47% dos gestores em início de funções não têm tempo para apoiar as suas equipas

89% dos gestores que assumem pela primeira vez um cargo de gestão afirmam sentir-se bem no seu papel. Portugal apresenta o valor mais baixo dos 10 países analisados, segundo um estudo internacional do Grupo Cegos.

O Grupo Cegos, representado pela Cegoc em Portugal, lançou um novo estudo internacional dedicado aos gestores em início de funções – colaboradores que assumem responsabilidades de gestão pela primeira vez.

Realizado em março de 2025 em 10 países da Europa, América Latina e Ásia, “o estudo dá voz àqueles que assumiram uma função de gestão nos últimos dois anos, bem como aos diretores de recursos humanos (DRH), para melhor compreender as respetivas expetativas relativamente ao papel dos novos gestores e às competências que se espera que dominem”, explica a Cegoc em comunicado.

Segundo o estudo, cerca de 42% dos DRH globais referem dificuldades no recrutamento ou na identificação de novos gestores. Portugal é o país dos 10 com o valor mais elevado (57%).

O principal desafio reportado pelos DRH na deteção de perfis adequados reside na carência de competências comportamentais para essas funções (68%). Em Portugal esta convicção desce para 57% (a 2.ª percentagem mais baixa).

Para além disso, segundo os DRH, 36% dos colaboradores identificados não desejaram assumir um cargo de gestão (Portugal é execeção, com apenas 8%, o valor mais reduzido). Por outro lado, a maioria (69%) dos gestores em início de funções afirma ter manifestado ativamente o desejo de assumir esse cargo. Portugal apresenta uma cifra semelhante (68%).

A promoção interna continua a ser a via mais comum para a ascensão a gestor, preferida por 55% dos DRH (57% em Portugal).

Os DRH inquiridos dão igual importância às competências interpessoais e relacionais (50%) e às competências técnicas (também 50%) quando promovem um colaborador a gestor. Em Portugal, as competências humanas são ainda mais valorizadas (62%) e as competências técnicas são apenas o 3.º fator mais importante.

Quando questionados sobre o que os atraía para a função de gestores, os próprios citaram duas razões principais: a oportunidade de obter uma melhor remuneração (37% globalmente) e a capacidade de resolver problemas ou fornecer soluções práticas nas operações do dia a dia (também 37%). Em Portugal, os motivos mais apontados foram o melhor salário (43%), mas também o horizonte de gerir o desempenho da empresa e contribuir diretamente para o sucesso da organização (37%).

A maioria dos gestores em início de funções declara ter recebido apoio específico quando assumiu as suas novas responsabilidades, através de medidas como formação, mentoring ou coaching (74% nos 10 países, 68% em Portugal). A nível global, 56% destes novos gestores afirmam ter recebido formação antes de assumir as suas funções (igual valor em Portugal), abrangendo áreas como a gestão, a liderança e a assertividade.

Os gestores estreantes sentem-se bem apetrechados para enfrentar os desafios inerentes à sua nova função. Nos 10 países, 95% afirmam ter uma visão clara do seu papel (97% em Portugal).

Existe um forte alinhamento entre os novos gestores e os DRH quanto à missão dos primeiros. De uma lista de 14 prioridades para a função, gestores e DRH coincidiram na escolha das três mais importantes: criar uma equipa de elevado desempenho (1.º para os novos gestores, 2.º para os DRH), atingir os objetivos de crescimento/rentabilidade da organização (2.º para os novos gestores, 1.º para DRH) e otimização dos processos de trabalho (3.º para ambos os grupos inquiridos). Em Portugal, as três tarefas prioritárias também foram coincidentes entre gestores e DRH.

Incorporação da IA nas práticas de gestão 

A transição para a inteligência artificial está a ser incorporada nas práticas de gestão, impulsionada tanto pelos DRH como pelos próprios gestores em início de funções, diz o estudo.  Globalmente, 68% dos DRH referem que estão a apoiar os gestores na adoção da IA (48% em Portugal, o valor mais baixo entre os 10 países), enquanto 78% dos novos gestores afirmam ajudar ativamente as suas equipas a familiarizarem-se com estas novas ferramentas (74% em Portugal). De facto, 77% dos gestores em início de funções garantem já ter integrado a IA nas suas próprias práticas de gestão (a mesma percentagem em Portugal).

Os novos gestores revelam ainda um forte nível de empenho relativamente à responsabilidade social. Nos 10 países do estudo, 77% indicam estar ativamente envolvidos (76% em Portugal).

Os gestores em início de funções estão empenhados…mas sob pressão

Estes novos gestores referem sentir-se realizados na sua função (89% na globalidade e 83% em Portugal, o valor mais baixo dos 10 países), podendo agir de acordo com os seus valores (94% no conjunto dos 10 países, 95% em Portugal) e trabalhar num ambiente que promove a cooperação e a realização (90% no global e 88% em Portugal).

No entanto, o conjunto das respostas também permite detetar alguns sinais de alerta relacionados com a pressão e o volume de trabalho crescentes: 67% dos novos gestores reconhecem um aumento constante do seu volume de trabalho (49% em Portugal, o país com o menor valor) e 15% reportam a dificuldade persistente em manter o equilíbrio entre a vida profissional e a vida privada (20% em Portugal) – fator essencial para manter um compromisso a longo prazo num cargo de gestão.

Este contexto tem impacto direto em diversas vertentes da ação dos novos gestores. Por exemplo, na capacidade de investirem plenamente nos aspetos humanos da sua função: 47% afirmam não ter tempo para apoiar as suas equipas em questões de desenvolvimento interpessoal e individual (34% em Portugal, o 2.º valor mais baixo).

Prioridade está nas soft skills 

Liderança e motivação das equipas” está no topo das competências que os gestores em início de funções e os DRH querem ver mais desenvolvidas.

A “comunicação clara e eficaz com a equipa” é a competência apontada em 1.º lugar pelos DRH (38%), aparecendo em 3.º entre os gestores (24%). Em Portugal, surge nos DRH em 4.º lugar (29%) e nos gestores apenas no 7.º posto (21%). A 2.ª competência mais indicada pelos novos gestores (e 3.ª entre os DRH) é a “tomada de decisões rápidas e estratégicas”, com 25% (19% e 9.ª preferência em Portugal).

Mais de metade (51%) dos novos gestores dedica-se à aprendizagem autónoma através de recursos online (valor igual em Portugal).

Um número considerável (45%) participa em cursos de formação especificamente dedicados à sua função de gestão (37% em Portugal), o que demonstra a sua vontade de adequar as competências técnicas e comportamentais às novas responsabilidades.

Os DRH, por seu lado, estão empenhados em apoiar e formar estes novos gestores: 53% afirmam ter planos de formação estruturados, incluindo um percurso de gestão claro para cada novo gestor (43% em Portugal).

O coaching individual tem também um papel representativo: 36% dos DRH disponibilizam-no (29% em Portugal), revelando-se um apoio personalizado importante durante os primeiros meses no cargo.

Numa escala de 0 a 10, os novos gestores avaliam-se em 7,93 (7,68 em Portugal). Os DRH atribuem-lhes 7,24 (6,81 em Portugal).

 

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