Opinião
Portugal, terra para empreender?
Portugal tem vindo a consolidar-se como um dos países mais atrativos da Europa para viver e trabalhar. Segurança, qualidade de vida, acesso à União Europeia e estabilidade do sistema político são vantagens que têm sido promovidas com sucesso junto de talento e capital internacionais.
Mas há uma diferença fundamental entre ser um bom lugar para viver e ser um bom lugar para empreender — e essa diferença continua a não estar refletida nas políticas públicas.
Ao longo das últimas décadas, o país criou vários instrumentos com impacto positivo: o Startup Visa, o estatuto de residente não habitual, programas de incentivo à inovação, apoios à criação de emprego e medidas de captação de investimento estrangeiro. Algumas cidades, como Lisboa, Porto ou Braga, desenvolveram ecossistemas empreendedores ativos, com eventos, incubadoras e redes internacionais. Mas apesar deste dinamismo, Portugal continua sem uma estratégia coerente e estruturada para atrair, fixar e potenciar empreendedores, sejam eles nacionais ou estrangeiros.
A realidade é que quem decide criar uma empresa em Portugal — vindo de fora ou cá de dentro — depara-se, ainda, com barreiras complexas. Uma fiscalidade pouco competitiva, burocracia lenta e opaca, dificuldades no acesso à habitação e, muitas vezes, um ambiente que ainda olha o risco com desconfiança. Para os jovens empreendedores portugueses somam-se obstáculos adicionais: acesso restrito a capital de risco em fase inicial, ausência de benefícios fiscais ao reinvestimento e uma cultura institucional que, apesar do discurso, continua pouco amiga da inovação.
Portugal tem condições únicas para atrair talento e empresas internacionais, e deve fazê-lo. Mas não basta atrair — é essencial integrar. A presença de multinacionais tecnológicas, fundos globais e start-ups estrangeiras pode ser uma alavanca de crescimento para o ecossistema nacional, se — e só se — existirem pontes entre quem chega e quem já cá está. Para que tal suceda, proximidade, colaboração, partilha de conhecimento, redes de fornecimento e projetos conjuntos são essenciais. Sem isso, corremos o risco de construir dois mundos paralelos: o ecossistema internacional e o nacional, que coexistem, mas não se cruzam.
É esse cruzamento que devemos promover: entre talento local e internacional, entre pequenas start-ups e grandes players, entre quem começa e quem já tem escala. E para que isso aconteça é preciso um novo olhar sobre a política económica.
França oferece um bom exemplo com o Jeune Entreprise Innovante, que reduz a carga fiscal para empresas inovadoras nos primeiros anos. A Estónia é referência em simplicidade e agilidade. A Irlanda criou um ambiente fiscal e regulatório competitivo para a economia digital. Portugal, por seu lado, mantém-se num limbo: com medidas interessantes, mas dispersas e insuficientes para quem quer criar valor com ambição global.
Precisamos de um pacote nacional para empreender, que combine simplificação administrativa real, incentivos fiscais ajustados à lógica de crescimento, acesso à habitação, vistos céleres e estabilidade regulatória. E precisamos – muito – de uma nova cultura institucional, onde empreender não seja apenas tolerado, mas sim incentivado, valorizado e celebrado.
Portugal tem todas as condições de base para ser o melhor país da Europa para empreender: talento, estabilidade, localização, qualidade de vida e ambição. Mas para isso acontecer, tem de deixar de tratar o empreendedorismo como um apêndice de outras políticas e passar a tratá-lo como uma prioridade estratégica nacional.
Porque ser um bom lugar para viver é importante, mas ser um grande lugar para empreender é decisivo.
* Associação Nacional de Jovens Empresários








