Opinião

Reserva Federal dos Estados Unidos da América corta as taxas pela primeira vez em 2025!

Paulo Doce de Moura, Investment Advisor do Banco Carregosa

Pela primeira vez este ano, a Reserva Federal dos EUA inverteu o rumo ao retomar o ciclo de cortes de taxas na reunião de setembro, reduzindo a taxa de referência em 25 pontos base, para um intervalo entre 4% e 4,25%, após a ter mantido inalterada desde dezembro.

Apesar da inflação persistente, as preocupações com o mercado laboral americano motivaram uma votação quase unânime. Em decisões anteriores, a inflação dominava o debate. Hoje, os riscos ligados ao mercado de trabalho tornaram-se o principal fator de prioridade.

O corte reflete os crescentes sinais de desaceleração económica e enfraquecimento do mercado laboral. O crescimento do emprego abrandou claramente e o desemprego aumentou ligeiramente. No entanto, com a inflação ainda preocupante, especialmente devido ao impacto das tarifas, o rumo da Reserva Federal norte americana permanece delicado. A flexibilização futura seguirá provavelmente um caminho cauteloso.

O corte é um sinal claro de que Jerome Powell está a dar prioridade ao mercado laboral em detrimento da inflação. A Reserva federal norte americana terá agora de equilibrar o seu duplo mandato num contexto de enfraquecimento do mercado de trabalho e inflação persistente.

As fortes revisões em baixa dos dados de emprego, destacadas por Powell, justificaram o corte, reconheceu o aumento dos riscos para o emprego e decidiu agir em conformidade.

Perspetiva-se mais dois cortes este ano, de 25 pontos base em outubro e dezembro, mas Jerome Powell minimizou esse sinal. As revisões das projeções económicas, com aumento da inflação e do PIB, e queda do desemprego, resultam ainda em algumas incertezas, com mais dois em janeiro e março de 2026, quando a Reserva Federal fará um novo ponto de situação sobre o tema, mas a mensagem da Reserva Federal continua a ser de prudência, não de uma política fortemente expansionista.

A política monetária enfrenta hoje um contexto difícil, condicionado por políticas migratórias mais restritivas, automação e choques de oferta provocados por tarifas comerciais. O corte visa equilibrar o apoio ao crescimento e ao emprego com a credibilidade na luta contra a inflação.

A questão de fundo será saber, se os ganhos de produtividade provenientes da inteligência artificial e da automação conseguirão compensar os choques na oferta de mão de obra e impulsionar o crescimento. A política fiscal de 2026 poderá dar suporte adicional.

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Paulo Doce de Moura

Paulo Doce de Moura

Paulo Doce de Moura exerce funções no Banco Carregosa e foi diretor do BNP Paribas Personal Finance. Estudou Relações Internacionais-Económicas e Políticas, na Universidade do Minho e Direção Geral de Empresas no Programa Avançado de Gestão para Executivos na Universidade Católica Portuguesa. Foi presidente de Direção da AIESEC (Association Internationale des Étudiants en Sciences Économiques et Commercialles) na Universidade do Minho, Coordenador Distrital Economia, Trabalho e Inovação no Conselho Estratégico Nacional e membro da Assembleia de Freguesia do Lumiar. Escreveu... Ler Mais..

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