos da ciência portuguesa aplicada. Quando criamos a primeira spin-off originada por um CoLab nacional, a PaperWeight AI, isso deveria ser notícia de primeira página, não uma nota de rodapé. Construir liderança passa também por criar narrativas inspiradoras que atraiam investimento, talento e atenção internacional.

Numa altura em que a sustentabilidade é palavra de ordem, o que é que ainda falta mudar para que soluções como as da AlmaScience possam escalar mais rapidamente?

A sustentabilidade tornou-se palavra de ordem, mas existe uma enorme lacuna entre o discurso e a ação concreta. Identifico três obstáculos principais. O primeiro é o foco no curto prazo e nos modelos de negócio estabelecidos por parte de algumas empresas. Um dos nossos princípios de abordagem à inovação é desenharmos soluções que possam ser cost-effective, o que implica procurar sempre o mínimo de impacto nos processos produtivos e cadeias de abastecimento, competindo, dentro do possível, com soluções concorrentes não sustentáveis.

No entanto, isso nem sempre é possível e, na maioria das vezes, precisamente por ainda não haver escala, há algum impacto em termos de custo. Ora, se o diferencial for reduzido – que é o que pretendemos – a adoção destas tecnologias, podendo implicar um custo adicional imediato, poderá vir a traduzir-se numa vantagem competitiva real das empresas que as adotarem a médio prazo. E  mesmo no curto prazo, se bem comunicado, poderá haver espaço para compensar esse custo com um ajuste no preço. O problema é que isto implica maior assunção de risco por parte dos conselhos de administração das empresas, atitude que demora tempo a mudar.

O segundo obstáculo é a ausência de regulação que nivele o campo de jogo. Hoje, produtos altamente poluentes competem em pé de igualdade com soluções sustentáveis, porque as externalidades ambientais não estão devidamente contabilizadas. Uma etiqueta RFID convencional, com chip de silício, antena metálica e por vezes ainda uma bateria, custa muito mais que uma etiqueta impressa biodegradável, mas o seu custo real, incluindo o lixo eletrónico gerado, é ainda maior. Precisamos de legislação que penalize o impacto ambiental negativo e incentive alternativas verdes, criando vantagem competitiva para quem inova de forma responsável.

O terceiro problema é cultural: o mito da durabilidade eterna. Fomos condicionados a pensar que “quanto mais durável, melhor”. Mas isto é um erro quando falamos de tecnologia com vida útil curta e previsível. Um sensor numa embalagem de peixe não precisa funcionar durante anos – precisa funcionar perfeitamente durante o transporte e depois desaparecer sem deixar rasto. O nosso conceito de “Vida Útil Apropriada” ainda não é amplamente compreendido. Educar o mercado e os consumidores sobre economia circular real, e não apenas reciclagem “cosmética”, é fundamental.

Para acelerar a escala, precisamos também de demonstrações visíveis de sucesso. Quando um grande retalhista europeu adotar o PaperWeight AI em centenas de lojas e demonstrar ROI claro, isso abrirá portas para toda a indústria. Os early adopters que assumem o risco hoje serão os líderes de amanhã – mas é preciso incentivá-los e protegê-los durante essa fase pioneira.

Qual é o futuro que imagina para a AlmaScience nos próximos cinco a 10 anos?

Nos próximos cinco a 10 anos, vejo a AlmaScience consolidada como uma referência europeia em inovação sustentável aplicada – um modelo de como transformar ciência em impacto económico e ambiental. Imagino um ecossistema expandido, com mais empresas associadas de diversos setores e geografias, e um portefólio robusto de spin-offs bem-sucedidas que provam a viabilidade comercial das nossas tecnologias.

Vejo-nos também a exportar conhecimento e metodologia – não apenas tecnologias, mas o próprio modelo de colaboração que criámos. Queremos que outras regiões e países olhem para a AlmaScience como exemplo de como articular academia, indústria e investimento em torno de objetivos comuns de sustentabilidade. E, internamente, imagino uma organização mais madura, com capacidade financeira para assumir projetos ainda mais ambiciosos e com impacto mensurável na redução da pegada ambiental de indústrias inteiras.

O objetivo último é simples, mas transformador: que daqui a 10 anos, quando alguém pensar em tecnologia sustentável de próxima geração desenvolvida na Europa, pense imediatamente na AlmaScience e no ecossistema que construímos em Portugal.

“O futuro é colaborativo, é sustentável, e pode ser português. Está nas nossas mãos fazê-lo acontecer”.

Que mensagem gostaria de deixar aos empreendedores, investigadores e empresas que acreditam que a inovação sustentável pode transformar a economia portuguesa?

A inovação sustentável não é apenas uma necessidade ambiental ou uma obrigação moral – é uma oportunidade económica extraordinária que Portugal não pode desperdiçar. Estamos num momento único em que os mercados globais procuram desesperadamente alternativas sustentáveis, e Portugal tem os recursos, o talento e o conhecimento para se posicionar na vanguarda desta transição.

Aos investigadores, digo: o vosso trabalho tem valor comercial real. Não tenham receio de sair da zona de conforto académica e procurar parceiros que possam transformar a vossa investigação em produtos e soluções que mudem indústrias. Aos empreendedores, digo: apostem em deep tech e greentech. Sim, os ciclos são mais longos e o risco é maior, mas o potencial de impacto e retorno é incomparavelmente superior. E às empresas, digo: a sustentabilidade não é um custo, é um investimento estratégico na vossa competitividade futura.

Mas acima de tudo, a mensagem é de colaboração. Sozinhos, investigadores publicam papers, empreendedores lutam por financiamento, e empresas compram tecnologia no estrangeiro. Juntos, podemos criar um ecossistema que coloca Portugal no mapa global da inovação sustentável, gerando prosperidade económica, empregos qualificados e, simultaneamente, contribuindo para um planeta mais saudável. O futuro é colaborativo, é sustentável, e pode ser português. Está nas nossas mãos fazê-lo acontecer.

Respostas rápidas:
Maior risco: Acreditar que seria possível criar um modelo de inovação verdadeiramente diferente num ecossistema ainda muito preso a lógicas tradicionais de I&D.
Maior erro: Subestimar inicialmente o tempo necessário para educar o mercado sobre o valor real da sustentabilidade além do discurso.
Maior lição: Que a inovação de impacto só acontece quando conseguimos falar simultaneamente a linguagem da ciência e a linguagem dos negócios: nenhuma das duas é suficiente por si só.
Maior conquista: Ver a primeira spin-off da AlmaScience, a PaperWeight AI, a testar tecnologia em ambientes de retalho reais, provando que é possível transformar investigação portuguesa em soluções comerciais competitivas a nível internacional.

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